Saúde e Bem-Estar

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo.

Por que o diabetes está aumentando consideravelmente no mundo e como evitar a doença

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo.
16/02/2018 17:00
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No Tipo 1, controle é realizado com a administração de insulina. Foto: Bigstock

O diabetes mellitus (ou apenas diabete) é um desafio mundial para a saúde. São, no mundo inteiro, 415 milhões de pessoas convivendo com a doença, segundo relatório divulgado pela International Diabetes Federation (IDF) em 2015.
Para 2040, a entidade prevê que 640 milhões de pessoas serão portadoras da doença. Por aqui, são 13 milhões de brasileiros vivendo com essa condição crônica não-transmissível e que exige controle constante, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
Uma das justificativas para o sensível aumento na incidência da doença, em ordem mundial, é a má alimentação associada ao sedentarismo, uma vez que a obesidade é um quadro facilitador — condições atreladas ao diabetes tipo 2, mais relacionado ao estilo de vida (e que afeta 90% das pessoas com a patologia) . No tipo 1, a doença é autoimune, ou seja, pelo ataque do próprio sistema imunológico (de 5 a 10% dos portadores). 
Excesso de produtos ultraprocessados e lanches rápidos é uma das causas do aumento de peso da população. Foto: Bigstock.
Excesso de produtos ultraprocessados e lanches rápidos é uma das causas do aumento de peso da população. Foto: Bigstock.

No corpo

O mecanismo do diabetes é fácil de entender: é quando o organismo não produz insulina (que é o hormônio responsável por controlar a quantidade de glicose no sangue), ou não consegue empregar adequadamente a insulina que produz. Sem ela, os níveis ficam altos, caracterizando uma situação de hiperglicemia. A longo prazo, sem o devido controle, a doença danifica órgãos, vasos sanguíneos e nervos.
Em casos extremos, causa insuficiência renal, cegueira, amputação de membros, infartos e derrames potencialmente fatais.
É importante lembrar que não existe diabete grave ou menos grave. Sem o devido controle, a doença evolui naturalmente para essas situações extremas.

Quando ficar em alerta 

Há uma condição que caracteriza um importante sinal de alerta para o desenvolvimento do diabete. O pré-diabete é quando os níveis de glicose no sangue estão mais altos do que o normal, mas não o suficiente para o diagnóstico do Tipo 2.
Estima-se que metade dos pacientes nesse estágio vai desenvolver a doença. O pré-diabetes é especialmente importante por ser a única etapa com potencial para ser revertida ou que permite retardar a evolução para o diabete e suas complicações.

Controle

Uma vez diagnosticada a doença, o cuidado e a mudança de hábitos são fundamentais. O Tipo 1 é tratado com insulina, medicamentos, planejamento alimentar e atividades físicas. O Tipo 2 é controlado também com uma dieta adequada e exercícios. Em outros casos, exige a administração de insulina e medicamentos para controlar a glicose. A rotina do paciente diabético, quando bem executada, permite uma vida normal, ativa, saudável e com chances drasticamente reduzidas do surgimento de complicações.
Prática regular de exercícios físicos é uma das medidas de tratamento. (Foto: Bigstock)
Prática regular de exercícios físicos é uma das medidas de tratamento. (Foto: Bigstock)

