Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Hipoglicemia ou embriaguez? Bebidas podem confundir sintomas em diabéticos

Amanda Milléo
22/12/2018 12:00
Thumbnail

Consumo de bebidas alcoólicas contribui para desidratação. Foto: Bigstock

Exagerar nas bebidas alcoólicas no fim de ano não é saudável para o fígado de ninguém — e se torna especialmente contraindicado para pessoas diagnosticadas com diabetes. Os sinais que indicam a embriaguez, como tontura, alteração no equilíbrio e raciocínio lento, são muito semelhantes a uma crise de hipoglicemia. Entre os diabéticos, a condição é perigosa, podendo levar o paciente ao coma.
O fígado, responsável pela metabolização de todo o álcool que a gente consome, é também o órgão que controla o nível de açúcar transitando pela corrente sanguínea. Enquanto ele estiver concentrado na missão de metabolizar a cerveja, o vinho ou o champanhe (o que pode levar horas, dependendo da dose ingerida), dificilmente fará um bom trabalho no controle da glicemia.
Sem açúcar suficiente no corpo, a insulina (hormônio produzido pelo pâncreas e que, entre os diabéticos, está em falta) aplicada pode levar ao quadro de perigo. “Se o paciente faz uso de alguma medicação que aumenta a insulina na corrente sanguínea, e toma bebida alcoólica, acaba que ele pode ter uma hipoglicemia”, explica Hevelyn Garcia, médica endocrinologista do Centro VITA de Tratamento da Obesidade e Diabetes do Hospital VITA.

O perigo é ainda maior se o paciente não tiver se alimentado adequadamente antes, e se não fizer um controle adequado da glicemia pelo glicosímetro. Através do monitor, a pessoa consegue diferenciar se os sinais são de uma crise hipoglicêmica ou só resultado da bebedeira.

Hipoglicemia ou embriaguez: o que fazer

Está próximo de algum diabético e não sabe dizer se os sintomas são culpa da embriaguez ou de algo mais sério? Busque pelo glicosímetro, dê um alimento carboidrato a ele e busque ajuda médica.

“Se o paciente tiver acesso ao glicosímetro, ele faz a medida do açúcar. O ideal é que faça esse exame. Se não conseguir, o melhor caminho seria dar um pouco de carboidrato, como suco de frutas, até que chegue ao médico. O risco de hipoglicemia é muito grave, ele pode desmaiar e entrar em coma”, reforça Hevelyn Garcia, médica endocrinologista. 

Hiperglicemia é uma condição mais rara nesses cenários de festas e encontros de fim de ano, embora possa acontecer. “Se a pessoa tomar uma bebida alcoólica com açúcar, como uma batidinha ou uma caipirinha, pode acontecer também. Mas, geralmente, o corpo controla o aumento do açúcar e metaboliza bem, mesmo sozinho. O mais perigoso, que leva a um risco imediato de vida, é a hipoglicemia”, diz a especialista.

Sinais de hipoglicemia

Fique atento se apresentar os seguintes sinais:

Desmaio, fadiga, fome excessiva, sudorese excessiva, tontura ou tremores; apatia ou confusão mental; ansiedade ou nervosismo; palpitações e ritmo cardíaco acelerado; formigamento nos lábios ou secura; dor de cabeça, fala arrastada, irritabilidade, palidez, pupila dilatada, sonolência e visão embaçada.

Vai a uma festa? Tome as seguintes precauções

Embora as dicas sejam voltadas a pessoas com diabetes, valem para todo mundo que está com festas de fim de ano marcadas com familiares e amigos. Confira as sugestões dos médicos endocrinologistas Hevelyn Garcia e Márcio Krakauer, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional de São Paulo (SBEM-SP).
Limite a bebida. A Sociedade norte-americana de Diabetes recomenda o máximo de uma dose de bebida destilada, uma taça de espumante ou vinho, para mulheres, por dia. Duas taças/doses para os homens, no máximo. Os valores exatos, porém, variam conforme o paciente.
Não beba sem comer antes. Nunca tome nenhuma bebida alcoólica de estômago vazio. Isso porque a absorção do álcool é muito mais rápida dessa forma, acelerando os efeitos também. E também não misture as bebidas alcoólicas diferentes, como destilados e fermentados.
Corrija a taxa de açúcar no sangue antes de sair de casa. Se você, diabético, verificou que a glicemia está baixa — e fez uso de uma medicação de insulina –, faça a correção se alimentando antes de ir para a festa.
Não coma muito tarde. Mesmo que você participe do jantar à meia-noite com toda a família no Natal ou Ano Novo, não deixe para que essa seja a sua única refeição à noite.
Leve o glicosímetro com você. Se puder levar o aparelho junto para onde você for, faça a medição antes de beber e depois, para não passar do limite.
Programe-se. Você já sabe de antemão qual será o cardápio da ceia, e sabe que muitos dos alimentos ali não podem ser consumidos em excesso. Mas, se for revisitar o buffet, escolha bem os alimentos e controle as porções.

“Aproveite o momento da ceia não para comer de tudo e muito. Escolha os alimentos da sua preferência. Pode acabar desencadeando um descontrole metabólico que fica difícil controlar depois. Às vezes o paciente leva meses até conseguir retomar o controle” – Hevelyn Garcia, médica endocrinologista. 

Não incentivem os familiares diabéticos a saírem do controle. Não se trata de um docinho a mais ou uma cerveja a mais, mas de um controle que às vezes leva meses a retomar. Procure fazer comidas mais leves e apoie o diabético no fim de ano.
LEIA TAMBÉM