Saúde e Bem-Estar

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo

Dor de cabeça nem sempre precede o AVC; veja outros sinais

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo
06/05/2019 11:00
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O conceito de dor como um fenômeno puramente físico atingiu o ápice nos anos 1990, quando organizações médicas como a Sociedade Americana para a Dor e o Departamento de Questões dos Veteranos conseguiram estabelecê-la como um "quinto sinal vital". Foto: Bigstock.

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a doença que mais mata no Brasil. Dados do Ministério da Saúde apontam que são mais de 100 mil mortes anuais no país em decorrência do evento, popularmente conhecido como “derrame”.
E a previsão é que a incidência da doença, que atinge uma em cada seis pessoas, continue a crescer em todo o mundo. Catarina De Marchi Assunção, médica neurologista do Hospital Angelina Caron, esclarece o que é mito e o que é verdade quando o assunto é AVC. Confira:

Estilo de vida estima o risco

Verdade. Indivíduos com fatores de risco como sedentarismo, obesidade, hipertensão, diabete, colesterol alto, tabagismo, estresse, problemas cardíacos e má alimentação são mais propensos a doenças vasculares como o AVC (sendo a hipertensão mal controlada o fator de risco mais importante para lesões isquêmicas e hemorrágicas). Identificados e modificados os fatores de risco, é possível reduzir a incidência e mortalidade pela doença. Além disso, há que se considerar também o componente genético. “Em pacientes mais jovens, usualmente o AVC (mais comum em pessoas com idades acima de 65 anos) está ligado mais a um fator genético do que ambiental. Apesar disso, estima-se que 90% dos casos de AVC decorrem de fatores que podem ser prevenidos”, diz a neurologista.

Todo AVC é fruto de um aneurisma rompido

Mito. Aliás, o hemorrágico (quando ocorre a ruptura de um aneurisma – uma dilatação da artéria, como se fosse uma “bolsinha” –, geralmente por hipertensão) é o tipo menos comum da doença, representando apenas 20% de todos os casos de AVC. Os outros 80% são do tipo isquêmico, ou seja, quando o fluxo sanguíneo é interrompido em alguma parte do cérebro, em função do entupimento de pequenas e grandes artérias por gordura. “É um evento análogo ao enfarte agudo do miocárdio, mas que acontece no cérebro”, explica a neurologista.

O tempo é precioso

Verdade. O AVC é uma emergência médica dita tempo dependente, ou seja, quanto mais rápido o atendimento, melhores as chances de recuperação. Por isso, saber reconhecer os sintomas é fundamental. “Entre os principais sinais de alerta estão fraqueza ou formigamento na face, perna ou braço (em apenas um lado do corpo), tontura, perda visual e alteração do equilíbrio, da fala, do entendimento, da coordenação e do andar (ou queda), tudo de modo súbito”, alerta Catarina. Diante do reconhecimento desses sintomas, deve-se ligar imediatamente para o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU) – 192. O ideal é que o paciente seja atendido até, no máximo, três ou quatro horas depois do início dos sintomas. Estar atento aos sinais ajuda a minimizar o quadro, que evolui progressivamente ao longo das primeiras horas sem atendimento. Por isso, quanto antes, melhor é o prognóstico.

Dor de cabeça é sempre um sinal

Mito. Dor de cabeça súbita e muito intensa é mais frequente no AVC hemorrágico, por ruptura de um aneurisma. Porém, esse sintoma não está presente em todos os pacientes, significando que o AVC pode ser sim, mesmo que em poucos casos, indolor. Por isso, é importante estar atento a sintomas mais importantes, como alterações motoras em apenas um lado do corpo, de sensibilidade, fala e entendimento, além do formigamento.

O AVC não costuma dar pistas prévias

A dor de cabeça não está presente em todos os pacientes, significando que o AVC pode ser sim, mesmo que em poucos casos, indolor. Foto: Bigstock.
A dor de cabeça não está presente em todos os pacientes, significando que o AVC pode ser sim, mesmo que em poucos casos, indolor. Foto: Bigstock.
Verdade, em partes. O que alguns pacientes podem experimentar são alguns eventos sentinela, como dores de cabeça muito fortes (em trovoada), totalmente diferentes das dores de cabeça de rotina. “Se o paciente tem um aneurisma que extravasa um pouquinho de sangue, pode sentir essa dor muito intensa, acompanhada de alguma perda de consciência, mesmo sem ruptura. Também se acredita que, ao longo de um período de muitas semanas, a qualidade de uma dor de cabeça pode predizer a existência de um aneurisma”, diz ela.

O tratamento é sempre cirúrgico

Mito. A cirurgia é um tratamento adjuvante em alguns casos mais graves. O tratamento de escolha da maior parte dos AVCs (isquêmico) é a trombólise, ou seja, uma terapia de desobstrução da artéria entupida, através de medicação endovenosa, antes que haja um grau de lesão tecidual irreversível. A trombólise endovenosa é atualmente a terapêutica com maior evidência de benefício na recanalização arterial. “Cirurgia para contenção de dano e drenagem de sangue são condutas secundárias”, explica a médica.

História na família pede rastreio

Verdade. Quem tem parente de primeiro grau com história de AVC hemorrágico tem indicação para fazer um exame de imagem de procura específica por aneurisma. Se detectado um aneurisma dilatado ou frágil, o médico pode sugerir um procedimento similar ao cateterismo do coração, com acesso também pela artéria femoral e colocação de uma mola stent para desviar o fluxo de sangue. Sem passagem de sangue, não há pressão suficiente para romper o vaso. Porém, esse é um caso especial. É possível viver normalmente com aneurismas menores, apenas com acompanhamento médico regular para verificar eventuais evoluções e dilatações.

Pílula anticoncepcional aumenta o risco entre mulheres

Foto: Bigstock)
Foto: Bigstock)
Verdade. Há estudos que atribuem o aumento do risco de AVC em mulheres que usam pílula anticoncepcional e fumam, têm problemas que comprometem a coagulação (trombofilia) ou têm enxaqueca com problemas neurológicos (aura). Cabe à paciente contar sua história e, ao médico, determinar se ela é uma boa candidata ou não à contracepção hormonal.

O rastreio populacional é indicado

Mito. Para o tipo mais comum de AVC, o isquêmico, não há bons exames que vão muito além do que se consegue detectar através da história do paciente. O doppler transcraniano, um exame que avalia o fluxo sanguíneo nas principais artérias do cérebro, não é muito comum no Brasil. Assim como o doppler de carótida (que funcionaria como modo de rastreio indireto) é um exame de pouca serventia para pacientes fora do grupo de risco. Sua frequente realização pode submeter pacientes a exames excessivos e desnecessários, além de onerar o sistema de saúde.

Ingerir frutas e verduras diariamente reduz o risco da doença

Verdade. A alimentação saudável reduz os níveis de colesterol e melhora a pressão arterial, o que minimiza o surgimento de AVC e outros distúrbios vasculares. Recomenda-se o consumo de cinco porções de frutas e verduras diariamente para beneficiar a saúde dos vasos.
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