Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Anvisa aprova mais um remédio para emagrecer. Veja como agem os 4 disponíveis

Amanda Milléo
26/01/2017 14:00
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Duas das substâncias mais vendidas contra a hipertensão estão na mira da Anvisa. Foto: Bigstock.

Com a chegada do Belviq, nome comercial para o princípio ativo cloridrato de lorcasserina hemihidratado, o brasileiro têm agora quatro opções de medicamentos que ajudam na perda de peso, aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O anúncio da aprovação do registro do Belviq foi feito em dezembro do ano passado e a indicação do medicamento é como coadjuvante à dieta e aos exercícios físicos, com o objetivo da redução do peso. O medicamento só poderá ser adquirido com prescrição médica, assim como a sibutramina.
Ao lado da novidade, estão medicamentos mais conhecidos, como os princípios ativos sibutramina, liraglutida e orlistate. Cada um deles têm uma função no organismo e nem todos agem na redução do apetite.
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Confira como cada um desses medicamentos ajudam na perda de peso e quando são indicados, de acordo com informações do médico endocrinologista Henrique Suplicy, professor de endocrinologia da UFPR e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia; e da médica endocrinologista Daniele Tokars Zaninelli, do hospital VITA, além de informações da própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Orlistate (Lipoxen, nome comercial – mas há outros com o mesmo princípio ativo)
Cerca de 30% da gordura que seria absorvida pelo organismo, em cada refeição, é eliminada pelas fezes através do uso do orlistate. Como a molécula de gordura é grande, e precisa ser quebrada para ser absorvida, uma enzima no intestino é responsável por essa função, a lipase. O orlistate inativa essa enzima e 30% da gordura é, então, eliminada. A recomendação dos especialistas é para que o medicamento seja tomado junto com as refeições, todos os dias.
A indicação desta substância, segundo informações da ANVISA, é para tratamentos de longo prazo em pacientes com sobrepeso ou obesidade, incluindo aqueles com fatores de risco associados à obesidade. Com isso, o medicamento promove controle glicêmico adicional, quando usado juntamente com medicamentos antidiabéticos orais e/ou a insulina.
Cloridrato de sibutramina (Biomag, nome comercial – mas há outros com o mesmo princípio ativo)
Existem no cérebro dois centros que estão diretamente ligados às refeições: um que controla a fome e outro que cuida da sensação de saciedade. A sibutramina inibe o centro da fome e também estimula o centro da saciedade, fazendo com que a pessoa queira comer menos, mas se sinta satisfeita ao mesmo tempo. Trata-se de uma cápsula tomada todos os dias, pela manhã, e que terá o efeito durante o dia todo.
A sibutramina é indicada como terapia adjuvante dentro de um programa de gerenciamento de peso para pacientes obesos com um Índice de Massa Corporal (IMC) maior ou igual a 30, segundo a ANVISA.
Liraglutida (Saxenda, nome comercial)
Sempre depois das refeições, o alimento, quando chega ao intestino, estimula a produção de uma substância chamada de GLP-1 (glucagon-like peptide-1). Essa substância é responsável por três tarefas: reduzir a taxa de glicose (apenas quando ela está alta no organismo), dar a sensação de que o estômago está satisfeito e avisar o cérebro para que a pessoa pare de comer. O problema é que essa substância dura cerca de dois minutos apenas, e a sensação de fome pode voltar.
O liraglutida é uma forma de GLP-1, mas com uma ação que dura o dia todo. Trata-se de uma medicação injetável, aplicada na coxa ou no abdome, com uma agulha pequena, como aquelas usadas no tratamento da diabete. Essa era, inclusive, a primeira função do liraglutida: auxiliar no tratamento dos diabéticos. Como os médicos perceberam que favorecia a redução do peso, mas em uma dose maior, foi transferido para o tratamento da perda de peso.
De acordo com informações da ANVISA, este medicamento é indicado a adultos com IMC de 30 ou maior, ou 27 na presença de, pelo menos, uma comorbidade, como disglicemia (pacientes pré-diabéticos ou com diabete tipo 2), hipertensão arterial, dislipidemia ou apneia obstrutiva do sono.
Cloridrato de lorcasserina hemihidratado (Belviq, nome comercial)
Da mesma forma que a sibutramina, o cloridrato de lorcasserina hemihidratado é uma substância que tem ação no centro do cérebro para diminuir a sensação de fome. A aprovação pela Anvisa aconteceu em dezembro de 2016, mas o medicamento ainda não chegou às farmácias.
É indicado a pacientes com o IMC de 30 ou maior, categoria obeso, ou pacientes com sobrepeso e IMC maior ou igual a 27. Neste último caso, é necessária a presença de, pelo menos, uma comorbidade relacionada ao peso, como hipertensão, dislipidemia, doença cardiovascular, diabete tipo 2 controlado com agentes hipoglicemiantes orais, ou apneia do sono, de acordo com informações da ANVISA.

