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A síndrome que é diretamente associada ao estresse e a má alimentação não tem cura, mas pode ser amenizada com a mudança de dieta e de hábitos. Foto: Bigstock
A síndrome que é diretamente associada ao estresse e a má alimentação não tem cura, mas pode ser amenizada com a mudança de dieta e de hábitos. Foto: Bigstock| Foto:

Faz quatro anos que comer deixou de ser um prazer para a analista de sistemas Catarina*, de 29 anos. O mal estar começou aos poucos e, de repente, cada alimento que ingeria, da bolachinha ao arroz com feijão, parecia ser rejeitado por seu organismo. As dores abdominais, gases, sensação de estufamento e diarreias recorrentes demoraram a ser diagnosticados. Depois de quase um ano de investigação médica, o diagnóstico da Síndrome do Intestino Irritável (SII) foi concluído.

“Eu achava que era uma virose, mas percebi que era conforme as coisas que eu comia”, conta a jovem. As primeiras suspeitas foram a intolerância à lactose e ao glúten, geralmente as mais recorrentes nos consultórios. No caso da primeira, 60% a 70% da população tem dificuldade de digestão da enzima, segundo pesquisa conduzida pelo DataFolha.

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Porém, mesmo eliminando ambos da dieta, o desconforto continuava atrapalhando sua rotina. Para ela, a parte mais difícil da doença é a vida social. “Já aconteceu de eu ter que ir embora do trabalho. Dá muita vergonha, porque não tem como controlar (os gases). É bem desanimador”, lamenta.

O que é a Síndrome do Intestino Irritável

Também conhecida como Síndrome do Cólon Irritável (SCI) é a doença funcional gastroenterológica mais prevalente no mundo – acomete de 10% a 26% da população, segundo dados do World Gastroenterology Organisation (2009). Ocorre principalmente entre os 15 e 65 anos de idade e está diretamente ligada ao estresse. Para Cyntia Leinig, professora do curso de nutrição da PUCPR, a doença parece ter ganhado destaque nos últimos anos devido a vários fatores.

“As pessoas estão mais atentas porque se fala mais sobre isso, o consumo de industrializados aumentou muito e o diagnóstico melhorou. O problema é que cada caso deve ser individualizado”, explica. Leinig se refere a uma dieta restritiva, onde uma série de alimentos é retirada da rotina alimentar, geralmente associada no tratamento da SII.

Além da reeducação alimentar, o tratamento também é feito com medicamentos. Mas há outras alternativas, como a acupuntura. “Já tomei um monte de remédios, mas não adiantou. O que me ajudou mesmo foi a acupuntura”, conta Catarina.

A lactose e o glúten são substâncias que pioram os sintomas da SII. Foto: Monika Grabkowska / Unsplash
A lactose e o glúten são substâncias que pioram os sintomas da SII. Foto: Monika Grabkowska / Unsplash

Dieta não-fermentativa

Como a alimentação é o fator que mais influencia na melhora ou piora dos sintomas, boa parte do tratamento é feita com o acompanhamento de um nutricionista. Atualmente, a dieta FODMAP é considerada a principal ferramenta para ajudar na melhora dos sintomas. “É uma estratégia onde se retira da alimentação todos os carboidratos que fermentam no intestino. Depois, os grupos alimentares são reinseridos pouco a pouco”, explica a nutricionista clínica Marina Schneppendahl.

O protocolo FODMAP (sigla em inglês para “oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis”) foi desenvolvido em 2010 pelo gastroenterologista Peter Gibson e a nutricionista Sue Shepherd, na Universidade de Monash, em Melbourne, Austrália. Funciona assim: durante 10 a 15 dias, o indivíduo deixa de comer uma série de alimentos com o objetivo de recuperar a flora intestinal.

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Além dos já conhecidos glúten e lactose, entram na lista dos “proibidões” muitos ingredientes aparentemente inofensivos, como cebola, alho, bebidas cafeinadas, cogumelos, determinadas frutas, leguminosas e algumas oleaginosas. A lista é longa. “Mesmo os alimentos que a princípio não fazem mal precisam ser retirados”, afirma Schneppendahl.

Entre os alimentos liberados da lista, alimentos como ervilha, cenoura, espinafre, abóbora e amêndoas. Porém, Leinig lembra que não há uma regra certa. “Depende muito do grau de sensibilidade de cada pessoa. Às vezes o que um indivíduo consegue digerir, outro não. Por isso deve ser um tratamento individualizado”.

Apesar de o desafio parecer ser difícil, o esforço vale a pena. “99% dos pacientes sente uma melhora absurda dos sintomas”, garante Schneppendahl. O processo todo – do início da restrição até a reinserção dos grupos alimentares (divididos em “vegetais, frutas, leguminosas, oleaginosas e sementes”) leva em média dois meses. Às vezes, alguns alimentos deverão ser evitados pelo resto da vida do indivíduo. “Mas tem um lado bom. A pessoa desenvolve uma outra relação com o seu organismo, aprende a comer e a entender como vai se sentir com determinado alimento”.

*A entrevistada pediu para não ter seu nome verdadeiro citado na reportagem.

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