Saúde e Bem-Estar

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo

Vice-campeão em cirurgias plásticas no mundo, Brasil aprimora tecnologias na área

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo
04/07/2018 07:42
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Plastic surgery doctor draw line on patient breast augmentation implant. Woman belly marked out for cosmetic surgery in surgery room interior

A especialidade de cirurgia plástica representa um campo em franca e constante expansão. As atualizações científicas nessa área vão muito além de procedimentos e suas técnicas, envolvendo
também novos conhecimentos sobre o comportamento da pele, da musculatura e da cartilagem.
Esse progresso influencia nas técnicas de reposicionamento das estruturas e tecidos e leva à adoção de condutas mais específicas e eficazes para cada caso. Os resultados? “Procedimentos menos traumáticos, agressivos e de menor duração, cirurgias refinadas, mudanças no modo de tratar, nos planos de dissecção, descolamento e tração e até mesmo nas substâncias usadas na cirurgia”, enumera Renato da Silva Freitas, cirurgião plástico e presidente da Regional Paraná da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP-PR).

Confira o que está em alta quando o assunto são as principais cirurgias e procedimentos estéticos realizados no Brasil:

Lipoaspiração

A lipoaspiração é um dos procedimentos que mais evoluiu nos últimos anos no ramo da cirurgia plástica. Há duas décadas, para se ter uma ideia, uma lipoaspiração utilizava cânulas grossas que removiam grande quantidade de gordura, causando traumas nos vasos sanguíneos e hematomas doloridos.
Entre as tecnologias atualmente disponíveis, a lipoaspiração a laser (também conhecida como lipolaser), é uma das que têm apresentado melhores resultados, especialmente no pós operatório. Segundo o cirurgião plástico Rogério Matoso, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), a lipolaser espolia menos o paciente, facilita o processo de cauterização e evita grandes perdas de sangue durante o procedimento.
Isso permite que haja melhor retração da pele na região operada, o que dá mais agilidade ao processo de recuperação. “A lipolaser permite liberar os pacientes para suas atividades de forma mais rápida e segura. Nesses casos, o retorno geralmente se dá entre três e quatro dias, enquanto na lipoaspiração convencional o afastamento costuma durar entre sete e dez dias”, assinala ele.
Esse pós-operatório menos demorado se deve, principalmente, à técnica aplicada. Na lipoaspiração convencional, o excesso de gordura é sugado por meio das cânulas do aparelho.
Na lipolaser, a gordura é primeiramente dissolvida pela ação do laser e, depois, absorvida por uma cânula especial ligada ao aparelho. Esse processo também reduz a agressividade do procedimento. Apesar disso, o lipolaser é um procedimento invasivo e realizado em ambiente hospitalar, assim como a lipoaspiração convencional, e o pós-operatório deve ser seguido à risca, com todas as orientações do cirurgião plástico.

Implante de silicone

Foto: Eric Gaillard/Reuters.
Foto: Eric Gaillard/Reuters.
Embora o aumento de seios encabece o ranking mundial de cirurgias plásticas, o que se observa como maior tendência é uma mudança na característica do implante. Entre os anos 1990 e 2000, as próteses eram sensivelmente maiores. Hoje, as pacientes estão em busca de tamanhos mais moderados.

“Se antes as mulheres optavam, em média, por silicones de 350ml a 400ml, agora o volume tem variado entre 250ml e 300ml. A mudança é o reflexo da exaltação à beleza natural e acompanha a tendência de silhuetas atléticas e mais longilíneas”, explica o cirurgião plástico e membro titular da SBCP, Anacleto Bassetto.

Ele acredita que a decisão de muitas celebridades de visibilidade mundial em trocar antigas próteses por outras que simulam mamas mais naturais e anatômicas, tem influência nessa tendência. Ou seja, para a maioria, adeus próteses em formato de maçã e ultra redondas, que turbinavam o decote.

