Saúde e Bem-Estar

Jessica Maes, especial para a Gazeta do Povo

Dor nos seios: o que pode ser?

Jessica Maes, especial para a Gazeta do Povo
29/04/2019 18:38
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Menos de 5% dos casos de dores nos seios que chegam aos consultórios vão demandar algum tipo de tratamento medicamentoso. Foto: Bigstock.

Um ato tão simples quanto descer uma escada pode ser fonte de dor para muitas mulheres. Em caso de sensibilidade anormal, o impacto do movimento é sentido em cheio nos seios e o desconforto pode ser intenso o suficiente para que seja necessária ajuda médica. Conhecida como mastalgia, a dor nas mamas é o principal motivo de procura por mastologistas.
Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), esse tipo de dor atinge cerca de 70% das mulheres, sem restrição de idade. Ela é mais frequente em pessoas que têm seios mais volumosos e pode ser classificada em dois grandes grupos: o da mastalgia cíclica ou acíclica.
A primeira é a mais comum (cerca de 80% dos casos) e acontece periodicamente, todos os meses, principalmente no período pré-menstrual. O alívio normalmente só chega quando a menstruação desce e, em alguns casos, a mama pode ficar sensível demais até para o toque mais suave.
“Essa é uma dor fisiológica, não patológica”, afirma o mastologista Helio Rubens de Oliveira Filho, presidente da regional Paraná da SBM. A mastalgia cíclica pode acontecer desde o início da vida reprodutiva da mulher até o final dela, na menopausa.

O médico explica que a mama é a região do corpo feminino mais sensível a alterações hormonais. “Todas as células da mama têm receptores de hormônios nas suas membranas. Pode haver dor na mama de acordo da fase do ciclo [menstrual] e eventuais irregularidades nos níveis de hormônios como estrogênio, progesterona e até prolactina”, diz o especialista.

É o aumento na progesterona durante o ciclo menstrual, por exemplo, que faz com que os vasos das mamas fiquem dilatados, acumulando mais líquido e aumentando a sensibilidade — além de deixar os seios mais volumosos.
“Na maioria das vezes, só quando o médico elucida a paciente que isso é um processo fisiológico, que não tem relação nenhuma com câncer de mama, com doenças, é que a maioria das mulheres convive com aquilo de maneira normal”, conta. Segundo o médico, menos de 5% destes casos vão demandar algum tipo de tratamento medicamentoso.
Para diminuir a intensidade da dor cíclica, a recomendação é evitar cigarro e ingerir alimentos e bebidas estimulantes, como café, chá preto, refrigerante de cola e até chocolate. Ou seja, aquele brigadeiro que ajuda tanta gente a flutuar o turbilhão de emoções da tensão pré-menstrual pode aumentar a sensibilidade nos seios.
Diagnóstico dos nódulos passa por exames de imagem (Foto: Bigstock)
Diagnóstico dos nódulos passa por exames de imagem (Foto: Bigstock)
Oliveira Filho indica evitar a atividade física quando houver dor nas mamas ou, no mínimo, usar sutiãs do tipo top que deem boa — quanto menos as mamas se movimentarem, menos dor. Compressas geladas, que agem como vasoconstritoras, também ajudam a aliviar as dores mais fortes.
Quando a dor não está associada ao ciclo menstrual ela é chamada de mastalgia acíclica, que pode ter intensidade constante ou progressiva.

As origens podem ser diversas: dor muscular ou articular, relacionada normalmente ao esforço físico; doenças benignas da mama que são relativamente comuns, como cistos mamários; fibroadenomas (tumor benigno de mama bastante frequente em mulheres jovens); irregularidades hormonais; problemas ovarianos; inflamações e infecções da mama (mastites), que são mais comuns na gravidez, mas podem acontecer a qualquer momento. A mastalgia também é um dos primeiros sinais da gravidez.

Câncer de mama

Ainda que seja motivo de grande temor das mulheres que procuram cuidado médico por causa de dores nos seios, o câncer de mama é a causa “mais rara e mais extrema” desse sintoma, explica o mastologista. “O câncer de mama tem associação à dor mamária em menos de 1% das vezes. Ele geralmente não dói e só vai causar dor quando a doença estiver muito avançada”, ressalta.
Várias outros sintomas são bem mais comuns: a principal manifestação (90% dos casos) são nódulos, fixos e geralmente indolores; pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja; alterações no mamilo; pequenos nódulos nas axilas ou no pescoço; e saída espontânea de líquido anormal pelos mamilos.
A altíssima incidência dos nódulos mostra a importância do autoexame (a ser realizado todos os meses, no período pós-menstrual, a partir dos 18 anos) e da mamografia (que deve ser feita anualmente a partir dos 40 anos) para diagnóstico precoce da doença. A mamografia é um direito garantido às mulheres por lei e, assim como o tratamento para o câncer de mama, é disponibilizada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O câncer de mama é o que mais mata mulheres no mundo todo e tem uma taxa de letalidade alta — no Brasil, ela chega a 25%. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), vinculado ao Ministério da Saúde, em 2018 estima-se que foram detectados 59.700 novos casos de câncer de mama em mulheres, representando 29,5% do total. Para comparação, o segundo mais frequente na população feminina seria o câncer de cólon e reto, com 18.980 novos casos.

Como amenizar a dor mamária

Algumas dicas podem ajudar quem sofre com dores nas mamas. No entanto, a recomendação é sempre procurar orientação médica em caso de incômodo e jamais fazer automedicação. Para aliviar o desconforto, o mastologista Helio Rubens de Oliveira Filho, presidente da regional Paraná da Sociedade Brasileira de Mastologia, aconselha:
– Cuide com a boa sustentação da glândula mamária, com sutiãs adequados;
– Evite consumo de substâncias estimulantes, principalmente que contenham metilxantina: chá preto, café, chocolate, tabagismo (passivo ou ativo);
– Faça compressa gelada;
– Medicamentos como vitamina E e ácido gama-linolênico – que, em evidências científicas, não mostraram benefícios quando comparados com placebos, mas, na prática, algumas pacientes se sentem melhor usando esses medicamentos;
– Medicamentos mais potentes, em caso de dor muito severa.
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