Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Fabricação e venda de andadores para bebês podem estar com os dias contados no Brasil

Amanda Milléo
23/11/2018 11:04
Thumbnail

Projeto prevê que andadores infantis sejam proibidos de serem fabricados, vendidos e usados no Brasil, devido ao risco de acidentes com as crianças (Foto: Bigstock)

Andadores para bebês poderão ser proibidos no Brasil, conforme prevê projeto aprovado nesta quinta (22) pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. A proposta indica a proibição tanto na fabricação quanto na venda e no uso deste tipo de equipamento, por conta do risco elevado de acidentes e a falta de evidências dos benefícios.
Além de não contribuir para que a criança caminhe mais rapidamente, o andador convencional (onde a criança é “encaixada”) pode atrapalhar o desenvolvimento motor do bebê:

“Há trabalhos que indicam que as crianças com andadores andam mais tarde do que em relação às crianças que não usam os andadores. E isso é justificável, porque a criança, para começar a caminhar, precisa desenvolver a marcha, a coordenação motora, e o andador evita isso”, explica Edilson Forlin, médico ortopedista pediatra do hospital Pequeno Príncipe e professor da UFPR. 

Com relação à deformidades, Forlin explica que não está confirmada a influência dos andadores em algum problema do tipo. No entanto, a dependência que as crianças criam com relação ao objeto pode atrapalhar o caminhar natural.
De acordo com Jamil Soni, médico ortopedista pediátrico e professor de Ortopedia da PUCPR, “a criança cria o hábito de andar só com o andador, que dá a sensação de segurança para ela, e isso pode deixá-la mais ‘preguiçosa’ para caminhar. Mas não necessariamente vá atrasar o desenvolvimento. Os pais precisam lembrar que a maturidade neurológica da criança vem de forma espontânea, fisiológica, não precisam adiantar nada.”

“O processo de caminhar é fisiológico e cada fase da criança indica uma maturidade neurológica. Primeiro ela sustenta a cabeça, depois senta, depois eventualmente começa a engatinhar e o processo a seguir é o caminhar, cujo tempo é variável”, explica Jamil Soni, médico ortopedista pediátrico. 

Idade certa

Não existe uma idade correta para as crianças se levantarem e começarem a caminhar. Em geral, próximo do primeiro ano de idade, os bebês dão alguns indícios que vão dar os primeiros passos:
“Tem muita variação. Crianças que andam com um ano e três meses, um ano e quatro meses. Os pais precisam ficar cientes que existe essa variação. Se a criança tem um ano e quatro meses e não anda, é normal. Assim como a criança que caminha com 10 meses”, reforça Edilson Forlin, ortopedista pediatra.

Quais andadores são proibidos?

Os andadores circulares, em que a criança é “vestida” ao equipamento são os mais conhecidos e alertados pelos médicos, porque tentam acelerar um processo fisiológico que ela nem sempre está preparada.
“O andador convencional mantém a criança em pé, mas isso não significa que os membros inferiores estejam fortes o suficiente para fazê-la andar. A criança é ‘sustentada’ pelo andador e, como ela começa a ver o mundo de uma posição nova, isso desperta a curiosidade e ela se projeta para frente. Como as crianças nessa fase têm uma cabeça mais pesada, ocorrem as quedas”, explica Lygia Coimbra de Manuel Petrini, médica pediatra e coordenadora da UTI Pediátrica do Hospital VITA Curitiba.
No caso dos andadores que simulam um carrinho de empurrar, não há uma associação maior com a queda, conforme explica Petrini. “Eles nem recebem o nome de andador efetivamente, e esses carrinhos só funcionam se a criança conseguir se levantar sozinha, trocar os próprios passos. O risco de queda é normal ao processo da criança que está começando a andar. Mas aquele andador tipo um funil, um ofurô vazado, esse tem um risco de queda grande associado”, reforça a pediatra.
Uso dos andadores atrapalha o caminhar natural da criança, e é desaconselhado pelos médicos pediatras e ortopedistas (Foto: Bigstock)
Uso dos andadores atrapalha o caminhar natural da criança, e é desaconselhado pelos médicos pediatras e ortopedistas (Foto: Bigstock)

Riscos à saúde 

Quando está no andador, a criança tem mais liberdade para circular pela casa. Se o ambiente não estiver protegido, o risco de que ela entre em contato com substâncias e produtos proibidos é maior. A Academia norte-americana de Pediatria e o médico ortopedista pediatra Jamil Soni alertam para cinco acidentes comuns:
Queda das escadas. Pela falta de controle sobre o andador, a criança pode se envolver em acidentes de queda de nível importantes, como pelas escadas. Esses podem levar a ossos quebrados e diversas lesões.
Queimaduras. A liberdade de circular pela casa, e a maior altura favorecida pelo brinquedo, faz com que a criança alcance cabos de panelas, bocal do fogão, até mesmo tomadas que antes não conseguia alcançar.
Afogamentos. Sem supervisão dos pais, a criança pode cair em uma piscina ou banheira com o andador, aumentando o risco de afogamentos.
Intoxicação. Mesmo que os pais deixem substâncias tóxicas, como produtos de limpeza, em uma altura que a criança não alcance, o andador favorece esse contato. Sem supervisão, a intoxicação é um risco grande.
Choques contra paredes. Sem controle do objeto, a criança pode ganhar uma velocidade muito acelerada e se chocar contra paredes e objetos. Esses acidentes levam a traumas de crânio e face.

“Alguns pais dizem que adotam o andador porque ele possibilita que façam outras coisas, enquanto a criança fica livre. Mas é aí que surgem os acidentes, os descuidos. Eu indico aos pais para não usarem o andador, mas colocar o filho no cercadinho no chão. A criança vai ficar sentada, vai se levantar sozinha e, sem nenhum objeto perigoso perto dela, vai ser mais seguro”, sugere Jamil Soni, médico ortopedista pediátrico. 

Próximos passos do projeto

LEIA TAMBÉM