As campeãs

O Brasil é o segundo país que mais realiza cirurgias plásticas em todo o mundo. De acordo com relatório emitido pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), em 2015 foram realizadas 2.324.245 cirurgias no país, o que representou, naquele ano, 10,7% do total mundial. O número só foi menor do que a quantidade de cirurgias feitas nos Estados Unidos no mesmo período. Por lá, foram 4.042.610 cirurgias – 18,6% do total mundial. Saiba o que os brasileiros mais mudam em seus corpos:
1- Lipoaspiração: Foram 182.765 registros em 2015, o que deu à lipoaspiração o título de campeã no ranking. No panorama mundial, a lipoaspiração ocupou o segundo lugar, com 1.394.588 cirurgias.
2- Aumento de mamas:  166.340 cirurgias de aumento de mamas foram realizadas no Brasil em 2015. No mundo, esse procedimento foi preferência e ocupou o primeiro lugar, com 1.488.992 cirurgias.
3- Blefaroplastia: A cirurgia das pálpebras foi realizada 143.165 vezes em 2015, número que conferiu a ela a terceira posição entre os procedimentos mais procurados.
4- Abdominoplastia: Foram 131.120 procedimentos no país durante os 12 meses de 2015.
5- Lifting de mamas: Fechando o top 5 nacional, o lifting de mamas foi realizado 80.520 vezes no Brasil no período analisado.

Redução de Mama

Na mesma direção do desejo por seios mais naturais, a redução de mama é um procedimento em alta. Em apenas uma cirurgia é colocada uma prótese e feita a diminuição. E a tendência é mesmo essa: utilizar o implante de silicone junto com a retirada de tecido para corrigir a queda dos seios – indicado a pacientes com flacidez.
Reações como alergias estão entre as mais comuns. Crédito: Bigstock
Reações como alergias estão entre as mais comuns. Crédito: Bigstock
A cirurgia costuma ser mais rápida quando feita em conjunto, deixa uma cicatriz menor e mais uniforme, além de tornar a recuperação mais ligeira. “Saem os bustos avantajados, e o que se percebe agora é a tendência de redução dos mamilos”, afirma a cirurgiã plástica Luciana Pepino, membro especialista em cirurgia plástica pela SBCP.
Quando o tamanho dos seios passa a afetar a saúde, especialmente com dor crônica, desconforto na coluna vertebral e até mesmo distúrbios psíquicos e sociais, a literatura médica descreve diferentes técnicas possíveis para a correção do problema. O tipo escolhido varia conforme a distribuição do tecido, a consistência predominante, o grau de flacidez da pele, a posição da aréola e a altura dos sulcos submamários. “As cicatrizes podem ser em forma de T invertido, L invertido, I ou somente peri-areolares. Também existe a possibilidade de associação da cirurgia redutora à lipoaspiração no prolongamento axilar da mama, em casos de seios muito grandes”, diz o cirurgião plástico Eduardo Cabral da Costa, membro associado da ISAPS.

Lifting Facial

Doctor hands in medical gloves touch beautiful young woman face with closed eyes after plastic surgery isolated on white background
Doctor hands in medical gloves touch beautiful young woman face with closed eyes after plastic surgery isolated on white background
O lifting facial também evoluiu e pode hoje ser realizado com anestesia local e sedação, tornando o pós-operatório mais tranquilo. A técnica se baseia na tração muscular para corrigir a queda e a flacidez da pele do rosto. Neste procedimento, o cirurgião acessa as estruturas da face por incisões mínimas e procede com o reposicionamento anatômico.
As cicatrizes acabam se confundindo com os próprios contornos da face e fazem do lifting uma opção cada vez menos invasiva e de recuperação acelerada. Outras técnicas podem ser associadas para corrigir as imperfeições, como o lifting facial endoscópico, recomendado para pacientes ainda jovens e com discreta flacidez no rosto, em especial no terço superior da face.
São pequenas incisões (de até 1,5 cm) no couro cabeludo seguidas da dissecção das estruturas anatômicas, o reposicionamento dos tecidos e as suturas de suspensão. Sobrancelhas, pálpebras e cantos dos olhos caídos, sulcos profundos e bigode chinês podem se beneficiar da técnica.

