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Queimaduras e intoxicações alimentares são doenças mais comuns nas temporadas de praia. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo.
Queimaduras e intoxicações alimentares são doenças mais comuns nas temporadas de praia. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo. | Foto: Albari Rosa

Cuidados com a saúde são necessários em qualquer época, mas nos meses mais quentes é prudente atentar para alguns pontos específicos, que ajudam a aproveitar apenas o lado bom da rotina embaixo do guarda-sol.

“É um período em que as pessoas estão mais expostas a atividades extemporâneas. Se afoga mais gente, mais gente cai de bicicleta, há um contato maior com a natureza, que traz benefícios, mas pode resultar em problemas como picadas de abelhas e formigas, por exemplo. Há também episódios de desidratação e aqueles ligados à conservação dos alimentos, que é mais complicada devido à alta temperatura ” lembra Leonardo Fernandez, clínico-geral da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

“No verão, há doenças infecciosas que são mais comuns. Há a questão de as pessoas procurarem a alimentação fora de casa, por estarem de férias. Muitas vezes, os lugares não têm a higiene mínima necessária na conservação dos alimentos ” complementa Paulo Gewehr, infectologista do Hospital Moinhos de Vento. O risco também aumenta na praia: higiene incorreta e má manipulação dos petiscos típicos do litoral podem causar  intoxicações alimentares.

Da otite à desidratação, das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti às queimaduras de pele, saiba como se prevenir, quais são os sintomas e os principais tratamentos das enfermidades mais comuns do verão.

Queimaduras de Pele

No litoral paranaense, banhista apresenta sinais do famoso "torrão". Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo
No litoral paranaense, banhista apresenta sinais do famoso "torrão". Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo| Albari Rosa

Sintomas
O conhecido vermelhão na pele, que só aparece horas depois da exposição demasiada ao sol, normalmente é acompanhado de ardência. Em casos mais graves, pode haver a formação de bolhas.

Como Evitar
Para evitar as queimaduras, é preciso cuidar quando e como se expor ao sol. A dermatologista Suzana Hampe, do Hospital Moinhos de Vento, aconselha que a exposição deve ser feita de forma progressiva. O risco de uma queimadura é maior se, no primeiro dia, a pessoa permanecer por muitas horas no sol.

Particularidades de cada indivíduo também devem ser consideradas: “tem de conhecer o seu tom de pele, saber que uma pele mais clara tem maior risco de queimaduras do que uma mais escura. O uso de filtro solar com fatores adequados, mais altos para peles claras, também é importante. É necessário atentar para os horários. Sabemos que o sol emite radiação ultravioleta, e a mais nociva aparece a partir das 10h, crescendo em intensidade até a faixa do meio-dia às 13h. Estes horários devem ser evitados” orienta a médica.

Como tratar 
Suzana lembra que a pessoa que sofre queimadura solar produz as chamadas sunburn cells (células de queimadura solar, em tradução livre do inglês), que estão relacionadas ao risco de desenvolver câncer de pele. Dermatologistas podem receitar cremes tópicos que ajudam a diminuir essas células. Em casos mais severos, as queimaduras podem resultar em desidratação e insolação, com dores de cabeça, tonturas e até aceleração da frequência cardíaca. Nesses casos, a recomendação é procurar atendimento médico e se hidratar.

Desidratação

Sintomas
O clínico-geral Leonardo Fernandez afirma que a desidratação se manifesta com mais força nos “extremos da idade”. Crianças e idosos, portanto, tendem a sofrer mais. “A pessoa se sente prostrada, letárgica, sonolenta. Em casos mais graves, pode evoluir para parada cardíaca e até coma”  alerta.

Como evitar 
Parece óbvio: manter-se hidratado é a forma de prevenir desidratação. Mas o que significa manter-se hidratado?

“Fala-se em ingerir de dois litros e meio a três litros de água por dia, mas isso varia com o que se perde de líquido. Se a pessoa se submete a uma atividade extenuante, em temperatura elevada, precisará de mais. Um bom indicativo é a cor da urina. Se está mais escura, a pessoa precisa de líquido. O ideal é uma coloração mais pálida” aponta Fernandez.

De acordo com o especialista, a água é o hidratante universal, mas há outras opções, como os isotônicos, por exemplo. Aí é preciso tomar certos cuidados, já que são produtos com alta quantidade de sódio.

Como Tratar 
Reidratação resolve o problema. Normalmente, é feita por via oral, com a ingestão de líquidos. Em situações mais graves, pode ser via endovenosa, com soro fisiológico.

Otite

Crianças costumam ser as mais afetadas por otite. Foto: Pixabay.
Crianças costumam ser as mais afetadas por otite. Foto: Pixabay.

Sintomas
Dor de ouvido e abafamento do som percebido pelo paciente são os principais sinais da otite. Em alguns casos, pode ocorrer febre.

