Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Criança que nasceu com 4 dedos na mão tem indicador transformado em polegar

Amanda Milléo
05/04/2017 16:57
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Menina de dois anos nasceu com apenas 4 dedos na mão direita e sem o osso rádio, do mesmo braço (Foto: Divulgação)

Essa não foi a primeira e nem será a última cirurgia em que Paulo Henrique Ruschel, médico ortopedista e traumatologista do hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS), transformará um dedo indicador em um polegar. Embora sejam casos raros e incomuns, há crianças que nascem com dedos a menos ou mesmo ossos faltando, resultado de uma desordem genética durante o desenvolvimento na gestação, sem causa aparente.
Foi o caso de uma menininha de dois anos, nascida no Rio Grande do Sul, e que “recuperou” o polegar no fim de março em procedimento chamado de policização – transformação em polegar. Além do dedo, ela nasceu sem o osso rádio, localizado no braço direito. A condição fez com que a mão “caísse” para o lado, prejudicando o movimento do punho e a utilidade da própria mão.
Cerca de 70% da funcionalidade da mão depende do polegar, de acordo com o médico, que também é cirurgião da mão e de microcirurgia reconstrutiva e professor convidado da Universidade Federal de Ciência da Saúde de Porto Alegre, da disciplina de Ortopedia. “O paciente sem o polegar perde muito a função da mão, que é pegar os objetos. O polegar fica de frente aos demais dedos, e esse movimento de oponência permite escrever, digitar, segurar as coisas. Tudo isso será possível para a menina agora”, explica Ruschel.
Menina de dois anos nasceu com apenas 4 dedos na mão direita e sem o osso rádio, do mesmo braço (Foto: Divulgação)
Menina de dois anos nasceu com apenas 4 dedos na mão direita e sem o osso rádio, do mesmo braço (Foto: Divulgação)
Embora pareça, na conversa com o médico especialista, que o procedimento de transformar um indicador em um polegar seja simples, ele exige muitos detalhes nos ossos e músculos da mão. O dedo indicador, por exemplo, possui quatro ossos – as conhecidas “falange, falanginha e falangeta”, além do metacarpo, que é o osso da mão. O polegar, por outro lado, tem apenas três: duas falanges e o metacarpo.
“Foi preciso retirar uma parte desse indicador, mantendo a cabeça do osso, que passa a ter outra função. Uma parte do metacarpo se transforma em trapézio e, junto com as mudanças de músculos, permitem que o polegar vá de encontro aos outros dedos, fazendo o movimento de pinça”, explica o médico.
Mesmo não sendo possível “construir” um novo osso do rádio, o punho da menina foi reajustado a uma posição mais centralizada, para facilitar o movimento. “Colocamos em uma posição mais funcional que aquela desviada. Isso permite o movimento do punho, que facilitará na hora que ela for escrever e fazer outras atividades”, diz Ruschel.
(Imagem: Divulgação)
(Imagem: Divulgação)

Idade é importante

Para garantir a qualidade de vida da criança, o tratamento deve ser feito o quanto antes, para que o cérebro não tenha tempo de se adaptar a ter poucos dedos a controlar. O médico Pedro Henrique Ruschel sugere que até o primeiro ano de idade a criança pode receber uma tala, que mantenha o punho em uma posição adequada.
A cirurgia do polegar, por outro lado, pode ser feita por volta dos dois anos de idade. “Os resultados dos procedimentos, quando feitos depois, com três, quatro ou cinco anos de idade, não são tão bons em comparação a quem fez mais cedo. Isso se deve a questões de informação cerebral. O cérebro se adapta a essa posição sem polegar e depois ele não consegue mandar informações com a mesma agilidade para o dedo – mesmo que esteja na posição adequada”, explica Ruschel.
Procedimento de policização transformou o dedo indicador em polegar (Foto: Divulgação)
Procedimento de policização transformou o dedo indicador em polegar (Foto: Divulgação)
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