Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Considerada vício pela OMS, dependência de videogame surge após uso descontrolado

Amanda Milléo
28/01/2018 12:00
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Dependência em videogame agora é listada como doença pela OMS. Foto: Bigstock.

Ao lado do vício em álcool, drogas, sexo e compras, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu incluir a adicção em videogames na próxima atualização da Classificação Internacional de Doenças (ICD-11) – lista usada por médicos para o diagnóstico de desordens mentais.
A incapacidade de controle sobre o jogo tem chamado a atenção de médicos ao redor do mundo, principalmente porque o isolamento e o prejuízo na vida pessoal atingem jovens cada vez mais cedo. A chamada ludopatia, termo que designa o comportamento de jogo compulsivo, causa mudanças de comportamento como irritabilidade e sintomas de abstinência.
Um dos perigos do videogame está no vício ser condicionado ao comportamento. “Se você passa a jogar cada vez mais, o risco de desenvolver um comportamento compulsivo aumenta”, explica Luiz Fernando Petry, médico psiquiatra do hospital Santa Cruz. Com o acesso cada vez maior de crianças aos meios eletrônicos e internet, e por consequência aos jogos, as chances de termos mais pessoas aditivas aos videogames também crescem.

Países em alerta

No Japão, o vício se tornou uma questão de saúde pública, e os jogadores são alertados caso passem muito tempo jogando. Na China, a empresa de tecnologia Tencent limitou o tempo que o videogame King of Glory pode ser jogado por crianças a uma hora por dia.
“Hoje vemos crianças com de sete, oito, nove anos com um celular, sem motivo nenhum. Os pais argumentam que é para ligar para os filhos, mas o que menos usamos em um smartphone é o telefone. Com o aparelho, a criança entra na internet, tem o risco de exposição sexual, e o risco do jogo. Imediatamente você nota o comportamento da criança que pede pelo jogo o tempo todo e, quando é negado, sofre. Esse é um sinal de que algo não está certo”, alerta Ricardo Manzochi Assmé, médico psiquiatra e diretor secretário da Associação Paranaense de Psiquiatria.

Sinais de dependência

O vício em videogames é caracterizado pela perda de controle da pessoa sobre a atividade. “Se ela pretendia jogar um determinado número de horas e joga muito mais que isso, ou quando troca trabalho, amigos, família para ficar jogando. Quando há interferência na vida familiar, profissional, na saúde, chamamos de dependência comportamental em jogos eletrônicos”, reforça Petry.
Famílias devem ficar atentas se a pessoa passa cada vez mais tempo jogando, não dorme direito ou, quando não tem acesso ao videogame, tem sintomas de retirada, como irritação, intolerância, tenta jogar escondido, etc.
O diagnóstico da dependência é feito em consultório, com base no depoimento da própria pessoa, e de quem estiver próxima a ela. Nem sempre quem sofre com a adicção se dá conta do tamanho do problema. “A terapia cognitiva comportamental é a principal forma de tratamento para os distúrbios por substâncias ou outros comportamentos aditivos. O médico coloca limites comportamentais e analisa se o paciente tem esse comportamento essencialmente pelo prazer ou se é um alívio de algum tipo de desprazer, como depressão ou ansiedade. Você busca o entendimento do comportamento”, explica Assmé.
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