Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

“Paciente que questiona médico ainda é considerado chato”, diz psicóloga do Albert Einstein

Amanda Milléo
14/09/2019 13:00
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Pacientes podem estar bem informados, mas poucos ainda questionam os médicos sobre a própria condição de saúde, especialmente em hospitais. Foto: Bigstock.

Estar bem informado sobre os sintomas e o que eles significam pode até ser uma característica presente na maioria dos pacientes brasileiros — ainda mais com a facilidade de acesso às redes sociais e ao Google, como há hoje.
Isso não significa, porém, que esses mesmos pacientes tomem para si a responsabilidade do cuidado da própria saúde, e o contrário é ainda bastante presente em hospitais do país.
Um dos cenários comuns, por exemplo, é de pessoas que, uma vez internadas, jogam para a equipe médica todas as decisões sobre o tratamento. Isso acontece por dois motivos, conforme explica Ana Merzel, psicóloga coordenadora do serviço de Psicologia do hospital Albert Einstein, de São Paulo.

“A gente deseja que o paciente esteja ativo no tratamento e para isso é preciso mudar a cultura da instituição e dos colaboradores. Muitas vezes, o paciente que pergunta sobre a própria condição ainda é considerado chato. Mas, também, culturalmente e principalmente no Brasil e nos países latinos, não temos esse hábito [de questionar os médicos]”, diz a psicóloga, que esteve em Curitiba no início de setembro para o II Workshop de Profissões da Saúde, na Universidade Positivo, e conversou com o Viver Bem.

Esse hábito de ficarmos quieto diante de alguém de jaleco branco não é a toa. Temos medo de retaliação, dos olhares de reprovação e de acharmos que não sabemos tanto quanto um médico, o que nem sempre é verdade.
E essa característica é muito própria dos países latinos, segundo Ana. “Acho que temos mais isso porque temos uma relação mais próxima [entre equipe médica e pacientes], fazemos amizade rápido. Então vem o medo, o não querer ofender e também a questão de retaliação. Isso não acontece nos Estados Unidos, por exemplo.”

Não ficar à mercê dos médicos

Uma das formas de tomar para si a responsabilidade da própria saúde, mesmo quando internados, é não ficar à mercê da equipe de atendimento.
“A gente entra no hospital achando que todo mundo que está lá tem que saber tudo, e não nos preocupamos com a nossa saúde. Desde questões como ‘qual medicamento estão me dando?’ a até ter acesso ao próprio prontuário, que é do paciente, por lei. O hospital mantém a guarda apenas”, reforça Ana.
A psicóloga exemplifica uma situação muito comum nas instituições de saúde do país:

“O paciente fala para a gente: ‘mas vocês não leram o meu prontuário? Por que ficam perguntando qual medicação eu tomo? Eu já falei para o outro profissional!’. Mas nem sempre ele sabe que é importante que isso [a repetição] aconteça, pois o profissional anterior pode ter errado. São humanos operando e o erro é humano. Por mais que você tenha barreiras de segurança, o paciente a é a última barreira quando a gente pergunta ‘o que você está tomando?’.”

Perguntas não ditas

Outro erro cometido por pacientes está em deixar de fazer perguntas importantes durante uma consulta médica.
Podem ser tanto de questões relacionadas ao diagnóstico e prognóstico, de como será o avanço e tratamento da doença, quanto de dúvidas na medicação e até mesmo de procedimentos de segurança.
“Às vezes o paciente quer perguntar, mas tem medo de ouvir e acaba não perguntando. Eu tive uma experiência há pouco tempo quando fui fazer uma pulsão do nódulo da tireoide. As pessoas entraram várias vezes no quarto e não higienizavam as mãos. Quando eu perguntei, ainda brincando, sobre a higienização, eles me deram aquele olhar de ‘o que você está me pedindo?'”, cita Ana.
“Moral da história: eu me senti constrangida por pedir para lavarem as mãos, porque parecia que eu tinha solicitado algo fora do comum, quando não era.”

Acesso ao prontuário

Nem todo mundo sabe, mas o prontuário médico é um documento que pode e deve ser compartilhado com o paciente, visto ser dele. O hospital apenas mantém a guarda dessas informações.

“Hoje ainda vemos instituições que não liberam e outras que dificultam o acesso. Há um movimento mundial, o Open Notes, que visa o acesso de pacientes ao seu prontuário. E é importante que o paciente saiba o que foi escrito ali, a condição dele. É a saúde dele, são informações para ele”, reforça a psicóloga. 

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