Abdominoplastia

A abdominoplastia é uma cirurgia muito procurada por quem deseja um abdome mais liso e uma silhueta mais definida. Mesmo pessoas com peso corporal e proporções normais podem desenvolver um abdômen frouxo e flácido em função de gravidez, envelhecimento, oscilações significativas de peso, hereditariedade e cirurgia prévia.
Para acabar com a barriga, uma boa alimentação (rica em grãos integrais, fibras e folhas verdes) é fundamental.  Foto: Bigstock.
Para acabar com a barriga, uma boa alimentação (rica em grãos integrais, fibras e folhas verdes) é fundamental. Foto: Bigstock.
“A abdominoplastia é normalmente realizada por uma incisão transversa logo acima dos pelos pubianos. Procuramos sempre posicionar a incisão de forma que a cicatriz resultante fique escondida pelas roupas íntimas e biquínis”, explica o cirurgião plástico Otto Saucedo, membro da SBCP e professor do curso de medicina das Faculdades Pequeno Príncipe (FPP).
Não é novidade que a abdominoplastia costuma deixar uma das maiores cicatrizes entre os procedimentos de cirurgia plástica – usualmente uma linha e um sulco de fora a fora no abdômen. A novidade, nessa modalidade, vem justamente em busca de uma cicatriz mais discreta. Nem todas as pessoas, porém, são candidatas a esse procedimento menos convencional.
“A mini abdominoplastia é realizada quando há excesso de pele e gordura somente na região abaixo do umbigo. Embora as duas técnicas sejam relativamente semelhantes em relação aos princípios de tratamento, as cicatrizes resultantes são normalmente menores nesse caso, devido à remoção mais econômica de tecido. Ao contrário da abdominoplastia, geralmente não é feito um novo umbigo”, assinala Saucedo.

Cirurgia da Pálpebra (Blefaroplastia)

Uma das principais cirurgias de rejuvenescimento facial, a técnica passou por evoluções notáveis. Até pouco tempo, a opção mais comum era o reposicionamento da área inferior da pálpebra, que
deixava o olhar mais arredondado e gerava mudanças muito acentuadas na expressão facial. De uns anos para cá, a correção da queda das pálpebras acontece por incisões que reposicionam os músculos e, quando necessário, se faz a retirada do excesso de pele.
Nos exames de visão, as artérias são vistas com clareza, sendo possível assim pré-diagnosticar outras doenças. (Foto: Bigstock)
Nos exames de visão, as artérias são vistas com clareza, sendo possível assim pré-diagnosticar outras doenças. (Foto: Bigstock)
Porém, não é só isso. Em uma visão moderna, a técnica exige uma análise global da região periorbital, contemplando um tratamento seriado e específico para cada região anatômica.
“Há o tratamento da hiperatividade da mímica facial, responsável pelo aparecimento de rugas ao redor dos olhos usualmente usando a toxina botulínica; reposição de volume na região ao redor das sobrancelhas e temporal, com preenchimento com ácido hialurônico, bioestimulação com ácido poli-l-láctico ou até mesmo lipoenxertia gordurosa; elevação da sobrancelha com procedimentos de fixação ou reposicionamento; retirada do excesso de pele, reposicionamento ou retirada do excesso de bolsas palpebrais que estejam visíveis; e reposição da perda de bolsas gordurosas na região da maçã do rosto e na região das olheiras, com preenchimento com ácido hialurônico ou lipoenxertia gordurosa”, diz o cirurgião plástico David Sena, membro especialista titular pela SBCP e pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) e autor do livro “O Que Você Precisa Saber Sobre Cirurgia Plástica”.
Segundo ele, o cirurgião plástico é capaz de determinar a melhor estratégia, inclusive associando outras técnicas. “Há outros procedimentos que podem ser necessários, como o tratamento das estruturas anatômicas profundas e anexos palpebrais, caso necessário”.
A blefaroplastia moderna busca, antes de tudo, um resultado funcional e livre dos estigmas da cirurgia até então realizada, como olhos que não fechavam completamente, excesso de lágrimas e pálpebras que viravam para fora. Todas essas mudanças resultam de estudos sobre a fisiologia palpebral, que focam na preservação de estruturas e inervações antes destruídas.

