Saúde e Bem-Estar

Maria Fernanda Takahashi, especial para o Viver Bem

Estigma social é gatilho para três transtornos mentais em obesos

Maria Fernanda Takahashi, especial para o Viver Bem
01/09/2019 13:00
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A pessoa deprimida não tem energia para fazer atividades, o que, aliado à obesidade, potencializa o preconceito que este sofre por estar acima do peso. Foto: Bigstock.

Além dos problemas físicos que o excesso de peso causa, o estigma social aos quais muitos obesos estão associados pode servir de gatilho para transtornos mentais. Entre eles, os mais comuns são: ansiedade, compulsão e depressão.
Os constrangimentos, que se somam ao bullying, passam pela dificuldade em encontrarem roupas do seu tamanho, problemas ao se candidatarem a uma vaga de trabalho e mesmo desconfortos na hora de se acomodarem em um avião, como exemplifica Arthur Kaufman, professor doutor no Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP.

“Eu tinha uma paciente que adorava assistir desfiles de celebridades. Ela assistia e comia. Então, além de questões sociais, as redes e o culto à beleza aumentam a angústia que as pessoas gordas enfrentam”, diz Kaufman.

Essas situações podem levar a quadros de estresse e traumas. A sensação de tristeza, inferioridade, além de disfunções relacionadas ao mau funcionamento do organismo também desencadeiam consequências psicológicas.

“Entre obesos, normalmente são identificados indivíduos ansiosos, deprimidos e com quadro de compulsão alimentar”, diz a psicóloga clínica Luciana Kotaka.

Ansiedade

Sensação de pressa, urgência e inquietação, a ansiedade pode interferir nas atividades do dia a dia, principalmente quando desencadeia alguma compulsão, como a alimentar.
A pessoa ansiosa costuma buscar alívio imediato de diferentes formas, e investir na comida para apaziguar os tormentos provocados pelo excesso de peso é uma das mais recorrentes.

“Quando falamos em obesidade, já identificamos indivíduos ansiosos. Isto porque a ansiedade leva muitos pacientes a comerem para tentarem acalmar o incômodo provocado, mas é um efeito temporário, até que volte a comer novamente”, afirma a psicóloga.

Compulsão

O transtorno compulsivo alimentar caracteriza-se pela falta de controle do que é ingerido, seguido de um sentimento de culpa. É uma condição frequente em pessoas com obesidade que apresentam uma relação disfuncional com a comida.

A compulsão é considerada um transtorno grave quando os episódios acontecem pelo menos duas vezes na semana por seis meses.

“A compulsão alimentar periódica e a depressão são os quadros de maior prevalência na obesidade, seguido do quadro de ansiedade. É um ciclo interminável, no qual a tristeza e a ansiedade levam o indivíduo a comer mais e, consequentemente, a um quadro de depressão, recomeçando o ciclo”, destaca Luciana.

Depressão

Estresse, cansaço, baixa autoestima e sensação de impotência têm um grande peso no desenvolvimento da depressão em pessoas com obesidade. A doença acomete o organismo como um todo, comprometendo o físico e o mental.
Em pessoas deprimidas, a forma de ver e sentir a realidade ficam alterados, modificando as emoções, a disposição, a alimentação, o sono e o sentimento sobre si mesmos.

“Existem estudos, como o publicado recentemente pelo Journal of the American Medical Association, que mostram a incidência da depressão em obesos sendo duas vezes maior do que na população geral”, salienta a psicóloga.

Ela ressalta, ainda, que a pessoa deprimida não tem energia para fazer atividades, o que, aliado à obesidade, potencializa o preconceito que este sofre por estar acima do peso.
“Isso dificulta ainda mais a adesão aos tratamentos, à mudança de comportamento alimentar e à prática de atividades físicas”, explica Luciana.

Tratamento

De acordo com os especialistas, o tratamento precisa ser avaliado caso a caso e deve ser multidisciplinar. Pode incluir sessões de terapia, prescrição de medicamentos, além da indicação de dietas específicas e o estímulo à adoção de atividades físicas e de hábitos mais saudáveis.
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