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Benzodiazepínicos usados para dormir podem induzir quedas em idosos
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Dormir bem envolve um complexo processo fisiológico cuja coordenação fica a cargo do sistema neurológico.

A geriatra Christiane Machado Santana diz que entre os idosos este processo de sono se altera, e que há uma diminuição de cerca de 25 minutos de sono por década até os 80 anos, quando então se estabiliza. Leia a entrevista:

O perfil do sono muda com a velhice?

O padrão fica diferente, o que não é considerado patológico e não interfere no dia a dia. A eficiência do sono diminui: ele se torna mais fragmentado, suas fases se alternam mais e são mais curtas, principalmente aquelas em que o sono é mais profundo.

O indivíduo desperta mais vezes durante a noite, ocorrem os chamados microdespertares, que tornam o sono mais superficial, sendo que não necessariamente o indivíduo abre os olhos e acorda, apenas volta para o sono leve com mais frequência.

Pode ser por isso que o idoso muitas vezes cochila mais durante o dia ou se queixa de fadiga ou cansaço, mesmo os saudáveis. Idosos que dormem por menos tempo e mesmo que se deitem mais cedo, demoram mais para adormecer.

Então a insônia na terceira idade é considerada normal?

Não, ela é uma situação anormal e que merece ser tratada, pois traz consequências na qualidade do dia a dia e no desempenho do indivíduo para as tarefas da vida.

O conceito de insônia é a “percepção subjetiva da dificuldade em iniciar ou manter o sono; de sono não reparador ou sono de má qualidade que ocorre apesar de oportunidade adequada para dormir.

Como consequência, há um impacto negativo na funcionalidade diurna do indivíduo.

É comum idosos usarem remédios para insônia? 

Sim, por algumas razões: primeiro, a insônia torna-se mais prevalente à medida que se envelhece.

Segundo, as consequências da insônia na qualidade de vida, no equilíbrio do caminhar durante o dia e o risco de cair fazem com que essa seja uma condição que deve ser tratada. E medicamentos são os recursos terapêuticos mais fáceis e eficazes.

Terceiro, idosos são portadores de doenças que muito comumente interferem no sono, principalmente os transtornos neuropsíquicos, como a ansiedade e a depressão.

E por último, medicamentos usados com finalidades diversas podem interferir no ritmo do sono, como por exemplo alguns remédios para pressão, que podem dar sono durante o dia e insônia à noite.

Essas mudanças têm relação com alterações orgânicas ou de hábitos de vida?

Essa é uma fase da vida em que há maior vulnerabilidade, as reservas fisiológicas são menores e os órgãos se adaptam a essa condição.

O mais comum e, porque não dizer “a regra e não a exceção” é que idosos sejam portadores de doenças crônicas que demandam tratamentos contínuos, os órgãos e sistemas são acometidos por essas doenças e muitas vezes funcionam de maneira precária.

Há ainda os aspectos sociais, familiares, econômicos, psicológicos, as preferências, os hábitos do indivíduo; e vem daí, desse conjunto de fatores, a individualidade de cada idoso.

A população idosa é a mais heterogênea que existe por essas e outras razões.

Há algo mais comum que os idosos fazem e que interfere na qualidade do sono?

Via de regra a vida impõe ritmos que eles não escolhem, como não ter nada para fazer e ocupar boa parte do dia com “ficar deitado e dormir”. Podem estar deprimidos… Outras vezes, efeitos de tratamentos medicamentosos, que são grandes vilões para essa população, interferem no sono.

Por exemplo, se a pressão arterial está controlada demais e as medidas são abaixo do desejado, o idoso pode ficar sonolento durante o dia e sem sono à noite.

Até mesmo os remédios usados comumente para dormir não proporcionam um sono de qualidade e podem ter uma duração de efeito que ultrapassa o período da noite, deixando o idoso “grogue” durante o dia.

Não fazer exercício físico e não se expor à luz do dia (ficar em um quarto escuro por exemplo), interferem no sono da noite.

“As medidas mais eficazes no tratamento da insônia não usam medicamentos, mas são mudanças de hábitos. Veja o ambiente de dormir, o horário, se usa de chá e café e se toma líquido antes de dormir, que leva o idoso a acordar para ir ao banheiro, e mude!”

Quais são as substâncias mais usadas pelos idosos para induzir o sono?

São as mesmas usadas pelos adultos mais jovens, os benzodiazepínicos. Trata-se de um grupo de medicamentos que induz o sono, sendo que muitos deles também estão indicados para tratamento de ansiedade.

No entanto, um cuidado que muitas vezes não se tem, é na escolha da substância, pois a ideal é aquela que tem uma duração de efeito mais curta, para que o idoso não fique de “ressaca” no dia seguinte.

É bastante frequente essa “ressaca” ser interpretada como preguiça, depressão ou outras hipóteses que podem até fazer com que o idoso seja “tratado” como se tivesse uma nova doença ou diagnóstico.

Esses medicamentos têm uso pontual ou devem ser usados sempre?

Depende da causa da insônia. Se for por uma razão como por exemplo uma situação de estresse, a perda de alguém ou um diagnóstico de uma doença indesejada, o uso pode ser esporádico ou por aquele período em que se faz necessário.

Se a insônia é crônica, o melhor é escolher um medicamento que cause o mínimo de efeitos adversos possível. É muito comum, por exemplo, que sejam prescritos antidepressivos que causam sono em doses baixas, pois costumam ser drogas mais “limpas” com poucos efeitos colaterais.

Há medicamentos que merecem mais atenção, que interferem com outros remédios?

Os benzodiazepínicos podem alterar o desempenho mental e levar à piora da demência, nos casos em que o indivíduo tem a Doença de Alzheimer, por exemplo.

Se um idoso tem propensão a ter quedas, muitas vezes por problemas articulares ou fraqueza muscular, o uso de medicações para dormir pode piorar o caminhar e o equilíbrio.

“Um cuidado que muitas vezes não se tem, é na escolha da substância, pois a ideal é aquela que tem uma duração de efeito mais curta, para que o idoso não fique de “ressaca” no dia seguinte, que costuma ser vista como preguiça, depressão ou outras hipóteses que podem até fazer com que o idoso seja “tratado” como se tivesse uma nova doença ou diagnóstico.”

Quando o idoso ou parente deve ficar alerta de que está havendo um abuso de remédios?

Essa é uma resposta difícil, pois os medicamentos mais usados causam dependência química e muitas vezes psicológica. Isso faz com que o idoso “precise” do medicamento para dormir.

Porém, isso não significa que não seja possível a suspensão paulatina do remédio e a substituição por outro que seja melhor para aquele paciente.

Não se tratam de substâncias que dão “prazer” e que o indivíduo a busque para se sentir bem. Isso minimiza essa percepção que abuso. Acho que não seria um termo adequado.

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