Saúde e Bem-Estar

Rafael Costa e Amanda Milléo

Durante velório, família acredita que homem ainda está vivo por ter atividade no coração

Rafael Costa e Amanda Milléo
09/08/2017 19:55
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Oxímetro foi usado para constatar a atividade cardíaca de homem, falecido no interior do Paraná (Foto: Bigstock)

Uma família de Santa Helena, no Oeste do Paraná, acionou o pronto atendimento do município para verificar se o corpo de um familiar, que estava sendo velado na manhã desta quarta-feira (9), estava realmente sem vida.
O falecido tinha 44 anos e morava em São José das Palmeiras. Um médico da cidade, que fica a cerca de 30 quilômetros de Santa Helena, havia dado o atestado de óbito na noite de terça (8). O homem havia sido vítima de enfarte.
Durante o velório, no entanto, a família começou a cogitar que o familiar ainda estava vivo, devido à cor e à temperatura do corpo, e entrou em contato com o pronto atendimento de Santa Helena.
Um médico e uma enfermeira foram ao local com um aparelho chamado oxímetro de dedo para medir possíveis batimentos cardíacos. O resultado mostrou atividade no coração — segundo Fernando Santin, o médico que atendeu a ocorrência, uma situação comum quando pessoas mais jovens morrem. “O aparelho detectou uma atividade elétrica sem pulso, mas ele já estava em óbito”, disse o médico, em entrevista por telefone ao Viver Bem.
Santin explicou a situação à família, mas o resultado do oxímetro aumentou as dúvidas entre os presentes no velório e o médico aceitou levar o corpo para realizar outros exames.
No pronto atendimento, o corpo passou por um exame clínico e um eletrocardiograma. O óbito foi novamente constatado por Santin, além de um segundo clínico-geral e um cardiologista. Todo o procedimento durou cerca de duas horas. O corpo, então, foi levado novamente para o velório.
“A família pediu e a gente fez tudo isso para tirar essa dúvida. Mas em nenhum momento foi cogitado que ele estivesse vivo”, explicou o médico. “A certeza tinha que ser dada”, continuou Santin. “Eu me coloco no lugar da família: se fosse um parente meu, eu iria querer saber exatamente o que estava acontecendo.”
Como é possível o coração bater depois de morto?
O músculo do coração tem uma atividade elétrica como qualquer outro músculo do corpo e, em casos de mortes súbitas, pode apresentar uma contração mesmo depois do falecimento. Isso, no entanto, é raro e acontece em um período de tempo muito curto, de acordo com informações de Luiz Fernando Kubrusly, cirurgião cardiovascular do hospital VITA, em Curitiba.
“São 30, 40 minutos, talvez uma hora ou pouco mais, mas não mais que isso, que possa acontecer alguma contração do músculo, uma atividade elétrica do coração. Já vi pacientes que tiveram uma parada cardíaca e 40 minutos depois aparece uma contração no cardioscópio, mas isso não tem significado”, reforça o médico.
Para Kubrusly, o uso do oxímetro como instrumento para determinar se o paciente continuava vivo também não é o objeto mais indicado. Primeiro porque, mesmo que haja uma atividade elétrica, o pulso não é o local mais indicado para essa medição. “O pulso na virilha e no pescoço podem nos ajudar na constatação do óbito. No punho, o pulso pode desaparecer antes de a pessoa ter morrido de fato”, reforça o cirurgião.
“É por isso que existe um atestado de óbito, feito por um médico. Há uma sequência que deve ser seguida pelo profissional para ter certeza de que o paciente morreu”, explica Luiz Fernando Kubrusly.
Corpo pode se “mexer” depois da morte
Existem alguns movimentos que são comuns e que podem acontecer logo depois de constatado o óbito de uma pessoa. Por isso que, segundo o cirurgião cardiovascular Luiz Fernando Kubrusly, é feito o preparo do corpo antes do velório e enterro. Confira alguns desses movimentos:
– Atividade elétrica nos músculos. Se alguém beliscar a perna de outra pessoa que recém faleceu, ela pode contrair;
– Contração intestinal;
– Secreções;
– Sangramentos.