Como Evitar 
As ocorrências de otite que aumentam no verão frequentemente têm relação com a umidade na orelha externa. O ambiente úmido na pele facilita a proliferação de fungos e bactérias.

O local, portanto, deve estar sempre seco. Não se recomenda a utilização de cotonetes dentro da orelha, já que o artefato empurra a cera para dentro, criando tampões que impedem a saída da água e contribuem para o aumento da umidade. “Não pense que a raça humana tinha tampão de cera na época das cavernas, quando não havia cotonetes” brinca José Henrique Müller, chefe do serviço de otorrinolaringologia do Hospital Moinhos de Vento.

Como Tratar
Nas otites por infecção fúngica ou bacteriana, que se instalam na orelha externa, o tratamento é, principalmente, com limpeza e gotas para combater as infecções.

Müller explica que há diferença quando a doença se instala na orelha média: “Ali há uma cavidade, forrada por uma mucosa, a chamada mucosa respiratória. Ela tem de ser drenada por algum lugar. Como tímpano não tem furo, quem faz esse trabalho é a tuba auditiva, que se comunica com a região atrás do nariz. Um resfriado ou algo que faça inchar a tuba auditiva pode causar uma otite média por acúmulo de muco”.

Segundo o especialista, nesse caso o tratamento pode ser feito com descongestionantes ou medicamentos para a tuba auditiva. Eventualmente, usa-se um antibiótico. Quando há muco retido atrás do tímpano, logo vem o ouvido abafado e a dor.

Conjuntivite

Sintomas
Vermelhidão no olho, inchaço da pálpebra e lacrimejamento, com ou sem pus, são os principais sinais. Em geral, quando a conjuntivite é viral, começa em um dos olhos e passa para o outro posteriormente.

Na bacteriana, os sintomas aparecem nos dois olhos quase simultaneamente. “É importante lembrar que a conjuntivite não causa piora na visão nem dor. Se houver esses sintomas, é muito provável que seja um caso mais sério” destaca Alexandre Marcon, chefe do serviço de oftalmologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

Como Evitar 
Surtos de conjuntivite podem ocorrer em qualquer época do ano. No verão, porém, a proliferação é facilitada. “O clima é mais propício, por ser mais úmido e quente. Há maior aglomeração de pessoas na rua, o que facilita a propagação” diz Marcon.

O médico destaca que as principais medidas de prevenção incluem cuidados simples de higiene, como lavar as mãos com frequência ou utilizar álcool gel. Também recomenda não levar as mãos aos olhos.

Como Tratar 
Nos casos de conjuntivite bacteriana, o tratamento é por meio de antibiótico. Nas virais, tratam-se os sintomas. O uso de compressas geladas nos olhos, por exemplo, pode aliviar o desconforto. Em casos mais extremos, pode-se usar um colírio anti-inflamatório.

Intoxicação Alimentar

Verificar o aspecto e procedência de alimentos vendidos na praia é uma das medidas de prevenção. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo.
Verificar o aspecto e procedência de alimentos vendidos na praia é uma das medidas de prevenção. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo. | Albari Rosa

Sintomas
Febre, mal-estar e sintomas digestivos são os principais sinais de intoxicação alimentar. De acordo com Idílio Zamin Júnior, gastroenterologista da Santa Casa de Porto Alegre, o paciente pode apresentar diarreia, náuseas, vômitos, distensão abdominal (sensação de barriga inchada) e cólicas.

Como Evitar 
Dois fatores ajudam a explicar o aumento dos casos de intoxicação alimentar no verão: as temperaturas elevadas, que dificultam a correta conservação dos alimentos, e a maior exposição das pessoas, que comem em locais diferentes dos usuais, como na beira da praia.

Na maior parte dos casos, a doença é causada por ingestão de comida contaminada com micro-organismos, que resulta em uma infecção intestinal. “Entre as principais recomendações para a prevenção, sugere-se muito cuidado em verificar a procedência dos alimentos, evitando consumir principalmente ‘lanches de rua’. Dentro de casa, devemos ficar atentos ao prazo de validade e também realizar um armazenamento adequado dos alimentos. Deve-se evitar reaproveitar a comida que ficou muito tempo fora da geladeira” destaca Zamin Júnior.

Como Tratar
Na maioria das vezes, as intoxicações alimentares se resolvem espontaneamente. Manter a hidratação é importante, já que as principais complicações relacionadas à doença dizem respeito à perda de água.

Segundo Zamin, pode ser usado soro caseiro ou soro de reidratação, que pode ser encontrado em farmácias. Os isotônicos também são alternativa.

