Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Dieta cetogênica: os riscos e benefícios do fim do carboidrato nas refeições

Amanda Milléo
20/02/2019 07:00
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Por estimular a exclusão completa de um grupo alimentar - os carboidratos - a dieta Cetogênica é vista com receio pelos especialistas em saúde. Foto: Bigstock

Reduzir o pão, o macarrão e o arroz das refeições é uma opção adequada e até certo ponto incentivada pelos profissionais de saúde para a redução de peso. O limite está quando toda fonte de carboidrato é cortada da dieta, excluindo até mesmo aquele presente nas frutas, verduras e hortaliças. Essa é a proposta da dieta cetogênica, que proíbe a ingestão, durante algumas semanas, de carboidratos.
Por essa exclusão completa de um grupo alimentar, a dieta cetogênica é vista com receio pelos especialistas em saúde. De acordo com Marcella Garcez Duarte, médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia, esse tipo de dieta não pode ser feita sem o acompanhamento de médicos e nutricionistas, pois eleva o risco de hipoglicemia (quando há pouco açúcar circulante no sangue, que se transforma em energia ao organismo), e aumenta a formação dos corpos cetônicos, tóxicos ao cérebro.

Quando há uma falta significativa de carboidratos, nossa principal fonte de energia, o corpo corre atrás de outras fontes.

No fígado, o organismo promove a quebra dos ácidos graxos, gerando energia e de onde derivam os corpos cetônicos. Embora sejam fontes de energia ao coração, cérebro e tecido muscular na falta do carboidrato, esses corpos cetônicos são também tóxicos ao organismo e, por isso, a ausência de carboidrato não deve durar mais que algumas horas.

“O grande público das dietas, tanto a cetogênica, quanto a low carb que também reduz o consumo de carboidrato, são as pessoas que frequentam as academias. Mas se a pessoa fizer a dieta para secar, ela não teria como fazer exercício. O ideal é que toda mudança alimentar seja um reaprender a comer, não dietas pontuais. Tem que ser para a vida toda”, explica a médica.

Dieta Cetogênica com orientação

Batata doce: carboidrato rico em fibras, proteína, ferro, magnésio e potássio.  (Foto: Bigstock)
Batata doce: carboidrato rico em fibras, proteína, ferro, magnésio e potássio. (Foto: Bigstock)
Há teorias que associam a dieta cetogênica com resultados positivos a doenças metabólicas e algumas neoplasias, mas não há nada que comprove essa associação.  Células cancerígenas usam o açúcar para se desenvolver e, teoricamente, a falta deste açúcar – que vem dos carboidratos – poderia ajudar no tratamento da neoplasia. Mas, o risco de desenvolvimento dos corpos cetônicos e a hipoglicemia contrapõe à essa ideia.
Alguns carboidratos, inclusive, são considerados fundamentais para uma dieta que alie perda de peso com qualidade, como a bata doce.
“Quando você propõe uma dieta Cetogênica, tem que ser por um curtíssimo espaço de tempo, porque você coloca a pessoa em um estado patogênico mesmo. É questão de uma semana, 15 dias no máximo, para reduzir o peso, mas mesmo assim eu acho arriscado”, alerta a médica nutróloga.

Como funciona?

A dieta cetogênica propõe a exclusão total das fontes de carboidratos, inclusive o presente em frutas e verduras, durante algumas semanas — que variam conforme a pessoa. Confira abaixo quais alimentos são permitidos durante a dieta:
– Fontes de proteína: Peito de frango, carnes vermelhas, peixes, ovos, carne suína e embutidos (peito de peru e presunto), entre outros.
– Fontes de gordura: Requeijão, oleaginosas, azeite de oliva, manteiga e queijos, entre outros.

Para quem é indicada?

Segundo a médica nutróloga Debora Froehner, da NutroCARE, não existem benefícios científicos reais em se fazer uma dieta cetogênica. A longo prazo os melhores resultados estão no tipo alimentar que o paciente consegue manter e que lhe traga saúde, não nas restrições. “Dietas difíceis e restritivas podem levar a curto prazo a um emagrecimento rápido, porém falso. Há uma grande perda inicial de água, que geralmente leva a reganho de peso”, explica.
Ela esclarece que a dieta cetogênica tem indicação em quadros de epilepsia. “Em situações de oncologia não há estudos suficientes para justificar seu uso. Já
no uso doméstico, por questões de peso, sempre devem ser acompanhadas por equipe multiprofissional, com médico nutrólogo e nutricionista, já que não é isenta de efeitos colaterais”, diz.
Também é preciso entender que baixo carboidrato e sem carboidrato são coisas diferentes, e verdadeiramente sem carboidrato nenhuma dieta será. “O ideal é entender que cada organismo é único, que o metabolismo tem processos que devem ser compreendidos de forma individual, que emagrecimento não é milagre e nada tem resultado rápido de forma concreta”, enfatiza complementando: “Se um paciente optar por um estilo alimentar cetogênico, onde a prioridade está nas gorduras, é preciso que seja feita orientação das possíveis consequências a médio e longo prazo, como carências nutricionais diversas.”
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