Saúde e Bem-Estar

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo

Lúpus tem diagnóstico a partir da observação de manchas e ferimentos

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo
14/10/2019 19:00
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Foto: Bigstock

O lúpus eritematoso sistêmico, ou apenas lúpus, é doença inflamatória autoimune, ou seja, faz com que o sistema imunológico, exatamente aquele que deveria proteger, ataque o próprio corpo.
Ele pode se manifestar em vários órgãos de forma lenta ou agressiva e, em razão de sua complexidade, inclusive quanto ao diagnóstico, costuma gerar muitas dúvidas entre os portadores.

As causas do lúpus não são exatamente bem conhecidas, mas sabe-se que, assim como outras doenças autoimunes, o fator hereditário exerce influência importante em seu desenvolvimento.
Outras questões hormonais e ambientais, tais como gravidez, quadros infecciosos, menarca e estresse, também podem atuar como gatilhos nos indivíduos predispostos.

O lúpus acomete homens e mulheres em diferentes faixas etárias, mas é especialmente prevalente em mulheres jovens, com idades entre 20 e 40 anos.

Os sintomas variam a cada caso, mas, de modo geral, são sentidos nas articulações e na pele (lesões cutâneas, fotossensibilidade e uma macha no rosto, cujo formato lembra as asas de uma borboleta, estão entre os sinais).
Febre baixa, fadiga, emagrecimento e inchaço nos gânglios também ajudam a compor a clínica geral dos pacientes acometidos.
Como ocorre uma inflamação nos vasos sanguíneos, a doença pode se disseminar para todo o organismo (por isso é classificada como sistêmica), com consequências mais sérias quando atinge o sistema neurológico (elevando os riscos de AVC e outras ocorrências) e os rins (que podem desenvolver de nefrite a insuficiência renal).

Investigação

Sintomas de lúpus podem mimetizar outras doenças, tornando difícil seu diagnóstico. Uma vez manifestados, o médico reumatologista vai iniciar uma investigação completa, levando em conta todo o quadro clínico do paciente, associado a resultados de exames laboratoriais específicos como FAN (fator antinuclear, quase sempre positivo nos pacientes com lúpus), outros marcadores imunológicos, hemograma e mais uma série de análises.

Tratamento

Quanto mais rápido o início do tratamento, menos chances de sequelas. O tratamento do lúpus é feito com medicamentos imunossupressores para evitar as crises e a evolução, analgésicos e antiinflamatórios, e deve acompanhar o paciente por toda a vida, especialmente durante as exacerbações da doença (crises inflamatórias).

Os corticoides modernos têm apresentado menos efeitos colaterais e a técnica da plasmaferese, que separa o plasma de outros elementos sanguíneos, e retira dele substâncias ligadas à doença em circulação no sangue, são alternativas eficazes no controle do lúpus.

Todo o tratamento varia conforme as manifestações da doença e, a maioria daqueles que seguem bem as recomendações médicas, não devem sofrer com os sintomas.

Os 11 sintomas

Sozinhos, os exames não fecham nenhum diagnóstico, especialmente sem os sintomas típicos. O American College of Rheumatology, uma das principais instituições destinadas à pesquisa e tratamento da doença, estabeleceu onze critérios para o diagnóstico de lúpus. A manifestação simultânea de quatro deles é forte indicador do diagnóstico. São eles:
  • Pequenos ferimentos periódicos na boca e no nariz
  • Manchas na pele, especialmente quando exposta ao sol
  • Na face, lesão avermelhada e descamativa em formato de asa de borboleta
  • Fotossensibilidade
  • Artrite
  • Lesão renal, que evolui para insuficiência renal progressiva
  • Lesão cerebral, convulsão, ansiedade, psicose e depressão
  • Serosite, uma inflamação da membrana que recobre externamente os pulmões (pleura) e o coração (pericárdio)
  • Anormalidades hematológicas
  • Disfunções imunológicas
  • Fator antinuclear (FAN) positivo

Qualidade de vida

Apesar da complexidade da doença, é possível conviver com ela e manter um bom padrão na qualidade de vida. Contudo, cabe ao paciente incorporar algumas condutas diárias, como ter uma alimentação saudável, ingerir quantidades satisfatórias de água, praticar exercícios físicos com regularidade, não fumar, não beber álcool, evitar a fotoexposição e utilizar protetor solar todos os dias, mesmo quando não se tratar da forma cutânea da doença.

Quem cuida?

O médico reumatologista é o especialista responsável por tratar pacientes diagnosticados com lúpus. Contudo, como a doença é capaz de atingir vários órgãos, pode ser necessária uma abordagem multidisciplinar, com o acompanhamento de diferentes especialistas.
Fonte: Adriana Pinheiro Pato, reumatologista e American College of Rheumatology.
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