“As medicações utilizadas costumam ser o que chamamos de sintomáticas, ou seja, que tratam os sintomas. Nos casos mais graves ou persistentes, o paciente precisa de acompanhamento médico, principalmente quando apresentar muitos vômitos associados, o que dificulta a reidratação oral. Também a febre insistente e a intensidade do quadro infeccioso podem indicar a necessidade de antibiótico” lembra Zamin Júnior.

Dengue, Zika e Chikungunya

Sintomas
Há diferenças sutis nos sintomas das três doenças. Em comum, febre, dores de cabeça e pelo corpo. “Na dengue, há dor muscular muito forte, dor articular também, além de uma dor de cabeça importante, que geralmente se concentra na região atrás das olhos. Todas as doenças dão lesão de pele, como se fosse uma vermelhidão. Parece uma queimadura de sol bem leve. A chikungunya se apresenta com dor articular muito forte. Chama a atenção” afirma o infectologista Paulo Gewehr.

“A febre é muito alta na dengue, com muitas dores no corpo, principalmente musculares. Na chikungunya, a febre é mais baixa e há dores articulares. A zika é menos sintomática. Na maioria das vezes, a pessoa fica com algum mal-estar, melhora dos sintomas e nem fica sabendo que pegou zika” alerta o infectologista Claudio Stadnik, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

Como Evitar 
As medidas mais efetivas para evitar as doenças são as que impedem a proliferação do mosquito Aedes aegypti, que as transmite. Todas dizem respeito ao risco de manter água parada, onde o inseto deposita os ovos para se reproduzir. “São medidas já bem conhecidas, de atentar para locais onde há água parada, como vasos de plantas, por exemplo. Não guardar garrafas vazias. Se guardar, que seja com a cabeça para baixo. Cuidar com outros locais que são menos aparentes, como a parte traseira das geladeiras, que
podem ser um foco de proliferação” afirma Gewehr.

O esforço de conscientização e acompanhamento de possíveis focos de proliferação do mosquito tem sido eficiente no combate às doenças, como lembra Stadnik: “Há um trabalho da vigilância sanitária em cidades em que há o mosquito. Esse controle é importante. O ano (de 2017) foi muito bom nesse ponto. No Rio Grande do Sul, só tivemos dois casos de dengue autóctones (em que a doença é contraída no local)”.

“Usar repelente durante o dia se torna fundamental quanto mais a região que a pessoa mora tenha a doença circulando. Assim como evitar horários de maior circulação do mosquito, como o começo da manhã e o final da tarde” aconselha Gewehr.

Como Tratar 
Stadnik classifica o tratamento das três doenças como “sintomático e de suporte”. Como não há medicamento contra os vírus, recomenda-se o uso de analgésicos e antitérmicos para lidar com os sintomas de febre e dores pelo corpo. “Muita hidratação é importante.A principal causa de morbidade e complicações na dengue é a desidratação aguda, o que pode fazer com que se perca a função renal e
diminua a pressão sanguínea” afirma.

Micoses

Exposição ao sol, alimentação e hidratação: verão exige cuidados especiais com a saúde.  Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo.
Exposição ao sol, alimentação e hidratação: verão exige cuidados especiais com a saúde. Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo. | Gazeta do Povo

Sintomas
O dermatologista Rodrigo Vettorato, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, lista dois tipos de micoses mais comuns no verão. A pitiríase versicolor, ou pano branco, é causada por fungos que deixam manchas claras ou mais escuras, com pouca ou nenhuma escamação.

Ombros, costa e peito são as regiões mais afetadas e alguns pacientes relatam coceiras nas manchas. Já as dermatofitoses podem se manifestar em qualquer parte do corpo, inclusive em unhas e couro cabeludo – mais comum em crianças.

No verão, é mais frequente a manifestação nos pés (pé de atleta) e no meio dos dedos dos pés (frieiras). Provocam descamação, fissuras na pele, coceira e odor forte. O diagnóstico deve ser feito por um dermatologista, já que, como Vettorato alerta, há outras doenças de pele com sintomas semelhantes aos das micoses.

Como Evitar 
Provocados por fungos microscópicos, os diferentes tipos de micoses se manifestam em pessoas que entram em contato com locais contaminados. Entre as medidas para evitar o problema, Vettorato cita os seguintes:
– Usar chinelos de borracha nas bordas de piscinas, vestiários e chuveiros públicos.
– Secar bem os pés, meios dos dedos e outras dobras do corpo (como as virilhas e axilas) após o banho.
– Trocar meias e roupas íntimas diariamente.
– Evitar compartilhamento de roupas e acessórios com outras pessoas.
– Manter as unhas curtas e não compartilhar cortadores de unhas.
– Colocar os calçados em locais arejados e, com frequência, expô-los ao sol.
– Usar roupas leves e de tecidos como o algodão.

Como Tratar
O dermatologista costuma receitar cremes, pomadas ou loções antifúngicas, analisando criteriosamente qual utilizar dependendo do caso.

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