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Busca por tratamentos alternativos é esperança para quem sofre de depressão refratária, forma repetitiva da síndrome e resistente à medicação convencional. Foto: Bigstock.
Busca por tratamentos alternativos é esperança para quem sofre de depressão refratária, forma repetitiva da síndrome e resistente à medicação convencional. Foto: Bigstock. | Foto:

O número de brasileiros deprimidos, que vivem divididos entre recaídas da doença e não respondem ao uso de medicações convencionais, é maior do que a classe médica imaginava.

Uma pesquisa conduzida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que dois em cada cinco pacientes atendidos no Ambulatório de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da instituição mineira convivem com este quadro de depressão chamada refratária ou resistente.

Esta forma da doença não só aumenta o risco do desenvolvimento de outras complicações associadas como ansiedade, diabete e hipertensão, como também pode levar quem sofre mais próximo do suicídio.

A pesquisa foi publicada no final de setembro pela UFMG em parceria com outros 33 serviços de atendimento clínico espalhados pela Argentina, Brasil, Colômbia e México. A análise foi feita durante um ano com 1.475 participantes.

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Nos países vizinhos, a média de pacientes com depressão resistente foi de aproximadamente 30%, índice que está de acordo com o que a literatura considera a média global. No ambulatório mineiro, no entanto, os índices foram superiores a 40%, maior taxa no continente.

Durante a divulgação do estudo, o professor Humberto Correa do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina e um dos autores da pesquisa, defendeu que pessoas que utilizam mais de dois antidepressivos, sem respostas positivas, por um período de pelo menos seis semanas, podem ser diagnosticadas com depressão refratária.

“Com o estudo fica o alerta a todos os profissionais da psiquiatria em relação a esses pacientes [resistentes à medicação]. É uma proporção muito importante, e eles merecem atenção especial. Talvez seja o caso de criar um serviço especializado para atendê-los, já que é um manejo muito mais difícil do que o utilizado com pacientes com depressão não resistente”, defendeu durante a publicação dos dados.

Tratamento alternativos

Hoje, o consenso entre os especialistas é de que não há cura, sem remissão de todos os sintomas de depressão, incluindo a falta de prazer em realizar atividades diárias e outros sintomas considerados secundários como insônia, dores de cabeça, irritabilidade e lentidão no raciocínio.

E quando a combinação de antidepressivos clássicos não dá conta deste recado, a busca pela cura passa por outros tipos de medicamentos, dietas, meditação, terapias de alteração de comportamentos padrão e até mesmo pela estimulação cerebral como as técnicas magnética transcraniana e a eletroconvulsoterapia.

As duas últimas, apesar de polêmicas, uma vez que estimulam os neurotransmissores através do uso de bobinas ou correntes elétricas, são as técnicas mais usadas atualmente no controle das depressões refratárias e consideradas seguras, já que seus efeitos colaterais são considerados pequenos como náuseas, dores de cabeça e tontura, logo após a aplicação.

“Até o começo dos anos 1990 não se tinha a mínima ideia do que a depressão representava em termos moleculares. Ainda se falava em doença psicológica ou da alma, coisa que hoje não faz mais sentido”, explica o psiquiatra especializado em depressão refratária, Luiz Fernando Petry.

“A depressão é uma doença essencialmente física, com aspectos inflamatórios, imunológicos e genéticos igualmente importantes. Isto quer dizer que embora as pessoas tenham sintomas semelhantes, as depressões podem ter sido originadas por causas bioquímicas diferentes. E é nisso que as pesquisas atualmente estão focadas. Quando você vai atrás da causa, os tratamentos passam a ser mais eficazes”, completa.

Uso da ketamina

Petry é responsável pela clínica Trial Tech em Curitiba, uma instituição que há três anos pesquisa o uso de ketamina no tratamento de pessoas com quadros graves e persistentes de depressão.

De ação analgésica, a ketamina é uma substância que atua diretamente no glutamato, um importante neurotransmissor, envolvido em funções cognitivas no cérebro, como a aprendizagem e a memória.

O tratamento envolve aplicações periódicas intravenosas, em sessões que duram aproximadamente uma hora. Desde o início das pesquisas a clínica já tratou cerca de 50 pacientes e conseguiu índices de remissão da doença próxima dos 80%.

“Atualmente existem diversas linhas de pesquisa com substâncias que vão de ações antinflamatórias e imunomoduladoras (elementos de reforço da imunidade), até mesmo com aquelas para restituição de flora intestinal”, explica Petry.

“É um quadro de pesquisas extremamente complexo, porque todos os dias tentamos montar um quebra-cabeça que não tinha nenhuma peça, até duas décadas atrás. Agora as pesquisas molecular e genética jogam praticamente todo o mês baldes de peças novas”, resume.

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