Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Chá verde em excesso pode lesionar o fígado e exigir até transplante do órgão

Amanda Milléo
30/10/2018 12:04
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Lesões no fígado são alguns dos riscos em consumir cápsulas de chá verde sem a devida orientação médica e em excesso (Foto: Bigstock)

Na tentativa de ter uma vida mais saudável, Jim McCants, norte-americano que vive no estado do Texas, nos Estados Unidos, passou a tomar cápsulas de chá-verde diariamente. Depois de quase três meses, o homem de 50 anos desenvolveu uma lesão hepática, que exigiu o transplante do fígado e, até o momento, precisa de cuidados redobrados com o órgão e com os rins. A história de Jim foi contada pela BBC no fim de outubro.
Anos antes, em 2015, a revista científica British Medical Journal (BMJ) já havia apresentado um relato semelhante de intoxicação por chá verde. No caso, uma adolescente inglesa de 16 anos ingeriu o chá em forma de bebida diariamente, durante três meses, o que levou ao desenvolvimento de hepatite aguda.
Segundo o relato na revista, a jovem tomava três xícaras de um chá verde industrializado, que tinha sido comprado via internet, com origem da China. Como os ingredientes estavam todos em chinês, a paciente não sabia identificar o que estava tomando de verdade. Quando parou de ingerir o chá, por orientação médica, os sintomas se dissiparam e a saúde voltou ao normal.

Risco à saúde

Apesar de ser utilizado amplamente e sem receita médica pela população, o chá verde é conhecido na área médica como um produto tóxico para o fígado, embora dependa da quantidade e da forma ingerida, além da susceptibilidade da pessoa à substância.

Ingerir o chá verde, seja em forma de bebida (desde que exageradamente) ou em cápsulas (vendidas como suplementos alimentares e em alta concentração), pode colocar o órgão em risco, especialmente quando não há uma indicação ou orientação médica para o consumo.

Toxicidade

Há vários motivos que podem estar associados à toxicidade do chá verde, de acordo com Alcindo Pissaia, médico hepatologista e professor do curso de Medicina da Universidade Positivo. Um deles é a dose de chá ingerida pelas pessoas.
“Em dose baixa, o chá verde não causaria um problema maior, mas em uma concentração maior, como é encontrada em cápsula, sim. Depende também de cada pessoa. Às vezes, a pessoa faz uso e não tem a toxicidade, mas outras sim”, explica o hepatologista.

A entidade europeia de segurança alimentar (European Food Safety Authority) alerta que o consumo seguro do chá verde não pode ultrapassar uma dose de 800 mg por dia. Pissaia reforça, porém, que essa quantidade pode mudar de pessoa a pessoa, e a melhor indicação é preferir doses baixas. 

Essa diferença entre as pessoas pode ser explicada por uma substância antioxidante presente no chá verde, e conhecida pela toxicidade: a catequina (EGCG). Quem for mais susceptível a ela pode sofrer mais danos com o consumo do chá verde — ainda mais se ingerir a substância em jejum, o que acontece quando as pessoas tentam emagrecer e fazem uso da suplementação.
“Há duas formas de o fígado ter uma reação quando pensamos em substâncias químicas: pela quantidade, pelo excesso ou de uma forma idiossincrática. Essa segunda é quase como uma reação alérgica que a pessoa desenvolve, e uma dose apenas já causa a lesão hepática. Alguns antibióticos, como a amoxicilina, podem ocasionar hepatites medicamentosas desta forma, sem necessariamente ter uma dose muito grande”, diz Gustavo Justo Schulz, médico gastroenterologista do hospital VITA.

O fígado é o órgão mais afetado por ser o centro de metabolismo de medicação e outras substâncias do organismo.

Chá ajuda a diminuir a retenção líquida. Foto: Bigstock
Chá ajuda a diminuir a retenção líquida. Foto: Bigstock

Tomar ou não 

Antes de fazer uso de qualquer suplemento alimentar — seja em forma de chá, cápsulas ou alimentos — a principal orientação é procurar por um médico.
suplementos vitamínicos que podem afetar os resultados de exames laboratoriais importantes, outros podem vir misturados a substâncias não tão saudáveis ou mesmo aqueles que, sem moderação, levam a danos sérios no fígado.
“Uma coisa que as pessoas precisam ter em mente é que não existe fórmula milagrosa. Todo produto que venda a perda de peso em pouco tempo, desconfie. Nem mesmo perder peso rapidamente é bom para a saúde, que deve ser feita de forma programada, gradual. A perda muito rápida pode ser tão maléfica quanto o excesso de peso”, explica Gustavo Schulz, gastroenterologista.
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