Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Enxaqueca pode acometer crianças a partir dos dois anos de idade

Amanda Milléo
04/10/2019 08:00
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Enxaqueca em crianças: quais são os sinais e os tratamentos? Foto: Bigstock.

Enxaqueca não parece ser uma doença de criança, mas a condição pode acometê-las tal qual os adultos. E o pior: como nem sempre as crianças sabem explicar o que estão sentindo, os sinais passam despercebidos pelos pais.
Isso acontece porque a doença pode apresentar os primeiros sinais ainda na fase bebê, conforme explica Paulo Faro, médico neurologista. “No nosso ambulatório específico de enxaqueca entre crianças e adolescentes, o caso mais precoce de início dos sintomas era em uma criança com dois anos”, explica o médico, que também é chefe do setor de Cefaleia e Dor Orofacial do Instituto de Neurologia de Curitiba (INC).
Em casos assim, os pais devem ficar atentos a alguns sinais importantes:
  • A criança para de brincar de repente?

  • Ela se esconde da luz? 

  • Barulho parece incomodá-la?

  • Ela fica quietinha de repente? 

Esses sinais, de acordo com Faro, são bastante sugestivos de enxaqueca. “Conseguimos perceber [se é enxaqueca] pelo relato dos pais de como a criança se comporta. A intensidade da dor é semelhante ao adulto. Provoca dor de moderada a forte intensidade e o que muda é a duração”, explica Faro.

Entre os adultos, é habitual uma enxaqueca durar entre quatro a 72 horas. Nas crianças, o período é de duas a 72 horas. 

De acordo com Faro, estima-se que 3% dos pacientes pediátricos apresentem enxaqueca e a prevalência aumenta com o passar da idade. Entre os adolescentes, por exemplo, pode chegar a 12% — semelhante ao número da doença entre os adultos.

“A enxaqueca é muito sub-diagnosticada [entre crianças e adolescentes] porque muitas vezes os pais e professores encaram a dor de cabeça como birra, como se a criança quisesse trocar por outra coisa, e na verdade não é. Cada vez que retarda o diagnóstico, a doença avança. É muito frequente a criança que chega ao consultório com dores de cabeça diárias e tomando analgésicos”, alerta Paulo Faro, neurologista. 

Tratamentos

A Associação norte-americana de Neurologia e a Sociedade norte-americana para Dor de Cabeça lançaram recentemente novas diretrizes para o tratamento da enxaqueca entre as crianças e adolescentes. Apesar de não trazerem nenhum medicamento novo, as diretrizes reforçam que os tratamentos realizados hoje pelos neurologistas têm embasamento científico.
Para esse público, combinações de anti-inflamatórios não esteroides e tripanos aliviam a dor aguda. Já os sprays nasais com triptano e o uso da terapia cognitivo-comportamental (TCC), associada a amitriptilina, podem trazer resultados benéficos também na migrânea crônica.
“O tratamento, de maneira geral, segue o mesmo parâmetro dos adultos. Avaliamos a frequência da dor de cabeça que a criança apresenta, se é mais ou menos de quatro vezes por mês. Geralmente, quando há quatro episódios por mês podemos indicar algum tratamento preventivo, com medicações e o TCC”, explica Faro.

Com os medicamentos, a duração do tratamento é bastante variável. A criança pode ser medicada de seis meses a um ou dois anos.

Para os adultos, foi aprovado um novo medicamento contra as enxaquecas. Trata-se do erenumab, um anticorpo monoclonal produzido especificamente para a doença, com menos efeitos colaterais e podendo ser usado apenas uma vez por mês.
Aprovado em 2018 na Europa e nos Estados Unidos, a medicação recebeu o aval da Anvisa em março de 2019. A medicação, porém, não pode ser indicada a crianças e adolescentes.

Terapia cognitivo-comportamental contra enxaqueca

Uma das indicações de tratamento contra enxaqueca em crianças e adolescentes é o uso da terapia cognitivo-comportamental (TCC), associada a medicações. Trata-se de uma área da Psicologia e que pode ser usado em adultos também.
“Quando você faz o tratamento da TCC, o psicólogo leva a criança ou adolescente a entender melhor os sintomas. Nessa área, o entendimento é que o pensamento gera um sentimento, que gera um comportamento. É uma sequência e a criança será induzida a reconhecer esses três parâmetros para ajudar a controlar os sintomas”, explica Paulo Faro, médico neurologista.
Como há fatores externos, geradores de estresse, que favorecem o desencadear da dor, ao controlá-los você consegue ter mais ação contra a doença. “Um dos fatores é emocional. Naquela criança muito irritada, nervosa, ansiosa, por meio dessa abordagem você consegue melhorar a ansiedade, os pensamentos dela, e não culmina na crise”, diz o especialista.

De onde veio a dor? – A enxaqueca é uma doença genética. Logo, se os pais ou avós têm enxaqueca, há um risco maior de que as crianças também desenvolvam as dores.

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