Saúde e Bem-Estar

Maria Miqueletto, especial para a Gazeta do Povo

Estudo aponta temperatura máxima de bebida quente para reduzir risco de câncer

Maria Miqueletto, especial para a Gazeta do Povo
09/04/2019 08:00
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Pessoas que bebem mais de duas xícaras grandes com temperatura acima dos 60 graus tiveram um aumento de 90% no risco de câncer de esôfago. Foto: Bigstock.

Acordar e tomar uma xícara de chá faz parte da rotina diária de muitos brasileiros. Mas o hábito simples pode se tornar um problema a longo prazo. Um estudo publicado no Internacional Journal of Cancer indica que beber chá muito quente pode aumentar o risco de câncer de esôfago.
Os pesquisadores constataram que as pessoas que bebem mais de 700 ml de chá por dia (aproximadamente duas xícaras grandes) com temperatura acima dos 60 graus C tiveram um aumento de 90% no risco de câncer de esôfago, em comparação com quem bebia menos  chá e com temperaturas menores. Para isso, foram analisadas cerca de 50 mil pessoas em Golestan, no nordeste do Irã.
De acordo com os autores, por mais que outros estudos já tenham detectado uma ligação entre bebidas quentes e câncer de esôfago, esse é o primeiro a descobrir a temperatura exata — não pode ultrapassar os 60 graus C.
Anote a dica: chá de gengibre é ótimo para acalmar o estômago em casos de excessos.  Foto: Bigstock
Anote a dica: chá de gengibre é ótimo para acalmar o estômago em casos de excessos. Foto: Bigstock
O médico oncologista do Hospital Nossa Senhora das Graças Lucas Dan Yuasa explica que isso é válido não apenas para chá, mas qualquer outro tipo de bebida quente. Já é consenso entre os especialistas que agressões a longo prazo à mucosa da boca, faringe e esôfago — não só de bebidas quentes, mas também do cigarro e álcool — aumentam a incidência de câncer nessa região.
Portanto, é indicado consumir bebidas com temperatura inferior a 60 graus C. Para isso, o  Instituto Nacional do Câncer indica desligar o fogo quando iniciar a formação de bolhas no fundo da chaleira e espere por cinco minutos antes de colocá-la na garrafa térmica ou consumi-la.
No entanto, não pode-se levar esse número limite — 60 graus C, segundo o estudo — tão à risca, posto que o câncer é uma doença multifatorial. Sendo assim, uma pessoa pode ter vários outros estímulos cancerígenos que, aliados a uma temperatura até menor, pode levá-la a desenvolver a doença.

“Se a pessoa beber uma bebida acima dos 60 graus C uma vez isso não vai causar um câncer, mas se for um hábito contínuo pode acontecer”, pondera.

Câncer é mais comum em homens
No Brasil, o câncer de esôfago é o sexto mais presente entre homens – 8.240 novos casos em 2018. O número muda de acordo com a região — no Sul é o quinto mais frequente, já no Norte é o nono. De acordo com dados da Estimativa de Câncer no Brasil 2018, do Instituto Nacional do Câncer, a incidência é cerca de duas vezes maior em pessoas do sexo masculino. O tipo mais comum é o carcinoma epidermoide escamoso, responsável por 96% dos casos. “Acredito que esse número se dá muito pelo estilo de vida dos homens“, reflete o especialista.
O que aumenta o risco
A prevenção da doença está muito ligada ao estilo de vida. O Instituto Nacional do Câncer indica os seguintes fatores de risco:
– Consumo de bebidas muito quentes;
– Consumo de bebidas alcoólicas em qualquer frequência;
– Excesso de gordura corporal, pois a obesidade facilita o surgimento do refluxo gastroesofagiano (DRGE), o que pode aumentar o risco de desenvolvimento do câncer;
– Consumo de carnes processadas;
– Tabagismo, que é responsável por 25% dos casos;
– Infecção por HPV (Papilomavírus humano);
– Deficiências específicas como Tilose, acalasia, esôfago de Barrett, lesões cáusticas (queimaduras) no esôfago e Síndrome de Plummer-Vinson;
– Exposição a fatores externos como poeiras da construção civil, de carvão e de metal, vapores de combustíveis fósseis, óleo mineral, herbicidas, ácido sulfúrico e negro de fumo está associada ao desenvolvimento de câncer de esôfago. Os trabalhadores da construção civil, metalurgia, indústria de couro, eletrônica, mineração e agricultura, engenheiros eletricistas, mecânicos, extratores de petróleo, motoristas de veículos a motor, trabalhadores de lavanderias/lavagem a seco e serviços gerais;
– Fatores genéticos.
Sintomas
O esôfago é um tubo que liga a faringe ao estômago e qualquer parte de sua extensão pode ser atingida pela doença. Na fase inicial o câncer de esôfago é assintomático, então ele “precisa ser visto, já que não é sentido”, comenta o oncologista.
Os sintomas variam de acordo com a localização do tumor, mas o principal é a disfagia, que caracteriza-se pela dificuldade ou dor na deglutição.
Pessoas que têm fatores de risco devem realizar endoscopia periodicamente mesmo sem sintomas, esse é o exame que possibilita a detecção prévia da doença.
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