Saúde e Bem-Estar

Diego Denck, especial para a Gazeta do Povo

Após bariátrica, homens e mulheres enfrentam “vilões” diferentes na dieta

Diego Denck, especial para a Gazeta do Povo
16/04/2019 17:00
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Segundo relatos, a maior dificuldade das mulheres que se submetem a cirurgias bariátricas é largar os doces Foto: Bigstock

Tem crescido no Brasil a procura por procedimentos bariátricos: entre 2012 e 2017, o número de cirurgias desse tipo aumentou em 46,7%. Muitos desses pacientes não sabem, entretanto, como funciona direito a alimentação após a cirurgia.

“Os primeiros 10 dias são com líquidos coados em peneirinha fina, como caldinho de sopa, suco, leite desnatado, chás e gelatina diet”, explica Magda Rosa Ramos da Cruz, nutricionista na clínica Alcides Branco de cirurgia gástrica.

A nutricionista explica que isso é necessário para que nenhum resíduo alimentar “enrosque” no grampo utilizado na intervenção e comprometa a cirurgia com inflamações.
Após esse período inicial, o paciente pós-bariátrico entra em uma dieta pastosa, que também dura 10 dias. Nela é possível comer alimentos batidos no liquidificador, purês e frutas amassadas, por exemplo.
Após essa fase inicial de cicatrização do estômago, alimentos sólidos podem ser ingeridos. “Frutas em pedacinhos, pão, arroz, carne, mas tudo sem gordura e sem açúcar”, explica Magda.

Gordura e açúcar: os grandes vilões

A gordura e os açúcares são prejudiciais em excesso mesmo para pessoas que não passaram por cirurgias gástricas. Em pacientes operados, essas substâncias não serão digeridas corretamente.

“Eles irão vomitar ou jogar todo o alimento para o intestino sem ter feito a digestão, podendo causar diarreia, gastrite e até úlcera”, alerta Magda.

Outro problema comum é o dumping, que ocorre quando grandes quantidades de alimentos, principalmente os açucarados, chegam ao intestino. “O órgão acaba puxando a água do sangue para digerir o açúcar e a gordura que não foram digeridos no estômago. Isso deixa o sangue mais grosso, fazendo o paciente suar frio, ter taquiarda e queda de pressão”, explica a nutricionista.
Apenas 6 meses após a cirurgia é possível dizer que o paciente está liberado para comer de tudo, incluindo doces e frituras. Ainda assim, a ingestão desses grandes “vilões” deve ser feita com moderação e em quantidades bem pequenas, espalhadas durante a semana.

Risco elevado de alcoolismo

Segundo relatos, a maior dificuldade das mulheres que se submetem a cirurgias bariátricas é largar os doces. Para os homens, o mais complicado é diminuir as bebidas alcoólicas, sendo que estas merecem um capítulo à parte, já que estudos apontam que há um risco maior de intoxicação por alcoolismo em pacientes de bariátrica.

“Bebidas alcoólicas normalmente são fermentadas ou gaseificadas, e, no pós-operatório imediato, isso pode comprometer a cirurgia”, explica o doutor Emerson Wolaniuk, pós-graduado em nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia e responsável técnico do Instituto Qualis. “Além disso, o álcool pode piorar a absorção dos nutrientes e das vitaminas, já comprometida pela alteração da mucosa gastrointestinal”, alerta o médico.

Cerveja é a bebida alcoólica mais consumida no Brasil. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Cerveja é a bebida alcoólica mais consumida no Brasil. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Wolaniuk também explica que estudos apontam uma maior prevalência de transtornos relacionados ao álcool em pacientes que já tinham tendência ao etilismo ou a comportamentos compulsivos.

“O uso do álcool deve ser desencorajado para todo paciente que passou por bariátrica. Uma taça de vinho por semana até pode ser bebida esporadicamente, após 6 meses da cirurgia, mas é fundamental ter uma conversa franca com o seu médico a respeito disso”, pondera o especialista.

A necessidade de suplementos

Os dois especialistas alertam para a necessidade da suplementação vitamínica após a bariátrica. “A cirurgia mais feita no Brasil é o bypass gástrico, que tem desvio do começo do intestino e compromete a absorção dos nutrientes”, explica Magda.
“As principais vitaminas alteradas são as do complexo B, principalmente a B1, a B12 e a B9, e as lipossolúveis, como A, D, E e K”, complementa Wolaniuk.
Outro problema passa a ser o da absorção de proteínas, que, em falta, pode comprometer o sistema imunológico e a construção e manutenção das fibras muscular. “A perda de peso muitas vezes leva à perda de músculos”, detalha o médico. O paciente também pode se sentir mais fraco e menos disposto na falta de nutrientes.
Wolaniuk explica que muitas vezes o paciente de bariátrica não corrige o problema que o levou ao excesso de peso, que é a compulsão alimentar. Em alguns casos, ele pode até mesmo voltar a engodar. “Por isso, ao diminuir drasticamente a quantidade, é preciso investir na qualidade do alimento”, alerta. Já Magda dá o veredito: “O ideal é aproveitar a cirurgia para começar a comer corretamente”.
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