Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Ator Felipe Titto enfarta aos 30 anos. Veja o que pode ser a causa

Amanda Milléo
23/01/2017 16:49
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Felipe Titto esteve internado neste fim de semana por conta de um quadro de infarto (Foto: reprodução Instagram do ator)

Com 30 anos, o ator Felipe Titto deu entrada a um hospital de São Paulo, na manhã do último domingo (22), com fortes dores no peito e formigamento do braço esquerdo. Os sinais indicavam um infarto, que mais tarde foi confirmado pelos exames. No seu perfil na rede social Snapchat, o ator tranquilizou fãs e amigos: “Deu ruim, mas nós é zika!“.
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Embora tenha continuado internado até a manhã desta segunda (23), o ator afirma estar se sentindo melhor. “Eu tive realmente um contratempo, que o pessoal supõe que seja decorrente de estresse ou da dengue, que eu já estava com suspeita”, conta o ator em seu perfil no Instagram.
Enfartar com uma idade jovem não é comum, mas algumas causas podem influenciar e aumentar o risco. Uma das formas mais frequentes de enfarte nessa idade é por espasmo, de acordo com informações do médico cardiologista João Vicente Vitola, diretor de comunicação da Sociedade Paranaense de Cardiologia e diretor geral Quanta Diagnóstico e Terapia. Neste caso, algumas substâncias podem ocasionar espasmos que fazem uma constrição da artéria, levando ao enfarte.
“O tratamento é completamente distinto daquele enfarte causado por um processo aterosclerótico (de entupimento das artérias pelo colesterol/gordura). Você remove os agentes causadores do espasmo e o paciente tem ótima recuperação”, explica o médico cardiologista, que completa: uma dos agentes causadores mais comuns é o uso de drogas, especialmente a cocaína.
Outra razão comum para jovens enfartarem é decorrente de anomalias congênitas – que a pessoa nasce com essas má-formações nas artérias coronárias, ou mesmo a dislipidemia familiar, ou alterações genéticas que levam a uma elevação do colesterol.
E a dengue?
A dengue pode ser, também, uma das causas para um infarto em jovens, por se tratar de uma doença do sangue. Transmitido pelo mosquito Aedes aegipty, o vírus da dengue pode afetar a quebra das células sanguíneas, pode afetar a produção dos eritrócitos (hemácias, ou células vermelhas) e essas condições fazem com que o próprio sangue não leve oxigênio suficiente ao coração.
“Não é só o coração que sofre, os outros tecidos também. mas o coração é o primeiro a sentir isso, porque o consumo do oxigênio basal do coração já é alto. Se eu reduzo a capacidade de carregar oxigênio, ou a capacidade de fluxo, ou mesmo aumento a quantidade de oxigênio que o coração precisa, pode levar a uma isquemia cardíaca e à necrose”, explica o cirurgião cardíaco Fernando Kubrusly, médico do hospital VITA, recém-chegado da residência na Universidade do Texas, nos Estados Unidos.
Estresse também leva ao enfarte, mas depois de alguns anos
Ter hábitos não saudáveis de vida, como sedentarismo, alimentação rica em gordura e carboidratos que levam a um quadro de sobrepeso e obesidade, além de doenças crônicas, como diabetes, podem propiciar o desenvolvimento da doença aterosclerótica. Esta, por sua vez, desencadeia o infarto. Esse processo, no entanto, é lento, e são raros os casos em que jovens enfartem decorrentes dessas causas, segundo o médico cardiologista João Vitola.
“Há uma tendência de pessoas mais jovens terem enfarte, mas não é frequente por esses fatores ou baseado apenas nessas causas. Não há tempo suficiente para desenvolver uma carga importante de aterosclerose, a ponto de ter um enfarte tão cedo”, explica. Incluído nesses fatores de risco que levam a uma doença aterosclerótica está o uso de anabolizantes/esteroides. “Em vez de a pessoa desenvolver a aterosclerose e enfartar com 60 anos, ela enfarta com 30 ou 40”, afirma o médico.
No caso do diabético tipo 1, porém, a situação é diferente. Como o diabete tipo 1 é, geralmente, diagnosticado na infância e tratado com injeção de insulina, e ser um fator de risco para aterosclerose, o paciente jovem diabético tem risco maior para a doença aterosclerótica, e o enfarte, mais cedo.
E se não for enfarte?
Alguns quadros têm sintomas comuns ao enfarte, mas não são, como as arritmias cardíacas. “Isso não é infrequente em jovens. A pessoa sente um mal estar, ela sabe que tem alguma coisa no peito, uma palpitação, sente falta de ar, sufocação e vai a uma sala de emergência, mas é na verdade uma taquicardia“, explica o médico. A taquicardia patológica não tem uma causa externa, mas é um erro da parte elétrica do coração, que pode simular o infarto.
Sintomas iguais
Seja qual for a causa, os sintomas do enfarte são comuns. Veja os principais:
= Dor no peito característica, de forte intensidade;
= Sensação de peso sobre o peito;
= Falta de ar;
= Suador;
= Náusea;
= Palidez da pele
Exames para os jovens
Existe hoje uma avaliação específica para os jovens com risco de enfarte. Diferentemente do idoso, os jovens tendem a ser mais atletas e a ter hábitos de exercícios físicos, sem doenças crônicas, como diabete e hipertensão.
“Se ele não é acompanhado como jovem, normalmente os exames cardiológicos que pedimos não identificam o risco, como o teste de esforço. Eu não consigo colocar o jovem dentro da normalidade onde está. Não sei se ele está dentro da normalidade, ou no limite dessa normalidade”, explica Fernando Kubrusly, cirurgião cardíaco do hospital VITA.
Um dos exames indicados para prever doença coronariana em jovens é o score de cálcio. Trata-se de uma tomografia que capta a quantidade de calcificação da artéria coronária. Essa calcificação é parte do processo de formação da placa de gordura, que levará a uma aterosclerose e a um possível enfarte. “Se o teste de check up dá normal, mas o score de cálcio é alto, esse paciente eu coloco de alto risco e trato ele com medicação otimizada”, explica Kubrusly.
Outros exames comuns para essa identificação precoce são a cintilografia do miocárdio, angiotomografia de coronária e o próprio teste de esforço, realizado em uma esteira. “Outro exame que deve ser sempre avaliado junto é o ecocardiograma, que mostra algumas alterações que nos jovens podem passar despercebidas de outra forma”, diz o cirurgião cardíaco.