Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo, com informações de Júlia Rohden, especial para a Gazeta do Povo

Corrida solidária: atletas da Maratona de Curitiba alertam sobre doenças do sangue

Amanda Milléo, com informações de Júlia Rohden, especial para a Gazeta do Povo
19/11/2017 14:30
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No pódio, ex-pacientes do hospital Nossa Senhora das Graças que lutaram contra a leucemia e incentivam a doação de medula óssea (Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)

Era bem próximo do horário de entrada na pista da Maratona de Curitiba 2017 quando Sara Yoshie Romero avistou, de longe, a largada. Ela correu, como correria nos 10 km seguintes, e conseguiu chegar a tempo para dar início à competição, ao lado dos amigos do grupo Boraturma. Ao virar o olhar, porém, viu o stand do movimento The Hardest Run, mas não havia mais tempo de buscar a sua placa. Essa seria a primeira corrida que incentivaria, com um número novo colado à camisa, a doação de medula, sangue, entre outros elementos que ajudam no tratamento de diferentes doenças do sangue.
“Eu soube do movimento pelo site da corrida, mas como cheguei em cima da hora, fui direto correr e não deu tempo de pegar antes. Achei a ideia maravilhosa e espalhei para todos os meus amigos, para todos tirarem o seu número”, diz a administradora de 48 anos, que fez questão de buscar o seu número na lista de cadastrados como doadores. “Vou usá-lo em todas as corridas”, completa.
(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
A Maratona de Curitiba, neste domingo (19), foi o evento de lançamento oficial do movimento The Hardest Run no Brasil, ou a corrida mais difícil, em tradução livre, que busca incentivar o cadastro como doador – seja de que tipo for. Idealizado pelo maratonista extremo Marcelo Alves em parceria com o hospital Nossa Senhora das Graças, a ideia é que as pessoas – sejam elas corredoras ou não – ofereçam dados e informações importantes, como tipo sanguíneo, para um cadastro geral do movimento. Quando um hospital ou entidade precisar de doadores, a lista de interessados será acionada e os compatíveis poderão ajudar no tratamento de diversas doenças.
“A lista que estamos formando é para salvar vidas. Queremos criar um time que ajude com as doações de plaquetas, leucócitos, que nem sempre é fácil de encontrar”, explica Mihaela Moura, 40 anos, publicitária e uma das idealizadoras do projeto.
Desde a retirada dos kits para a Maratona até este domingo, mais de 600 pessoas haviam recebido seus números para colarem nas camisetas de corrida, completando os mais de 1 mil participantes que já estão no projeto, no total. Dois desses novatos foram Thiago Gonçalves, de 31 anos, técnico de ar condicionado, e Larissa Dubinski, de 33 anos, professora.
“Não tem dinheiro que pague a ideia de ajudar a salvar vidas. Fiquei sabendo do movimento pelo Facebook e hoje, antes de corrermos, pegamos os nossos números. Eu já era doadora, mas agora vou incentivar ainda mais”, conta Larissa, que começou a correr ao lado do namorado em março deste ano e sugere: “para quem quiser começar, pegue uma corrida noturna, que são as mais gostosas.”
(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
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A preocupação de Aline Mendes, professora de 39 anos, com o incentivo à doação de medula óssea esteve na sua casa por todo o ano passado. Diagnosticado com leucemia aos 36 anos, Maicon Mendes, funcionário público e esposo de Aline, começou o tratamento contra a doença em janeiro de 2016. Em março deste ano, ele recebeu a notícia de que um doador tinha sido encontrado, na Alemanha.
“Por muito tempo fui obeso mórbido, mas com a corrida consegui chegar ao peso de dois dígitos apenas. Um dia, depois de uma corrida, me senti muito mal. Muito cansaço e sem forças. Procurei um médico e recebi o diagnóstico da leucemia. Fui internado 11 vezes, tive três pneumonias e fungo no pulmão. Este é, na verdade, o primeiro fim de semana que a médica me liberou para sair”, conta Maicon.
Neste domingo, Aline não perdeu a oportunidade para correr na Maratona com o número do movimento e incentivar novos doadores.  “Nossa vida mudou completamente. Eu falo para todo mundo sobre a importância em ser doador, inclusive na sala de aula. Os meus alunos, todos sabem porque eu repito muito!”, conta a professora.
