Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Anvisa suspende importação de insumo para remédios contra azia e úlcera

Amanda Milléo
27/09/2019 10:45
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Produzido na Índia, a ranitidina, insumo farmacêutico usado em remédios contra azia e úlceras, teve a importação suspensa pela Anvisa Foto: Bigstock

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu a importação, uso e comercialização de um insumo farmacêutico muito usado em medicamentos contra azia e úlceras gástricas. Trata-se da ranitidina, mais conhecida como a substância ativa cloridrato de ranitidina, fabricada pela Saraca Laboratories Limited, localizada na Índia.
A suspensão se deve à presença de uma impureza, a N-nitrosodimetilamina (NDMA) — substância considerada como potencialmente cancerígena por estudos em animais. De acordo com informações divulgadas pela Anvisa nesta quinta-feira (26), a NDMA é uma substância que pode ser encontrada na água e em alimentos, e em níveis baixos não é esperado nenhum dano à saúde humana.
Nos medicamentos, porém, a quantidade identificada da NDMA foi maior que em alimentos, conforme identificou a agência de regulação de medicamentos norte-americana FDA. Desta forma, não há como saber o real risco dos remédios que contêm tal impureza.
“A ação tem caráter cautelar e preventivo, uma vez que estudos em animais classificam a NDMA como um provável agente cancerígeno humano”, diz a Anvisa em site.

O que fazer?

Aos pacientes que fazem uso da ranitidina, ou cloridrato de ranitidina, a orientação mais adequada é que busquem os médicos que prescreveram a medicação e peçam orientações. Segundo Jackson Rapkiewicz, gerente técnico-científico do Conselho Regional de Farmácia do Paraná (CRF-PR), há outras opções de remédios no mercado que têm a mesma função, como os medicamentos do grupo do omeprazol.

“Existe a classe do omeprazol, que são medicamentos mais usados até que a ranitidina. Antes, a ranitidina era a substância mais usada em casos assim, de azia ou quando a acidez gástrica é muito acentuada. Hoje esse grupo do omeprazol é mais usado. Então, existem opções e as pessoas não ficarão desassistidas”, explica.

Da mesma forma, Rapkiewicz reforça que não são todos os medicamentos com ranitidina que precisam de atenção – apenas aqueles cuja fabricante foi identificado pela Anvisa, a Saraca Laboratories Limited. “O problema não é a ranitidina em si. As pessoas não têm como saber qual medicamento tem esse contaminante, qual é proveniente desse laboratório e qual não é. Mas a substância em si não tem nenhum problema e a Anvisa está agindo preventivamente para evitar que chegue ao mercado brasileiro o insumo contaminado”, diz.

Ranitidina x omeprazol

Ambos os medicamentos são efetivos no combate à azia e úlceras, mas a escolha por um ou outro dependerá do médico e do paciente.
“Algumas pessoas não toleram bem o omeprazol e, para elas, essa outra classe de medicamentos pode ser mais indicada. Depende mesmo da tolerância da pessoa ao medicamento e do quadro clínico. Às vezes a ranitidina é suficiente para resolver o problema e controlar os sintomas, enquanto outras precisam do omeprazol. Hoje, o omeprazol é considerado o melhor tratamento para o excesso de acidez gástrica, embora a ranitidina também seja muito efetiva”, reforça Jackson Rapkiewicz.
Atualmente, portanto, o uso da ranitidina é limitada, conforme reforça Glauco Afonso Morgenstern, médico especialista em cirurgia bariátrica e da equipe do Centro VITA de Tratamento da Obesidade e Diabetes, do hospital VITA, em Curitiba.

“A ranitidina é o medicamento mais antigo usado contra gastrite e úlceras gástricas. E hoje é menos usado, porque o substituto é o omeprazol, o pantoprazol, de uma geração mais recente de medicamentos. Ela é também bem inferior ao omeprazol, e ainda usada na saúde pública pelo custo, que é mais barato”, explica. 

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