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Doença autoimune não tem cura e piora com o estresse. Foto: Bigstock
Doença autoimune não tem cura e piora com o estresse. Foto: Bigstock| Foto:

Os primeiros tufos de cabelo caíram da cabeça de Maitê Honczaryk Lenz César, 28, há pouco mais de um ano. Médica especializada em medicina preventiva, a curitibana tinha acabado de concluir um curso intensivo de fisiologia humana quando se deu conta da área completamente lisa logo acima de sua orelha esquerda. Antes mesmo de receber o diagnóstico da dermatologista, ela já suspeitava que o sintoma era típico da alopecia areata.

Maitê faz parte dos cerca de 2% da população mundial que sofrem com a doença autoimune. Diferentemente da alopecia androgenética, que é passada por hereditariedade e atinge mais de 2 bilhões de pessoas no mundo, segundo a Academia Americana de Dermatologia (AAD), a alopecia areata pode ocorrer espontaneamente em qualquer etapa da vida e não tem cura. O principal fator desencadeante é o estresse. 

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“Às vezes, todos os pelos do corpo podem cair da noite para o dia. É o que chamamos de alopecia areata universal. Mas isso é mais raro de acontecer”, explica Danila Yoshioka, dermatologista do Instituto Dermatológico e Laser (Idel). Nos casos mais comuns, os pelos caem de forma pontual e indolor.

Apesar de a doença acometer homens e mulheres, a parcela feminina da população é a que mais apresenta queixas relacionadas à queda de cabelos. Segundo a Sociedade Brasileira do Cabelo, a calvície propriamente dita (de origem genética) afeta 5% das mulheres no país.

Mais pessoas com alopecia?

Para Fabiane Brenner, dermatologista e assessora do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia, o aumento dos diagnósticos de alopecia não deve ser encarado de forma alarmante. “Não acho que o aumento da incidência é real. O que aumentou foi a procura. Hoje, o que temos de novo é que o diagnóstico é feito mais cedo, aos 25, 30 anos”, explica.

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A dermatologista Danila Yoshioka tem opinião semelhante. Segundo ela, o crescimento de pacientes nos consultórios também tem a ver com o espaço que a tricologia, área da dermatologia voltada ao tratamento do couro cabeludo, ganhou nos últimos 20 anos. “Hoje, dermatologistas do mundo todo estão tentando descobrir a origem de muitas doenças relacionadas ao cabelo. Existem mais formas de diagnóstico”, afirma.

Doenças autoimunes 

Em geral, 20% a 30% dos casos de alopecia areata estão associados a outras doenças autoimunes, como tireoidites, lúpus, psoríase e síndrome do intestino irritável. Mas o que são, afinal, estes distúrbios? As reações autoimunes são como se o corpo estivesse em um combate constante consigo mesmo.

“As células de defesa, que serviriam para acabar com infecções, começam a atacar o que não deveriam. No caso da alopecia, elas pegam os folículos que formam os pelos e o cabelo”, explica Yoshioka.

“Muitos estudos associam a doença autoimune com sentimentos guardados, seja estresse, rancor ou cobrança excessiva. É uma somatização das emoções”, completa Maitê. Por conta disso, entender a origem do problema é sua maior forma de aprender a lidar com a doença.

Tratamentos

De injeções de corticoide ao tratamento com laserterapia, são inúmeras as opções para controlar a alopecia areata. Muitos pacientes, porém, preferem não tratar a doença com remédios. “O maior problema dela é estético, já que pode afetar a qualidade de vida do paciente”, explica a dermatologista Danila Yoshioka.

Maitê, por exemplo, optou por não usar medicamentos. É durante as crises mais intensas que sua relação com a doença se estreita. “O diagnóstico talvez tenha sido uma das melhores coisas para eu saber quando frear. A alopecia foi um grande presente para mim porque me ajudou muito a conhecer os meus limites”, revela.

Desde que foi diagnosticada com alopecia areata, a médica Maitê H. César escolheu tratar a doença com carinho. Foto: Reprodução / Instagram
Desde que foi diagnosticada com alopecia areata, a médica Maitê H. César escolheu tratar a doença com carinho. Foto: Reprodução / Instagram

A aceitação, em geral tão difícil entre as pessoas diagnosticadas com doenças autoimunes, é algo que Maitê aprendeu desde cedo. Quando criança, sua mãe sempre lhe incentivava a ser gentil consigo mesma e com os outros ao seu redor.

“Meu corpo já está machucado. Se eu ficar brigando com ele, só vai piorar. Toda reação autoimune tem que ser olhada com muito carinho. Se meu cabelo caiu, é porque meu corpo está tentando me dizer alguma coisa e vou tentar fornecer para ele o que está em falta. Não em forma de briga, mas de reconciliação.”

“O primeiro passo é o controle da mente e das emoções”, garante a médica. Para ela, sessões de terapia, yoga, meditação e contato com a natureza, além da prática frequente de exercícios aeróbicos, são iniciativas essenciais para quem deseja controlar doenças autoimunes de modo mais natural.

As recomendações não são muito diferentes das feitas nos consultórios dermatológicos. “A gente sempre orienta que o paciente faça acompanhamento com psicólogo para tratar o gatilho emocional. A pessoa precisa estar bem para que tenha uma resposta boa a qualquer tratamento”, explica a dermatologista Yoshioka.

Defesa

Em seguida, vêm os cuidados com a alimentação e o sono. Todas as manhãs, Maitê começa o dia com o que ela chama de “boost de imunidade”. Em jejum, toma algumas gotas de extrato alcóolico de própolis, que além de ser um potente antioxidante é bactericida, e depois um suco com frutas e verduras orgânicos. Ela faz uso, também, de cápsulas à base de ingredientes antiinflamatórios, como a glutationa, a berberina e a curcumina. “É claro que se algum dia eu perceber que preciso de medicação, vou tomar. Mas, antes, vou tentar ao máximo controlar da forma mais natural”, diz.

Apesar de não serem encaradas como tratamentos oficiais para a doença, as alternativas podem se mostrar benéficas em alguns casos. “Não existe nenhum estudo em relação a isso, mas a gente sabe que mais de 40% dos pacientes com alopecia areata melhoram espontaneamente”, explica Brenner. “Se não interferir na qualidade de vida do paciente, pode fazer terapias com menos evidências científicas”, garante a dermatologista.

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