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Nova doença assusta moradores de Sergipe; sintomas se assemelham à leishmaniose Foto: Wikimedia Commons
Nova doença assusta moradores de Sergipe; sintomas se assemelham à leishmaniose Foto: Wikimedia Commons| Foto: Photograpger: James Gathany

Duas pessoas morreram e outras 150 foram identificadas em Aracaju (SE) com uma nova doença no Brasil. Os sintomas se assemelham à leishmaniose visceral, porém essa nova doença tende a ser mais grave e mais resistente ao tratamento, segundo os pesquisadores. O parasita ainda é desconhecido, porém diferente da Leishmania, responsável pela leishmaniose. As informações foram divulgadas pela Agência Brasil.

Pesquisadores brasileiros do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias, com financiamento da Fapesp, estão investigando a doença, que vem acometendo a população da capital sergipana desde 2011. Na época, o primeiro diagnóstico e tratamento foi realizado pelo médico Roque Pacheco de Almeida, professor da Universidade Federal de Sergipe, além de pesquisador e médico do hospital universitário/EBSERH de Aracaju.

O paciente tratado morreu em 2012, em decorrência de complicações da doença.

Sintomas

Os sintomas dessa nova doença são muito parecidos com a leishmaniose do tipo visceral, doença infecciosa causada por protozoários parasitários do gênero Leishmania e transmitidos por meio da picada de insetos infectados, conhecidos como mosquito palha ou birigui. A leishmaniose pode ser tanto visceral, quanto cutânea, com sintomas diferentes.

Há, segundo estimativa da OMS, 50 mil a 90 mil pessoas que adoecem, todos os anos, com a leishmaniose visceral. Na América Latina, 90% dos casos acontecem no Brasil. 

A evolução da nova doença, porém, tende a ser mais grave, de acordo com informações de Almeida, em entrevista à Agência Brasil.

No caso da leishmaniose visceral, os sintomas são, conforme dados do Ministério da Saúde:

  • Febre irregular e prolongada;

  • Anemia;

  • Indisposição;

  • Palidez da pele e/ou das mucosas;

  • Falta de apetite;

  • Perda de peso;

  • Inchaço do abdome devido ao aumento do fígado e do baço. 

Com a leishmaniose cutânea, o paciente pode apresentar, entre duas a três semanas após a picada, o aparecimento de uma pápula (elevação da pele) avermelhada, que aumenta de tamanho até formar uma ferida com crosta ou secreção purulenta. Podem surgir também lesões nas mucosas do nariz ou da boca.

“A gente trata muitos pacientes com calazar [nome popular da leishmaniose visceral] aqui. São vários por ano. Um desses pacientes não respondeu ao tratamento. Ele recidivou [a doença reapareceu], tratamos novamente, recidivou de novo. E, na terceira recidiva, apareceram lesões na pele. Em pacientes sem HIV não vemos isso. Ele não tinha HIV e apareceram lesões na pele, pelo corpo inteiro, tipo botões, que chamamos de pápulas”, contou o médico à Agência Brasil.

Ao fazer a biópsia desse paciente, os médicos perceberam que as células estavam repletas de parasitas. Na sequência, o quadro do paciente se agravou. “O baço dele era gigante, e a gente tentou formas de tratamento, mas ele não sobreviveu”, disse Almeida.

Quando foram analisadas as amostras de tecido desse paciente, não foi possível identificar qual era o parasita pelos métodos tradicionais, mas foi possível compará-lo às espécies já conhecidas da Leishmania. Apenas em 2014 o parasita foi identificado pela bióloga e imunologista Sandra Regina Costa Maruyma.

“A gente estava diante de um caso grave. Como não conhecíamos outras doenças, a gente achou que era um calazar grave. Mas quando fomos ver, o parasita isolado da medula óssea, da pele e do baço [desse paciente] se comportava também de maneira diferente em um camundongo [de laboratório]. O parasita [retirado] da pele dava lesão na pele do camundongo, mas não dava nos órgãos. E o parasita que veio da medula óssea dava lesão parecida com o calazar, no baço e no fígado [do camundongo]. Temos então dois parasitas diferentes no mesmo paciente”, diz o médico Roque Pacheco de Almeida.

Os 150 pacientes que estão isolados com sintomas semelhantes estão sendo testados para verificar a presença do mesmo parasita. Em breve, os pesquisadores esperam conseguir descrever o parasita e nomear a nova doença.

“Identificamos um parasita novo, uma doença nova, que causa uma doença grave e com resposta terapêutica não totalmente suficiente ou eficaz. Queremos entender a extensão disso e de onde apareceu esse parasita, se foi uma mutação. Tem uma linha grande de pesquisa para a gente investigar. Também queremos ver, geograficamente, para onde está se expandindo o parasita”, afirma o médico.

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