Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Exame de sangue vai ajudar em diagnóstico mais preciso da depressão

Amanda Milléo
05/08/2018 17:00
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(Foto: Bigstock)

Biomarcadores encontrados no sangue e na saliva são velhos conhecidos dos psiquiatras como ferramentas que colaboram na prescrição do melhor tratamento de um transtorno mental. Um novo estudo, porém, sugere um passo a mais: usá-los no diagnóstico dessas doenças, especificamente da depressão.
Um estudo divulgado no fim de julho pelo periódico científico PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America) sugere um biomarcador específico, a Acetil-L-carnitina, como determinante para o diagnóstico da depressão. Embora a pesquisa seja incisiva na confiabilidade da fórmula, especialistas estão receosos.
“Hoje o diagnóstico dos transtornos depressivos é basicamente clínico. Mas faz algum tempo que sabemos de alguns marcadores biológicos que podem perceber subtipos de depressão e, com isso, ajudar no tratamento”, explica Raquel Tatiane Heep, médica psiquiatra da prefeitura municipal de Curitiba e professora do curso de Medicina da Universidade Positivo.

Outros fatores

Um dos biomarcadores usados pelos psiquiatras é a interleucina, que poderia indicar um processo depressivo. “Quando a interleucina está aumentada, pode ser um preditor do processo depressivo, mas o diagnóstico final continua sendo clínico. A acetilcarnitina já estava em estudos, mas ainda não se pode falar que ela realmente diagnostique a depressão, pois há outros fatores que alteram o biomarcador”, reforça Heep.
Segundo a psiquiatra, um paciente oncológico, por exemplo, pode ter a interleucina alterada – da mesma forma que o depressivo. No caso da acetilcarnitina, mudanças nos hábitos alimentares também podem influenciar nos números, o que não significaria, necessariamente, uma depressão instalada.

“O futuro vai partir para isso. Diagnósticos bastante específicos, com o auxílio dos biomarcadores, mas sem deixar de casar com a parte clínica”, prevê a psiquiatra.

Além disso, nem toda pessoa em depressão teria o biomarcador de acetilcarnitina elevado – e o exame de sangue não ajudaria no diagnóstico para todos os tipos de depressão.

Exames disponíveis para colaborar no tratamento 

Os exames de sangue que fazem a leitura dos biomarcadores estão disponíveis à população, mas o custo elevado e a vulnerabilidade diante a outros fatores contraindica o uso sem necessidade. Pessoas que fariam bom uso desses exames, segundo a médica psiquiatra Raquel Heep, seriam aquelas que ainda não encontraram o tratamento mais adequado.
“Pacientes refratários que não respondem adequadamente aos tratamentos que, cientificamente, estão certos. A medicação é correta, foi usada no tempo certo, na dose certa, mas se a pessoa não responde uma, duas, três vezes, é importante investigar de uma forma diferente, e o exame ajuda num screening maior”, explica a especialista.

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