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O maior risco é que o fungo entre no país a partir da Venezuela, primeiro país das Américas a registrar surtos de Candida auris entre 2012 e 2013. Foto: Bigstock
O maior risco é que o fungo entre no país a partir da Venezuela, primeiro país das Américas a registrar surtos de Candida auris entre 2012 e 2013. Foto: Bigstock| Foto:

Vigilância

O Brasil não dispõe de um sistema ativo de vigilância de fungos capaz de identificar precocemente a Candida auris, que ataca pessoas com o sistema imunológico enfraquecido e está se espalhando rapidamente pelo mundo.

O maior risco é que o fungo entre no país a partir da Venezuela, primeiro país das Américas a registrar surtos de Candida auris entre 2012 e 2013.

O alerta vem do médico Arnaldo Colombo, professor titular de infectologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e coordenador do laboratório especial de micologia, que ajudou a identificar o fungo na Venezuela. No Brasil, ainda não há notícia da chegada do microrganismo.

“A gente se preocupa muito com bactérias, há sistemas de vigilância para elas mas não para fungos. Muitos hospitais não identificam a Candida. Quando há pacientes infectados por bactérias, mais de 90% deles dão nome e sobrenome para elas. Mas, quando se trata de Candida, menos da metade consegue dar o sobrenome dela.”

Colombo lembra que, desde a detecção do surto na Venezuela, a situação de saúde pública só se deteriorou naquele país. “Com o fluxo migratório, existe a possibilidade de a Candida entrar no Brasil e ela não ser reconhecida. Muitos hospitais públicos e privados não estão preparados para essa identificação.”

Ele lembra que é fundamental que essa migração seja acompanhada por um sistema de vigilância para detectar eventuais doenças emergentes. “Essa população merece solidariedade e atenção.”

Candida auris – o mais mortal

O grupo de Colombo participou de edital do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) com um projeto que tinha a meta de vigiar a chegada de novos germes em regiões de fronteira, mas ele não foi aprovado pelo órgão.

Agora, a equipe teve aprovação de um estudo pelo comitê de ética do hospital da Unifesp para fazer a vigilância de pessoas internadas em Roraima, na região norte do país.

Segundo ele, apesar de a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ter editado norma técnica orientando sobre o diagnóstico da Candida auris, os hospitais mais preparados para isso estão concentrados no sul e no sudeste.

Segundo ele, uma das características da Candida aurius é a sua grande capacidade de permanecer em ambiente hospitalar (em objetos e superfícies ou nas mãos dos profissionais, por exemplo). “Pacientes que se infectam ficam colonizados semanas depois de tratados.”

Infecções por Candida no ambiente hospitalar são minoritárias em relação às bacterianas — respondem por 5% a 10% das infecções em pacientes internados em UTIs.

“Como 90% das vezes é bactéria e não Candida, o sistema de saúde prioriza a identificação da resistência bacteriana e negligencia a Candida. Temos pressionado para que se olhe também para os fungos.”

Fora dos hospitais, as pessoas podem ser colonizadas transitoriamente por Candida. Mas para o fungo sair da pele ou da mucosa e entrar na corrente sanguínea, a pessoa precisa estar imunodeprimida, hospitalizada e ser submetida a procedimentos invasivos, segundo Colombo.

Ele conta que os laboratórios de referência do SUS estão capacitados para identificar esses microrganismos. O da Unifesp, por exemplo, faz a analise genética do fungo (por sequenciamento de DNA).

O problema, porém, é que, muitas vezes, o hospital nem suspeita de que está diante da Candida auris e não manda o material para análise.

Em 2017, o grupo da Unifesp ajudou a Anvisa a elaborar uma espécie de guia para ajudarem laboratórios e hospitais a reconhecerem o fungo a partir de alguns cenários epidemiológicos.

“Os profissionais de saúde estão alertados para isso. Mas o sistema é falho porque não há uma vigilância ativa disso.”

Para ele, o temor atual em torno da Candida auris é uma ótima oportunidade para alertar profissionais de saúde de que não é só bactéria que mata o paciente e, ao mesmo tempo, equipar hospitais públicos e privados com tecnologias capazes de lidar com essa situação.

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