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O medo do câncer de pele se alastrou entre a população, e isso é uma coisa boa e ruim ao mesmo tempo. Boa porque faz com que as pessoas usem protetor solar com mais frequência, e não se exponham ao sol desnecessariamente. Ruim porque o sol continua sendo um dos principais ajudantes na síntese da vitamina D no organismo e cada vez surgem mais estudos que relacionam diversas doenças, inclusive o câncer, à  sua deficiência.

>> Como manter a vitamina D em uma cidade que tem menos dias de sol que Londres?

Mas, há uma solução, segundo Michael Holick, médico endocrinologista, pesquisador e professor de medicina, fisiologia e nutrição no Centro Médico da Universidade de Boston e na Tuffs University. Em Curitiba na última quinta-feira (14), Holick concedeu entrevista ao Viver Bem sobre os benefícios da vitamina D e explicou como conseguir fazer a síntese dessa substância sem que o corpo carregue o risco do câncer de pele: a solução está na quantidade e nos horários de exposição ao sol. Confira!

Um estudo recente de pesquisadores brasileiros mostrou que o protetor solar não interfere na absorção da vitamina D. Podemos passar protetor solar e ainda assim fazer a síntese da vitamina D?

Os protetores solares impedem a absorção dos raios ultravioletas UVA e UVB, e a síntese da vitamina D é feita com o UVB. Se um protetor tiver um FPS de 30, ele reduz a entrada dos raios que chegam na pele em 95%. Ou seja, você reduz a habilidade de produzir a vitamina D em 95%. Não há questionamento sobre isso. O que os dermatologistas se baseiam é em um estudo feito na Austrália, onde os pesquisadores deram tubos de protetor solar aos participantes e pediram para que usassem. Depois, avaliaram a quantidade de vitamina D de cada um. Mas, eles nunca perguntaram se os participantes passaram protetor solar por todo o corpo, ou de que forma aplicaram. Se você usar o protetor de forma adequada, ele definitivamente vai reduzir a habilidade de produção da vitamina D.

Por usarmos o protetor solar de forma errada, então, conseguimos produzir vitamina D?

Sim e não, depende do protetor solar. Se você usar um protetor com FPS alto, de 50, mesmo se não passar da forma mais adequada, você vai conseguir uma proteção de, digamos, 30. Fizemos um estudo em agricultores do meio-oeste nos Estados Unidos para comprovar isso. Eles tinham um histórico de câncer de pele, então usavam o protetor solar da forma correta sempre. Todos tinham deficiência de vitamina D. Se você usar o protetor solar de forma adequada, você vai ter deficiência de vitamina D.

(Foto: Divulgação)
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Então, o sol não é necessariamente o vilão? Como usar o protetor de forma adequada, mas ainda conseguir sintetizar a vitamina D?

Eu sempre recomendo que as pessoas protejam o rosto, mas não os braços, pernas, costas e abdome. Um estudo feito com ingleses mostrou que o dano do raio solar no DNA na pele não é tão impactante assim. No estudo, adultos foram expostos a uma luz solar simulada, durante seis semanas. Os pesquisadores verificaram o impacto no DNA no início e no fim da pesquisa. Eles provaram que quando temos uma exposição múltipla por semana há menos dano no DNA da pele. Isso significa que o corpo se adapta aos raios ultravioletas e, então, essa coisa de qualquer exposição solar causa câncer de pele, eu acho que é muito exagero. Pessoas que trabalham embaixo do sol têm menos chance de desenvolver melanoma, em relação àquelas que se protegem sempre, mas se queimam aos fins de semana.

Aqui em Curitiba, a exposição solar é bem diferente das outras cidades brasileiras. Temos menos dias de sol que Londres, por exemplo. Ainda assim, é uma das capitais com maior número de casos de melanoma. Qual seria a sua recomendação para os curitibanos?

Eu recomendo a exposição solar de forma sensata, como tudo na vida. Quem tiver dúvidas de que horas se expor ao sol, como fazer e por quanto tempo para ter a produção de vitamina D adequada, sem queimaduras, desenvolvemos um aplicativo gratuito que dá essas respostas. Se chama DMINDER info (disponível para Android e iOS).

“Essa coisa de qualquer exposição solar causa câncer de pele, eu acho que é muito exagero.”

Em quais casos é necessária a suplementação de vitamina D?

A minha recomendação é que todas as crianças recebam a suplementação ao longo do ano, com mil unidades de vitamina D por dia. Adultos, no mínimo 1,5 mil a duas mil unidades. Os efeitos são melhores com uma dose maior. Eu tomo cinco mil unidades de vitamina D todos os dias e meus pacientes tomam três mil unidades, diariamente.

Quantidade correta

Os valores de referência considerados adequados de vitamina D, segundo a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/ Medicina Laboratorial é acima de 30ng/mL. No entanto, ainda são aceitos como valores normais a partir de 20 ng/mL.

Faz um tempo que pesquisadores tentam relacionar as deficiências de vitamina D com aumento no risco de câncer. Como estão esses estudos?

Um dos mais recentes foi um estudo de Harvard feito com enfermeiras. As mulheres com níveis de 40 a 50 ng/mL de vitamina D no organismo tinham o risco de câncer de mama reduzido em 40%. E 50% de redução no risco do câncer colo retal. Há pelo menos uma dezena de cânceres associados a deficiência de vitamina D.

E com relação à obesidade? Pode ter uma relação entre deficiência de vitamina D e obesidade?

Percebemos que, ao darmos vitamina D para pessoas obesas e com deficiência de vitamina D, elas se sentem melhor, com mais ânimo, porque a deficiência causa fraqueza muscular, fadiga e depressão. Estando mais animadas, é mais fácil para se tornarem fisicamente ativas, levando a uma perda de peso.

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