O que ocorre se não tratar 

Sem o devido acompanhamento, as altas taxas de glicose no sangue favorecem inúmeras complicações para o paciente diabético. Confira as principais delas:
>> Doença renal
O mecanismo que explica a afetação dos rins pelo diabete é complexo e envolve perda de proteína pela urina, sobrecarga renal e perda da capacidade de filtração. Em fases tardias pode evoluir para falência renal (doença renal terminal), o que pode exigir hemodiálise e transplante. A hipertensão pode acelerar o progresso do quadro.
>>Pé diabético
Trata-se de uma das complicações mais comuns do diabete mal controlado. O Ministério da Saúde estima que ¼ dos pacientes diabéticos vai desenvolver úlceras nos pés e 85% deles vão evoluir para amputação dos membros inferiores.
Geralmente começa com uma pequena ferida sem importância, que pode infeccionar e necrosar. Além do comprometimento que o diabético tem no processo de cicatrização, a perda da sensibilidade fruto da lesão dos nervos (neuropatia)  dificulta a percepção de eventuais machucados e das sensações de frio e quente.
O diabetes também compromete a pele (que pode ficar muito seca e favorecer rachaduras e feridas) e torna o pé mais suscetível aos calos. Massagens, hidratações, acompanhamento com podólogo e o uso de proteções e calçados especiais são condutas importantes para os pacientes afetados.
>> Cegueira e outras doenças oculares
Pacientes que controlam bem a taxa de glicemia minimizam muito o risco de desenvolvimento de problemas oculares graves, mas é importante saber que quem tem diabete está mais sujeito à cegueira, glaucoma e catarata.
A retinopatia,  que afeta a retina dos diabéticos e obstrui os capilares (pequenos vasos sanguíneos) dos olhos, é frequente. O tipo não-proliferativo da doença é comum entre portadores do Tipo 1 e acomete, em algum momento da vida, uma em cada quatro pessoas. Há muitos avanços na área para tratar a retinopatia diabética e as maiores taxas de sucesso das terapias são alcançadas quando a visão do paciente ainda está normal.
Como nem sempre a retinopatia apresenta sintomas, o acompanhamento periódico da saúde dos olhos, concomitante ao controle da glicemia e pressão arterial, é obrigatório. Os sintomas incluem visão embaçada, flashes de luz, manchas e perda repentina da visão.
Para todas as complicações apresentadas, a conscientização quanto à necessidade de um bom controle do diabete, de medidas assistenciais por parte dos profissionais da saúde, de diagnósticos precoces e de tratamentos mais resolutivos em estágios iniciais são essenciais para evitar consequências severas que afetam a qualidade de vida e sobrevida do paciente.

Quais são os parâmetros do diagnóstico? 

Se em dois exames de glicemia o paciente atingir 126mg/dl, ele é diagnosticado com diabete. Não há cura, mesmo que o controle faça com que a glicemia retorne aos valores de referência de uma pessoa sem a doença (de 70mg/dl a 99mg/dl em jejum).
Portadores do Tipo 1 e dependentes de insulina realizam o teste de glicemia várias vezes ao dia, antes de cada refeição. Com o resultado, lançam mão da estratégia de contagem de carboidratos que serão consumidos para poder saber a quantidade exata de insulina que será necessária, a cada refeição, para manter os níveis de glicose estáveis. 
Quem tem o Tipo 2 recebe orientação específica quanto à medição de glicose. Pode acontecer alternadamente na semana ou com qualquer outra frequência, a critério do médico.
A meta aceitável de um diabete bem controlado, para a SBD, varia entre 100mg/dl e 110mg/dl de glicose no sangue antes da refeição e entre 140mg/dl e 160mg/dl duas horas após a refeição. 
Para acompanhamento dos pacientes, um dos exames mais usados é o da hemoglobina glicada, que fornece a média de glicose no sangue do paciente nos últimos três meses. Em pessoas sem a doença, o valor máximo é 5,6%. Para pacientes diabéticos, o valor desejável é até 7%.

Na infância

No Brasil, há o registro de um milhão de crianças portadoras de diabetes mellitus tipo 1 (também chamada infanto-juvenil). Aumento da sede e da diurese e perda de peso são os sintomas mais importantes e que podem indicar a doença. 
Em 95% dos casos o diabete resulta da destruição autoimune das células beta do pâncreas, que leva à deficiência absoluta de insulina. Após o diagnóstico, é necessário o monitoramento da glicose e a administração subcutânea de insulina. 
Uma alimentação balanceada feita com acompanhamento nutricional, uma rotina regular de exercícios físicos e acompanhamento médico, para o monitoramento das taxas glicêmicas, ajudam o portador de diabete infanto-juvenil a conquistar uma boa qualidade de vida.
Fontes consultadas: Claudia Pieper, endocrinologista, coordenadora do Departamento de Saúde Mental e Transtornos Alimentares da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e co-coordenadora do Departamento de Educação da SBD; Maria Betânia Beppler, clínica geral e médica do Escritório da Qualidade e Gerenciamento de Risco do Hospital Marcelino Champagnat; International Diabetes Federation (IDF); Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD); Ministério da Saúde; Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Fernanda Simões, nutricionista do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) e Luiza Scancetti, nutricionista residente do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG).
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