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Pesquisadores usam canabinoide contra Alzheimer e sociedade faz alerta

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08/11/2019 13:00
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Os resultados da administração do canabinoide, segundo os pesquisadores, foram considerados “bem positivos”. Foto: Bigstock.

Tratar sintomas do Alzheimer utilizando um composto canabinoide foi o objetivo de um grupo de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP).
O resultado foi que a equipe conseguiu reverter parte do déficit cognitivo em ratos que foram induzidos a simular estágios iniciais da doença. Os resultados forma publicados na revista científica Neurotoxicity Research.

Para os experimentos foi usado o composto sintético ACEA (Araquidonil-2′-cloroetilamida) em animais em que receberam no cérebro a droga estreptozotocina (STZ), que provoca uma deficiência no metabolismo dos neurônios. Em seguida, foram aplicados teste da memória nos ratos, com o reconhecimento de objetos. As informações são da Agência Brasil.

O estudo acontece assim: são postos objetos novos no ambiente onde estavam os animais. Os ratos que não estavam sob o efeito da droga exploraram mais os locais com as novidades.
Enquanto isso, aqueles animais com Alzheimer mantiveram o mesmo interesse por todo o ambiente. Os testes foram repetidos com o intervalo de uma hora e de um dia, para avaliar memória de curto e longo prazo.
Bons resultados
A partir daí, os ratos passaram a ser tratados com o ACEA, uma forma sintética de um dos compostos extraídos da cannabis. Ele se liga ao receptor CB1, presente especialmente no hipocampo, parte do cérebro relacionada à memória e que é afetada pelo Alzheimer.
Segundo a coordenadora do estudo, professora Andréa Torrão, os resultados da administração do canabinoide foram “bem positivos”.

De acordo com a pesquisadora, foi verificada uma “reversão do déficit cognitivo”. Isso significa, diz ela,  que o composto foi capaz de impedir a progressão da doença que foi simulada em uma fase inicial.

Andréa disse que o ACEA tem sido usado por diversos grupos de pesquisa no mundo, porém, ainda existem aspectos não investigados, que a equipe do Instituto de Ciências Biomédicas tentou avaliar.
“Ele foi bem descrito mais recentemente. Mas tinha muitas outras perguntas, lacunas, que a gente queria entender”, enfatizou.

Apesar dos bons resultados, as pesquisas com o canabinoide no instituto foram paralisadas. “Os complexos canabinoides estão muito caros para a gente importar com os cortes de verbas que tem sido feito nos últimos anos”, ressaltou a pesquisadora.

Por isso, o grupo tem usado outras substâncias que agem em outros aspectos do Alzheimer.
Posicionamento 
Apesar das pesquisas, o posicionamento da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) é contrário à indicação e prescrição de canabidiol ou qualquer outro derivado canabinoide para tratamento do alzheimer ou de alterações de comportamento relacionadas a ela, segundo informe distribuído recentemente.

“Até o presente momento, não há qualquer evidência científica oriunda de estudo clínico robusto que sustente tal indicação ou que tenha avaliado seus potenciais riscos e efeitos colaterais em idosos portadores da Doença de Alzheimer”, diz a advertência.

Segundo a sociedade, por regulamentação do Conselho Federal de Medicina (Resolução 2.113/14), o uso do canabidiol é permitido apenas em casos de epilepsia refratária em crianças e adolescentes. A SBGG ressalta que se deve “ter cautela com experimentações de novas condutas em cenários que não os de pesquisa, principalmente em indivíduos vulneráveis, como os acometidos pela Doença de Alzheimer”.
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