Saúde e Bem-Estar

Monique Portela, especial para o Viver Bem

Coletor menstrual tem eficácia comprovada. Tire suas dúvidas!

Monique Portela, especial para o Viver Bem
31/08/2019 08:00
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Entre as situações adversas apontadas pela pesquisa sobre coletor menstrual, a principal foi uma questão de adaptação: a dificuldade em remover o coletor. Foto: Bigstock.

Quando o copinho de silicone que coleta o sangue menstrual chegou ao Brasil, em 2015, gerou muitas dúvidas e desconfiança. Além de, à época, não ser regulamentado pela Anvisa, o dispositivo encontrava como barreira o tabu em falar sobre menstruação.
Aos poucos, influencers e pessoas comuns expuseram seus relatos na internet, suscitando a curiosidade de quem nunca se sentiu muito à vontade com os absorventes descartáveis — ou, ainda, de quem se preocupava com questões ambientais.
As primeiras pesquisas científicas a respeito da confiabilidade e segurança dos dispositivos são recentes, e os resultados, animadores.
Em artigo publicado em julho na revista Lancet Public Health, uma equipe de 17 pesquisadores coletou dados de 3.319 participantes e analisou 43 estudos com informações sobre vazamento, aceitação e segurança dos coletores menstruais.
O resultado foi positivo em todas as frentes do estudo. Entretanto, entre as  situações adversas apontadas, a principal foi uma questão de adaptação: a dificuldade em remover o coletor.

“A maior dificuldade é para colocar e retirar o coletor, porque as pessoas têm medo de manipular”, explica a médica ginecologista Débora de Paula Soares Albuquerque.

Ao perceber que muitas mulheres tinham vergonha de sanar suas dúvidas na consulta médica, ela criou o blog Mulher Descomplicada. “O negócio é você relaxar, colocar o dedo e apertar a ponta do coletor, para tirar o vácuo. Se não conseguir, espere meia hora e tente de novo”, explica.

Todo mundo pode usar?

A médica explica que existem pouquíssimas contraindicações, apenas para quem tem câncer no colo do útero, tumores ou está com alguma infecção vaginal, para não aumentar a irritação no local.
Mas mulheres que usam DIU e têm medo de que o vácuo do copinho retire ou mova o dispositivo de lugar, podem ficar tranquilas.

“O coletor não tira o DIU. Já vi relatos de mulheres que tiraram o coletor e o DIU saiu junto, mas isso foi porque ele já estava fora do lugar”, aponta a ginecologista. O útero retrovertido também não impede o uso do coletor.

Como ele fica na parte inferior do canal vaginal, a posição do útero não interfere na sua utilização.
O correto é você relaxar, colocar o dedo e apertar a ponta do coletor, para tirar o vácuo.  Foto: Bigstock.
O correto é você relaxar, colocar o dedo e apertar a ponta do coletor, para tirar o vácuo. Foto: Bigstock.
Não vaza?
Dos 43 estudos analisados, quatro comparavam o vazamento dos coletores com outros absorventes. Em três estudos o vazamento foi semelhante entre as opções analisadas e, em um, os coletores saíram ganhando.
Entre os fatores apontados por colaborar com vazamentos estão menorragia, anatomia incomum do útero, tamanho inadequado do copo menstrual, colocação incorreta ou o fato de ele ter preenchido sua capacidade máxima.

Traz riscos à saúde?

A pesquisa mostra que não há associação entre o uso dos coletores e alterações cervicais ou vaginais. Houve queixas de lesões e irritações vaginais, mas sem consequências clínicas.

“O coletor é feito de silicone medicinal, é hipoalergênico, então não é para causar alergias e diminui muito as chances de infecção, por causa desse material, que é antibacteriano”, explica Débora. Uma preocupação frequente relacionada aos absorventes internos, porém, é a Síndrome do Choque Tóxico — condição que não escapa aos copinhos menstruais.

Síndrome do Choque Tóxico

Apesar de rara, a condição é perigosa e pode ser fatal. Ela é uma reação inflamatória do organismo à proliferação excessiva de bactérias Gram-positivas que liberam toxinas, em especial a Staphylococcus aureus.
A concentração de sangue nos absorventes internos e, agora sabe-se, também nos coletores menstruais, mantida no interior do corpo por muitas horas, é terreno fértil para a proliferação da bactéria.
A princípio, havia a ideia de que, por causa do material antibacteriano, os coletores seriam menos propensos à síndrome do que os absorventes internos.

Um estudo publicado em 2018 na revista Microbiologia Aplicada e Ambiental por pesquisadores franceses, porém, aponta que os copos menstruais não são mais seguros do que os absorventes internos e sugere que ambos precisam de cuidados semelhantes.

O principal é respeitar o intervalo de troca indicado na embalagem de cada coletor, que pode variar de 4h à 12h.

Cuide do seu coletor

Além de ficar de olho para fazer as trocas nos horários corretos, é importante higienizar adequadamente. Débora explica que, durante o ciclo, é preciso lavá-lo com água e sabonete neutro antes de cada uso.
“A ideia do sabonete neutro é não ter nenhum produto químico que vá prejudicar o silicone ou mudar o pH da vagina, mas você pode lavar apenas com água”, explica.
Já no começo e no final do ciclo, a recomendação é fervê-lo em água quente por 10 minutos, para esterilizá-lo. Caso o coletor ferva por mais tempo, é possível que sua durabilidade seja afetada.
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