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Lilian Wiczneski e seus filhos Felipe e Helena tem a dermatite atópica, uma doença de pele que se caracteriza pela coceira. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo.
Lilian Wiczneski e seus filhos Felipe e Helena tem a dermatite atópica, uma doença de pele que se caracteriza pela coceira. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo.| Foto: Gazeta do Povo

Com apenas dois anos, a estudante Melissa Rodrigues foi diagnosticada com dermatite atópica, uma doença de pele que, apesar de comum, ainda é envolta por preconceitos.

Segundo dados da Associação Brasileira de Dermatologia, a doença acomete de 15% a 25% de crianças e 7% de adultos no Brasil. De origem genética, a dermatite atópica se caracteriza por inflamação, coceira e ressecamento da pele.


Hoje, Melissa tem 16 anos, mas as crises mais fortes da doença começaram a aparecer quando ela tinha 14. No caso da estudante, a dermatite atópica atinge 50% do corpo, especialmente as dobras dos braços, a parte de trás dos joelhos e toda a perna.

Ela relata que a dermatite incha e coça muito. Nas épocas de crise, é comum a estudante acordar com o lençol ensanguentado, por ter se coçado durante a noite.

Quando se tornou mais grave, a doença não afetou somente a pele, mas também o emocional de Melissa. “Eu me culpava muito. Me perguntava por que eu sofria com a doença, por que aquilo acontecia comigo, era bem pesado”, recorda. Foi então que a estudante resolveu fazer terapia e passou a lidar melhor com a dermatite atópica.

“Comecei a amar minha pele do jeito que ela é e amadureci a ideia de estar tudo bem em ter dermatite e precisar conviver com isso a vida toda”, revela a estudante.

Mais comum em crianças

A dermatite atópica acomete até três vezes mais crianças do que adultos. De acordo com a dermatologista Clarissa Prati, integrante da Sociedade Brasileira de Dermatologia, isso acontece porque a pele tem uma tendência maior a inflamar na infância.

Frequentemente diagnosticada por meio de exame clínico, a alteração pode aparecer em bebês a partir dos três meses. Nesses casos, a dermatite se caracteriza por lesões no rosto, como no caso de crianças com as bochechas secas e vermelhas que nunca melhoram, que se coçam o tempo inteiro e não conseguem dormir direito.

A dermatologista fala que, quando a dermatite persiste após os cinco anos de vida do paciente, ela tende a se tornar de moderada a grave. Nestes níveis, a doença acomete uma superfície maior da pele do corpo, as lesões são mais visíveis e difíceis de serem controladas.

Lilian Wiczneski e seus filhos Felipe e Helena tem a dermatite atópica, uma doença de pele que se caracteriza pela coceira. Foto: Bigstock.
Lilian Wiczneski e seus filhos Felipe e Helena tem a dermatite atópica, uma doença de pele que se caracteriza pela coceira. Foto: Bigstock.| Gazeta do Povo

Tratamento

A pele de quem tem dermatite atópica perde água facilmente e não consegue se hidratar sozinha. É por isso que os atópicos precisam tomar alguns cuidados no dia a dia.

O banho não deve ser nem longo, nem tomado com água muito quente. Além disso, especialmente após banhar-se, o recomendado é passar hidratante no corpo todo, que é quando a pele irá absorvê-lo melhor. Outros cuidados envolvem não usar amaciantes nas roupas ou produtos de limpeza que agridam à pele.

Como a pele atópica é muito sensível, a dermatologista aconselha não usar roupas sintéticas ou de fibra muito dura. Em dias mais frios, o ideal é colocar uma blusa de algodão embaixo dos casacos de lã.

Nas formas mais graves da doença e nos momentos de crise, o tratamento envolve o uso de medicamentos, como corticoides, imunossupressores e imunobiológicos.

Um dos gatilhos para crises de dermatite atópica é o estresse. Por causa disso, o acompanhamento psicológico é recomendado, tanto para controlar estados depressivos e ansiosos, como para fortalecer pacientes e familiares para que lidem melhor com a doença.

“A doença de pele é envolta em preconceitos, porque as pessoas pensam que vão ‘pegar’. No caso da dermatite, isso é totalmente sem fundamento, porque ela não é contagiosa”, explica a dermatologista. “É preciso empoderar paciente e familiares para que eles enfrentem essas situações e possam esclarecer as pessoas com quem convivem”, finaliza.

Família de atópicos

Atópico é o termo que se utiliza para alterações alérgicas determinadas geneticamente e não por uma sensibilidade individual, é o caso da asma, da rinite, de algumas conjuntivites e da dermatite atópica. É por isso que a pele de quem sofre dessa doença é chamada de “pele atópica”.

A assessora de babywearing, Lilian Wiczneski, de 29 anos, tem a pele atópica e os dois filhos também nasceram com a doença, apesar de a dermatite se apresentar de forma diferente em cada um.

Helena tem três anos e uma forma mais leve da doença; já Felipe, de dez meses, sofre com lesões mais graves e no corpo todo. É comum ele ter dificuldade para dormir por causa das coceiras e precisar de banhos e remédios, durante a madrugada, para alívio dos sintomas.

“A dermatite é multifatorial. Não saber qual foi o gatilho das crises é muito frustrante. A gente não sabe quando uma crise foi causada ou por algo que ele comeu, ou se foi o clima”, explica Lilian.

“As pessoas nem imaginam o que é a dermatite atópica. Então, elas tomam como algo muito simples, do tipo ‘é só uma coceira na pele’, ou de forma preconceituosa, de que não podem chegar perto. O que falta é um acolhimento e entendimento sobre o que, de fato, é a doença”, avalia.

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