Saúde e Bem-Estar

Cecília Aimée Brandão, especial para a Gazeta do Povo

Dieta em sachê que promete emagrecimento rápido é criticada por especialistas

Cecília Aimée Brandão, especial para a Gazeta do Povo
23/10/2019 08:00
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Para emagrecer sem voltar a engordar, é preciso "reprogramar a mente", diz nutricionista. Foto: I Yunmai/Unsplash.

Uma perda acentuada de peso em pouquíssimo tempo – esse é o objetivo prometido por uma dieta que teria sido feita por alguns adeptos famosos, como Sasha Meneguel e o cantor Luciano.
O método, que tem como nome comercial Pronokal, é um programa que, segundo seus proprietários, tem controle médico personalizado, e é baseado na dieta proteinada, dividido em três etapas: ativa, adaptação fisiológica e manutenção.
São diversos sachês, com opções de sopas, cremes, omeletes, sobremesas e outros, com preparos que precisam ser misturados com água e em alguns casos finalizados no fogão, forno ou micro-ondas.

“É uma dieta da proteína, cetogênica, com baixa ingestão de carboidratos e gorduras e maior ingestão proteica, controlada, em um cálculo individualizado. É baseada no uso de substitutos alimentares e suplementação vitamínica”, esclarece a nutricionista da Paraná Clínicas, Carolina Henequim Brouck.

A promessa dessa dieta é eliminar até 80% do peso desejado nas duas primeiras etapas, de forma acelerada.
O método é baseado na cetose, que acontece no organismo de forma fisiológica quando existe uma restrição muito grande de carboidrato, “quando comemos menos carboidrato, obrigamos nosso corpo a obter energia de outra forma que não envolva o metabolismo de açúcares. Essa energia passa a vir então da queima de gordura, que é justamente o que nosso corpo precisa em um processo de emagrecimento”, conta a endocrinologista e nutróloga Luciana Spina, que já tratou mais de mil pacientes com o método.

Esse processo da transformação da gordura em energia produz substâncias chamadas corpos cetônicos, que geram o estado de cetose e tem como benefício a diminuição do apetite e da fome.

“Conseguimos fazer uma dieta de baixa caloria sem que o paciente sinta fome. A cetose também é super estimulante e aumenta a sensação de vigor, de euforia e bem-estar, o que é ótimo para quem está fazendo dieta restritiva”, explica.
Cuidados
Mas é preciso cuidado, pois justamente nessa fase podem ser enfrentados alguns riscos, “antes de o corpo entrar em cetose, ele precisa se acostumar à redução dos carboidratos, o que traz sintomas como irritabilidade, dores de cabeça, fome, náuseas e até vômito. Quem tem compulsão alimentar pode ter uma piora no quadro pela privação alimentar”, alerta a nutricionista.
A dieta só pode ser adquirida com prescrição médica e os pacientes, segundo a marca, contam com apoio de uma equipe multifuncional de profissionais.
“Para conseguir o controle da quantidade de proteínas, carboidratos e gorduras, os pacientes desta dieta consomem sachês. São alimentos balanceados dentro das prescrições da dieta que devem ser preparados com água. A suplementação vitamínica também é feita para garantir que a baixa ingestão de alimentos não leve a carências nutricionais. Mais para frente, a dieta se torna uma reeducação alimentar, já que os outros grupos alimentares são reintroduzidos pouco a pouco. Porém, uma dieta baixa em carboidratos e gorduras nunca é fácil de ser seguida, pois a base da dieta da maior parte das pessoas, inclusive daquelas que lutam para baixar o peso, é formada por alimentos ricos em carboidratos, açúcares e gorduras”, diz a nutricionista.
O efeito rebote e a sanfona
O médico especialista em nutrologia e obesity medicine, responsável pelo Instituto Qualis, Emerson Wolaniuk, avalia com cautela esse tipo de dieta, “as dietas altamente restritivas e congeladas podem piorar o manejo do peso a longo prazo.
Elas provocam uma queda no peso de maneira muito rápida às custas, principalmente, de desidratação e perda de massa muscular, não só de gordura. Isso faz com que haja um ganho de peso rebote depois do período inicial, que é quando o paciente já não consegue manter o ritmo”.
Basicamente, não existe milagre e muitas vezes o custo pode ser alto – não só para o bolso, mas para o corpo.
“As dietas devem ser individualizadas. Pacientes que vêm de uma rotina com muitos doces e uma dieta calórica, que têm uma fome aumentada e um transtorno de compulsão alimentar, possivelmente terão problemas ao realizar uma dieta dessas, piorando o quadro de obesidade a longo prazo”, alerta.

“O ideal é sempre procurar um médico ou nutricionista para que seja feita uma avaliação integral do corpo e seu estado metabólico, junto com a investigação de doenças físicas e psiquiátricas. Só depois pode ser definida uma dieta confortável e prazerosa que direcione o paciente ao peso mais saudável”, conclui.

Para evitar o reganho de peso, a endocrinologista Luciana conta que não tem segredo: é preciso mudar os velhos hábitos alimentares.
“Quando o paciente não faz uma adaptação e não muda hábitos alimentares, voltando a comer no mesmo padrão anterior, terá reganho de peso. É necessário mudar a quantidade e a qualidade dos alimentos e fazer atividade física”, alerta.
Mas quem pode fazer? Segundo o endocrinologista Sidnei Senhorini, consultor científico da empresa para a Região Sul, ela é indicada para quem quer fazer dieta com resultados rápidos e seguros, sem usar medicamentos.

“Diabéticos e grandes obesos também podem fazer o método. A grande vantagem dessa dieta é o controle dos nutrientes, pois há o consumo adequado de proteínas, sem exceder a quantidade de gordura, e com baixíssimo carboidrato”, explica.

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