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Gazeta do Povo com Agência Brasil

Pesquisador brasileiro descobre que “gordura” produzida no corpo pode tratar diabete

Gazeta do Povo com Agência Brasil
20/08/2019 11:18
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O lipídio 12-HEPE ajuda no controle da glicose no sangue, favorecendo o tratamento do diabete. Foto: Bigstock.

Uma substância produzida pelo próprio corpo poderá ser uma alternativa ao tratamento do diabete no futuro. Identificado pelo pesquisador brasileiro Luiz Osório Leiria durante pesquisa de pós-doutorado na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, o lipídio 12-HEPE é um tipo de gordura que, quando aplicado a diabéticos, colabora com a redução dos níveis de glicose no sangue.
Por enquanto, o potencial do lipídio 12-HEPE foi identificado apenas em camundongos e em testes in vitro com células adiposas (de gordura) dos humanos. Nestes, os resultados mostraram que o lipídio também é capaz de aumentar a captação da glicose entre as pessoas. Testes com pacientes humanos devem ocorrer nas próximas etapas da pesquisa.

“É cedo pra dizer, mas pode significar sim [um novo tipo de tratamento para diabéticos], pois no diabetes tipo 2 ocorre intolerância à glicose, ou seja, ocorre um defeito da capacidade do organismo em captar a glicose após uma refeição e com isso a glicemia permanece elevada por muito tempo”, disse o pesquisador à Agência Brasil.

Se a glicemia permanece elevada por tempo demais, a doença é considerada “descompensada” e o risco de que surjam sequelas aumenta. O diabete é uma doença bastante associada a problemas circulatórios (leia mais sobre os riscos de amputação do pé diabético), problemas de visão (especialmente a retinopatia diabética) e mesmo cardiovasculares.

Substância milagrosa?

O lipídio 12-HEPE é um tipo de gordura produzida e liberada pelo tecido adiposo marrom de todas as pessoas – embora com menor quantidade entre obesos. Esse tecido está principalmente ligado à regulação térmica do corpo, através da produção de calor.
As descobertas sobre o potencial do lipídio 12-HEPE para o tratamento do diabete foram descritos em um artigo publicado na revista científica Cell Metabolism, onde Leiria é o autor principal. Atualmente, o pesquisador atua no Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Para chegar a esse resultado, o pesquisador brasileiro avaliou camundongos obesos divididos em dois grupos: os que recebiam o lipídio 12-HEPE e os que não o recebiam. 

Em seguida, os animais recebiam uma injeção de glicose concentrada, a fim de verificar a ação das células de gordura. Nos camundongos que haviam recebido o tratamento com o lipídio, percebeu-se uma maior eficiência na redução dos níveis de glicose no sangue do que em relação aos animais que não haviam sido tratados com o lipídio 12-HEPE.

“Mostramos que o 12-HEPE foi capaz de melhorar a tolerância à glicose em animais obesos, o que se deve à capacidade deste [lipídio] de promover a captação da glicose no tecido adiposo e no músculo. Aumentar a tolerância à glicose significa aumentar a capacidade de transportar a glicose para os tecidos após uma ingestão alta de alimento (com glicose) reduzindo os níveis de glicose no sangue”, diz o pesquisador à Agência Brasil.

Por outro lado, a pesquisa sugere também que pacientes com níveis reduzidos desse lipídio na corrente sanguínea, especialmente entre pessoas obesas, contribua de alguma forma cm o aumento da glicose no sangue – uma das principais dificuldades encontradas pelos diabéticos.
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