Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Cone Hindu, técnica chinesa que promete aliviar sintomas da sinusite, divide opiniões

Amanda Milléo
25/06/2018 12:00
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A técnica do Cone Hindu, ou Cone Chinês, promove a queima de um cone envolto em um tecido com (ou sem) óleos essenciais para a liberação de energia e consequente desobstrução de algumas áreas do corpo (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo) | Leticia Akemi

Em um primeiro olhar, a terapia do cone Hindu, também chamado de Cone Chinês, assusta. O objeto em formato de um cone, feito a partir de cera de abelha, parafina e algodão cru, embebido em óleos essenciais e ervas medicinas, é colocado em chamas na extremidade maior para que a outra parte, menor, aqueça determinados pontos do corpo humano – como os ouvidos.
Esse aquecimento do cone, e da área do corpo em que é disposto, traria alguns benefícios à saúde, segundo quem pratica a técnica. Além do ouvido, o cone Hindu pode ser colocado sobre diferentes pontos do corpo, o que favoreceria uma limpeza dos canais energéticos, permitindo um melhor fluxo de energia.
Os benefícios mais fáceis de serem identificados são aqueles relacionados, justamente, ao ouvido ou trato respiratório. Quem sofre com as secreções das sinusites, alergias respiratórias, dores musculares e nas articulações, bem como excesso de cerúmen no ouvido, teria os sintomas dessas condições aliviados pela prática.
“O cone esquenta e movimenta a energia da cabeça. Quando dá esse movimento, essa fricção celular faz com que a energia se alinhe e o cone suga essa energia em excesso. O cone não chega a sugar a cera do ouvido, mas ajuda na liberação dela. As pessoas acham que a cera do ouvido sai, mas não”, explica Karina Cordeiro, terapeuta de terapias holísticas e professora de ioga, além de co-fundadora da Casa Inspiração (local onde também se aplica a técnica em São José dos Pinhais).
Das principais indicações do cone Hindu, estão: alergias respiratórias, como rinite, sinusite; alinhamento e harmonização dos chakras; redução do estresse, ansiedade, nervosismo, dores de cabeça e enxaquecas; estados gripais e resfriados; excesso de cerume, umidade, desconforto nos ouvidos, nariz e garganta; zumbidos, labirintite, vertigens e insônia.

Não há nenhuma evidência científica que comprove o uso do cone Hindu para essas condições, conforme destaca o parecer do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (CRM-RS).

Como funciona?

A técnica é aplicada durante 45 minutos, em média, segundo Cordeiro, mas o tempo varia conforme as reclamações da pessoa. “Quando a pessoa está em crise, acabamos usando mais de um cone, em diferentes partes do corpo. Tem quem fique duas horas na sala, mas então podemos usar várias técnicas junto, como aromaterapia, exercícios respiratórios, massagem. Uma procura frequente é para a ansiedade”, destaca a terapeuta.

Riscos

Embora o cone não fique em contato direto com a estrutura do ouvido (alguns terapeutas holísticos usam toalhas para proteção), médicos e entidades de saúde criticam e não recomendam a prática, sob risco de queimaduras e lesões na audição, que podem ser irreversíveis.
“Faz mais parte do padrão cultural do que científico. Uma sinusite bacteriana, por exemplo, não tem como ser curada por um cone. O paciente pode se sentir melhor depois da prática, mas não há uma cura“, explica Lourimar de Moura Moreira, médico otorrinolaringologista do hospital Santa Cruz.
Das sequelas relatadas pelos médicos otorrinolaringologistas, Carlos Aquino, médico otorrinolaringologista do hospital VITA Batel destaca queimaduras na pele e lesões no couro cabeludo.  “Como não tem o controle do calor, o risco existe. O calor é um ótimo analgésico, mas quando é controlado. As queimaduras podem levar a perda do tímpano, surdez, lesão na orelha. Lesões graves e, às vezes, irrecuperáveis.”
Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul emitiu em 2007 um parecer em que também desestimula a prática aos pacientes. “Há descrição de queimaduras do canal auditivo externo, de bloqueio do canal com a cera de abelha ou parafina e, mesmo, perfuração timpânica. A remoção do excesso de cerúmen é procedimento médico (…) Deve, portanto, ser realizada por profissional habilitado – o médico.”
(Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)
(Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)

Fogo controlado

Quem pratica a técnica reforça que os riscos, embora existam, são controlados. Portanto, fazer em casa, sem orientação de um profissional treinado, não é indicado.
“Como é uma terapia que utiliza fogo, há necessidade de atenção, e o cuidado deve ser ainda maior quando aplicado em crianças. Neste caso, um profissional que saiba realizar a técnica com eficácia e eficiência”, destaca Lis Ginrani Rolff, terapeuta holística vibracional e proprietária do espaço Om Sattva, onde se aplica a técnica.
(Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)
(Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)
Karina Cordeiro, terapeuta holística e co-fundadora da Casa Inspiração (local onde também se fornece o cone hindu, em São José dos Pinhais), aplica a prática na sua bebê desde os primeiros meses. “É bem natural e pode ser usado em crianças. Eu tive minha filha em casa e no primeiro dia ela ficou com o nariz trancado. No primeiro mês usei o cone nela e desobstruiu”, relata a terapeuta, que aplica o cone sempre que acha necessário.
Para evitar qualquer risco, segundo Cordeiro, as pessoas recebem também uma proteção extra. “Colocamos uma toalha na orelha e aquele calor não chega a ficar em contato com o corpo. [A pessoa] sente o calor pelo tubo, do cone, mas a cabeça fica totalmente protegida. Não é invasivo, é totalmente externo. Quando está queimando, o cone faz um barulho de chuva que é relaxante”, explica.
Além disso, ao contrário do que as pessoas podem achar, a cera do cone Hindu não cai no ouvido e nem a cera de ouvido é retirada com a prática. “Não cai no ouvido, mas aquece a região aumentando o fluxo sanguíneo e energético (…) O cone auxilia na retirada de umidade, frio e vento/ar que podem estar causando desconforto e dor nos ouvidos”, explica Rolff.
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