(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
Por terem encontrado um doador apenas fora do país, a família de Maicon reforça sempre o cadastro. No Brasil, atualmente, há mais de 4 milhões de inscritos no cadastro nacional – dados do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) – mas o número, embora alto, ainda é insuficiente.
As chances de compatibilidade variam conforme as características genéticas do receptor, podendo ser de 1 para 1000 a 1 para cada 1 milhão, de acordo com dados do hospital Nossa Senhora das Graças. O transplante de medula óssea é indicado para o tratamento de doenças como leucemias, anemias, linfomas e mielomas. Em alguns casos, é a única possibilidade de cura – como foi o caso de Noah.
Aos 9 meses de idade, Noah Nadalini tossia sem parar e tinha várias marcas roxas pelo corpo. A mãe, Camila Brito, assistente jurídica de 25 anos, estava incomodada com os sinais, mas sempre havia uma desculpa para tranquilizá-la: ele está aprendendo a andar, os roxos são das batidas, e a tosse logo passa.
(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
(Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo)
Ainda assim, decidiu levá-lo ao pediatra, que logo percebeu o baço inchado do menino e desconfiou das manchas. “O mérito é todo do médico que não perdeu tempo e pediu os exames de sangue. Lá viu que os leucócitos estavam alterados e diagnosticou a leucemia. A sorte foi que descobrimos bem no início”, diz Camila. Foram necessários 25 doadores de sangue, 39 doadores de plaquetas e 1 doador de medula alemão para que Noah se recuperasse.
Hoje, com seis anos, Noah e a mãe fazem parte do time da The Hardest Run, que busca conscientizar a população para serem doadores – e manterem o cadastro sempre atualizado. Só assim você pode ser chamado a qualquer momento para salvar uma vida.
Dúvidas:
O que é preciso para ser doador de medula óssea?
Ter idade entre 18 e 55 anos e boas condições de saúde são as condições para ser doador de medula óssea. A exceção na faixa etária é feita nos casos em que o doador for uma criança irmã/irmão do receptor. O restante dos critérios costuma a ser o mesmo utilizado para a seleção de doador de sangue e o cadastro pode ser feito em qualquer hemocentro.
Cerca de 5 ml de sangue são retirados para a realização dos testes de compatibilidade genética. Também é feito um cadastro por escrito com os dados do voluntário, que ficarão armazenados no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome).
Como é feito o transplante?
Se os resultados forem compatíveis com os de um paciente que precisa do transplante, o doador é chamado para realizar exames complementares que confirmem a compatibilidade e a ausência de doenças que impeçam a doação.
O tipo de transplante de medula óssea mais comum dura em média duas horas. O doador passa por uma pequena cirurgia, na qual recebe anestesia geral ou local (na área da lombar). São feitas de quatro a oito punções nos ossos da bacia para aspirar parte da medula, retirando em média 15 ml do volume da medula por quilo do peso do doador – o que não compromete sua saúde. Essas células retiradas são acomodadas em uma bolsa especial, congeladas e transportadas em condições específicas até o local do transplante.
A medula óssea do doador se recompõe em apenas 15 dias. Ele permanece internado por um dia e após uma semana pode retornar às suas atividades habituais. O portal do Redome informa que nos primeiros três dias, o doador pode sentir um desconforto de leve a moderado, amenizado facilmente com o uso de analgésicos.
Outra forma de coleta é chamada de aférese, quando o doador utiliza medicação alguns dias antes para aumentar o número de célulastronco no sangue. A pessoa faz a doação por meio de uma máquina que colhe o sangue da veia, separa as células-tronco e devolve os elementos do sangue que não são necessários.
Não há necessidade de internação, nem de anestesia. A decisão sobre o tipo de doação é exclusivamente dos médicos e varia de acordo com a situação do paciente.
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