Rinoplastia

Plastic surgeon preparing for operation on woman face
Plastic surgeon preparing for operation on woman face
Há inúmeras opções e técnicas para a cirurgia plástica do nariz, mas a mais consagrada e moderna é conhecida como rinoplastia estruturada. Segundo o cirurgião plástico Luiz Roberto Araujo, membro titular da SBCP, da ISAPS, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e mestre em Cirurgia pelo Instituto de Pesquisas Médicas da faculdade Evangélica do Paraná, a rinoplastia estruturada aberta preserva com mais precisão o esqueleto ósseo e cartilaginoso do nariz sob visão direta, ou seja, o cirurgião consegue ver todas as estruturas nasais e seus defeitos.
“Não há fórmula, cada caso deve ser realizado de acordo com a anatomia e sintomas do paciente. O esqueleto nasal deve ser esculpido de forma precisa e reforçado com pontos de fixação e enxertos (pedaços de cartilagem) para reconstruir ou preservar a função respiratória e o aspecto estético desejado”, comenta ele.
A rinoplastia evoluiu de um procedimento redutivo para uma abordagem mais eficaz. A ênfase mais moderna foca no reposicionamento, aumento e reestruturação da anatomia nasal para criar um nariz o mais natural e funcional possível. “Essa técnica permite que se obtenha uma mudança permanente no formato nasal que não ficará sujeita a alterações ao longo do tempo ou em função da cicatrização”, diz. Outra vantagem? A rinoplastia estruturada, que comumente exige anestesia geral, pode ser realizada também associando-se anestesia local e sedação.

O efeito psicológico das intervenções

É bem verdade que os efeitos da cirurgia plástica transpõem a questão do viés estético e afetam diretamente o psicológico do paciente, para o bem e para o mal. Um estudo divulgado em
2016 buscou verificar a eficácia, a longo prazo, da cirurgia estética na melhoria das questões psicológicas – algo que até então não estava confirmado. Os resultados foram publicados na revista científica Clinical Psychological Science, editada pela Association for Psychological Science (APS).
Foto: Bigstock.
Foto: Bigstock.
Uma equipe de cientistas investigou, em longo prazo, os efeitos em 550 pacientes submetidos a cirurgias estéticas, para verificar se eles entendiam os limites e possibilidades das intervenções. As análises se debruçaram sobre questões como “esses pacientes são sistematicamente diferentes de outras pessoas?”; “quem metas foram estabelecidas para si mesmos antes da cirurgia?” e “que metas foram alcançadas depois do procedimento?”.
Além dos pacientes-alvo da pesquisa, os cientistas também pesquisaram outros dois grupos para formar a base comparativa: 264 pessoas que desistiram de procedimentos estéticos, apesar do desejo; e outras mil da população geral que nunca se interessaram pelo tema.
O que se verificou foi que as mulheres representam 87% de todos os pacientes que optam pela cirurgia plástica. De modo geral, não houve diferenças significativas entre os três grupos estudados
quanto a variáveis psicológicas (saúde mental, satisfação com a vida e níveis de depressão). Outro dado relevante é que a maioria dos pacientes não espera o impossível de uma cirurgia, ainda que 12% deles tenham respondido positivamente para questões irrealistas como “todos os meus problemas serão resolvidos” e “eu serei uma pessoa completamente nova”.

A longo prazo

Um semestre e um ano mais tarde, os mesmos pacientes foram pesquisados. Em média, confirmaram ter alcançado o objetivo desejado ao se sentirem mais saudáveis, atraentes e menos ansiosos. Sem efeitos adversos observados, os pesquisadores foram capazes de estabelecer um nível elevado para a média de sucesso do tratamento da cirurgia plástica para a manutenção ou melhoria das características psicológicas.
Isso não significa, porém, que todas as pessoas são boas candidatas às intervenções. Segundo os cientistas, conversar com o médico, expor as expectativas e, acima de tudo, estar ciente dos riscos envolvidos em todo e qualquer procedimento é conduta obrigatória. Em casos mais extremos, especialmente aqueles de busca incessante, é sempre importante verificar se não há algum transtorno psicológico associado.
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