Saúde e Bem-Estar

Adriano Justino

Cientistas desenvolvem vacina que acaba com alergia a pelos de gato

Adriano Justino
15/08/2019 08:00
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O mais interessante é que a vacina deve ser aplicada nos felinos e não nos seres humanos. Foto: Bigstock.

Rinite, asma, vergões e inchaços nos locais de arranhaduras, lambidas e mordidas de gatos são sintomas que incomodam muito quem apresenta alergia a esses animais. 

Espirros, coceira nos olhos, nariz e garganta, coriza, congestão nasal e lacrimejamento também são comuns de ocorrerem em alérgicos logo após o contato com o animal.

“Quem tem alergia ainda pode apresentar crise de asma com sibilos e falta de ar e piora de um quadro de asma pré-existente”, diz a médica alergista Elizabeth Mourão.

Para reduzir esse que é um verdadeiro martírio, uma empresa suíça deu recentemente um passo importante anunciando dados pré-clínicos de uma vacina contra esse tipo de alergia.
A HypoPet AG, sediada em Zurique, publicou em abril deste ano um artigo intitulado “Imunização de gatos para induzir anticorpos neutralizantes contra Fel d 1”, um dos principais alérgenos felinos a causarem efeitos em humanos, no Journal of Allergy e Clinical Immunology.

A vacina, chamada de HypoCat, tem mostrado efeito contra partículas do alérgeno Fel d1, neutralizando-o, segundo quatro estudos realizados com 54 gatos. Segundo estimativas, 10% da população humana sofre de alergia a gatos, animais cuja população é a que mais cresce em ambientes domiciliares urbanos.

O mais interessante é que a vacina deve ser aplicada nos felinos e não nos seres humanos. A vacina ainda não está disponível no mercado – a previsão é que ela seja comercializada dentro de três anos –  e não há ainda data para o início da venda no Brasil.

Como acontece a alergia

Os alérgenos do gato não são encontrados nos pelos, mas sim na saliva, urina e na descamação da pele (epitélio). “Assim, não importa se um gato tem pelo longo ou curto: qualquer raça pode desencadear sintomas em indivíduos sensibilizados”, diz a médica alergista Elizabeth Mourão, da a Asbai, a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia.
O sintoma pode aparecer imediatamente após a exposição ao gato e seus alérgenos, desencadeando crises de asma e rinite, diz  Heberto José Chong Neto, diretor da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia). O alérgeno, segundo ele, pode ficar na roupa e não sair nem mesmo lavando-a com água quente, por serem partículas muito pequenas. 
“O indivíduo pode se sensibilizar quando o animal está presente em casa ou em visita a casa de familiares ou amigos. O alérgeno do gato pode permanecer no ambiente semanas e até meses após o animal ter sido retirado do ambiente”, fala Elizabeth. 

“Apesar de não ser grande no Brasil, a prevalência de alergia a animais atinge 5% dos pacientes alérgicos no país”, diz Heberto Chong Neto.

As alergias a gatos são causadas por uma proteína chamada Fel-d1, que desencadeia o aumento da produção de IgE contra o alérgeno em indivíduos previamente sensibilizados por contato repetido com o animal.

Quando a proteína entra nas vias aéreas de uma pessoa, ela pode desencadear uma onda de histamina — um produto químico bombeado pelo sistema imunológico quando ele pensa estar sob ataque. É essa resposta exagerada do sistema imunológico, e não a própria proteína, que causa os sintomas. 

Diagnóstico e tratamento

Segundo a médica alergista, o diagnóstico de alergia a gatos é feito pela história, exame físico e confirmação da alergia por testes alérgicos na pele ou sangue.
No caso de reações graves ou muito frequentes, pode ser necessário remover o animal do ambiente doméstico e cuidar com visitas a ambientes onde existam o animal.

Segundo a médica alergista Elizabeth Mourão, o tratamento e controle da rinite e da asma podem ser feitos com medicamentos. “Evitar a entrada do animal no quarto de dormir pode melhorar muito a qualidade de vida e a convivência de indivíduos alérgicos com seus animais de estimação”, diz ela. 

Como a vacina “milagrosa” ainda não está disponível, a imunoterapia específica com o alérgeno do gato é uma das maneiras de se reduzir os quadros de alergia. Esta modalidade de tratamento tem como finalidade induzir tolerância ao alérgeno do gato e deve ser realizada por medico alergista e por um período mínimo de 3 anos, segundo a médica alergista Elizabeth Mourão.
A ideia é mudar o sistema imunológico do paciente, fazendo com que ele deixe de sentir sensibilidade à certos alérgenos. Para isso, a pessoa faz um exame identificando qual é a fonte que causa a alergia e, a partir de então, recebe baixas doses dessa substância, o que ajuda na dessensibilização, diz Chong Neto.
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