Quanto peso eu vou perder?

A quantidade em quilogramas que os pacientes perdem varia conforme a regularidade da dieta, a frequência dos exercícios físicos e a disciplina em tomar o medicamento. Mesmo que a perda represente de 5% a 10% do peso, que parece ser pouco, essa redução tem grande importância para a saúde.
“Às vezes a pessoa desanima porque não perdeu tudo que gostaria, mas essa redução ajuda na qualidade de vida porque diminui o risco de doenças associadas”, explica Daniele Tokars Zaninelli, médica endocrinologista do hospital VITA.
O tratamento, geralmente, é a longo prazo, podendo durar anos, e a frequência que os medicamentos devem ser tomados deve ser diária. “Se for irregular, a perda de peso será menor que a esperada. Pessoas que se tratam sozinhas, sem a orientação médica, não fazem o uso adequado e sentem a frustração de que não reduziram o peso. O acompanhamento médico deve ser feito de uma a duas vezes por mês, pelo menos, e não uma vez a cada dois meses”, explica a médica.

Exercícios físicos e dieta são tão importantes quanto o remédio

A função principal dos medicamentos não é a redução do peso em si, mas ajudar a pessoa a adotar mudanças de hábitos importantes que levarão à perda de peso – como incluir uma rotina de exercícios físicos e melhorar a alimentação.

“Esses medicamentos não são milagrosos. O que emagrece é dieta e exercício. A medicação diminui a fome e facilita que a pessoa faça a dieta. Mas o remédio, em si, não emagrece. Você pode tomar todos eles, mas se não fizer dieta e exercício, não adianta”, reforça  Henrique Suplicy, médico endocrinologista, professor de endocrinologia da UFPR e membro da diretoria da SBEM.

Indicações e contraindicações 
As diretrizes das entidades médicas brasileiras são claras: os medicamentos que ajudam na perda de peso só podem ser usados quando o tratamento clínico (alimentação saudável e exercícios físicos) não funcionar sozinho. Se for o caso, o tratamento medicamentoso pode ser prescrito a pacientes com o Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30 ou acima de 25, desde que tenham comorbidades associadas, como diabetes, colesterol alto, problemas articulares, entre outros.
Uma pessoa com IMC acima de 30 seria, por exemplo, um homem de 1,80 m pesando 110 kg. Ou uma mulher de 1,60 m pesando 80 kg. O índice é calculado dividindo o valor do peso pela altura, ao quadrado.
“Procuramos evitar usar o medicamento em pessoas idosas, que podem ter algum problema de coração, e jovens com apenas dois quilogramas de excesso. Não tem sentido, porque esse paciente não precisa. Se você tomar o remédio, você perde esses dois quilogramas sem fazer nenhum esforço”, explica o médico endocrinologista.
Cirurgia Bariátrica 
Pacientes que passaram por cirurgia bariátrica, ou cirurgia de redução de estômago, podem fazer uso do medicamento para o controle do peso. “O erro comum é achar que a cirurgia resolve tudo. O medicamento previne o ganho de peso”, explica a médica do VITA.
Só com receita médica?
As únicas medicações que precisam de prescrição médica são a sibutramina e, quando chegar às farmácias, o lorcasserina (Belviq). Tanto o orlistate, quanto o liraglutida, podem ser comprados sem receita, embora essa não seja a recomendação dos especialistas.
“O paciente obeso tem risco para doenças cardíacas. Tomar o medicamento sem acompanhamento médico aumenta esse risco”, reforça Daniele  Zaninelli, médica endocrinologista.
Também não é indicado usar todos os medicamentos de uma só vez. Embora o orlistate possa ser usado associado a outro medicamento para emagrecer, porque o seu mecanismo de ação se dá no intestino, os demais têm ação direta no cérebro e não devem ser tomados juntos.

De acordo com informações da ANVISA, a sibutramina deve ser prescrita apenas para um tratamento de, no máximo, 60 dias e não pode ultrapassar a quantidade de 15 miligramas por dia.