Saúde e Bem-Estar

Carolina Kirchner Furquim, especiala Gazeta do Povo.

Da descoberta ao parto: veja todos os exames necessários para um pré-natal completo

Carolina Kirchner Furquim, especiala Gazeta do Povo.
13/03/2018 12:00
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Foto: Bigstock

Um pré-natal completo e bem realizado é indispensável para garantir que a mãe e o bebê cheguem ao parto com segurança e saúde, e também para acompanhar, de perto, todo o desenvolvimento da criança. É importante que a gestante marque sua primeira consulta com o médico ginecologista obstetra tão logo note um atraso menstrual ou descubra a gravidez, para dar início à primeira rotina de pré-natal.
Nela, além de verificar o estado geral da paciente, com uma conversa sobre eventuais queixas, medição da pressão, peso e outras aferições, serão solicitados exames que revelam como está a saúde da gestação. Os usuais são: hemograma, tipagem sanguínea (mulheres com fator Rh negativo devem ter condutas especiais para evitar a eritroblastose fetal, uma doença hemolítica por incompatibilidade Rh, em gestações futuras), sorologia para HIV, hepatites B e C, sífilis e toxoplasmose, medição de TSH (o hormônio estimulante da tireoide), glicemia em jejum, parcial de urina e, eventualmente, parasitológico de fezes.
Nas consultas iniciais, o médico pode ainda solicitar sorologia para rubéola e citomegalovírus, além de pesquisa de trombofilias congênitas. Apesar do protocolo, cada gestação é única e, por isso, as condutas podem ser individualizadas para cada gestante.

Diagnósticos de imagem

Se o tempo de gestação for inferior a dez semanas, a primeira ecografia deve ser uma transvaginal obstétrica, importante para calcular o tempo de gestação, a data provável do parto e verificar o embrião e o saco gestacional. A ultrassonografia morfológica de primeiro trimestre, feita via abdominal entre a 11ª e 13ª semanas de gestação indica, grosseiramente, o risco de ser um bebê sindrômico.
O exame pode demorar de 20 minutos a uma hora, dependendo das condições, que podem dificultar a visualização. Fotos: Bigstock.
O exame pode demorar de 20 minutos a uma hora, dependendo das condições, que podem dificultar a visualização. Fotos: Bigstock.
Em gestações normais, de baixo risco, solicita-se uma nova ultrassonografia morfológica, agora de segundo trimestre. Feita entre as 20ª e 23ª semanas de gestação, esse exame mede o colo uterino, estima a chance de o bebê ter alguma malformação cardíaca e fornece um bom panorama do andamento da gravidez. Também já é possível medir o feto e estimar seu peso, além de analisar os órgãos. Na maior parte dos casos já é possível descobrir o sexo da criança.

Outros testes

A segunda rotina de pré-natal tem início em seguida e, entre a 24ª a 28ª semanas, é ideal que seja realizado o teste de tolerância oral à glicose, um exame laboratorial que identifica a resistência à insulina para diagnosticar o diabetes mellitus gestacional, uma condição que afeta sobremaneira a saúde do bebê. Nessa fase também são repetidos alguns exames, como o hemograma.
Nas 34ª e 35ª semanas, é realizado um ultrassom para novamente estimar o peso, verificar a posição do bebê, que pode ser pélvico (sentado) ou cefálico (posição ideal para o parto normal), avaliar a maturidade da placenta e a quantidade de líquido amniótico.
Nesse período também é feita uma pesquisa para a bactéria estreptococo. Nesse exame, popularmente conhecido como “teste do cotonete”, são colhidas amostras da vagina e da região anal. Se o resultado for positivo, é administrado um antibiótico no momento do parto, para prevenir infecções graves no bebê, como a sepse neonatal precoce, pneumonia e meningite.

Frequência

Em uma gestação saudável, as consultas, inicialmente, têm periodicidade mensal. Ao se aproximar da 28ª semana, os encontros com o médico passam a acontecer a cada três semanas. A partir da 34ª semana, as consultas acontecem a cada 14 dias e, após a 37ª semana, semanalmente até o bebê nascer.
O Ministério da Saúde recomenda que as visitas ao médico aconteçam, pelo menos, seis vezes até o parto. Contudo, a maior parte dos especialistas prefere ver suas pacientes com uma frequência muito maior.

Saiba a época certa de fazer outros exames de pré-natal específicos:

Amniocentese
É realizado com o auxílio de uma agulha para puncionar uma amostra de líquido amniótico que será analisada em laboratório. Esse exame é capaz de confirmar doenças como anemia falciforme ou talassemia, a distrofia muscular e a fibrose cística.  É feito a partir da 15ª semana de gestação (mas só é indicado se houver suspeita, com base em alterações em investigações anteriores ou doença hereditária na família).
Cordocentese
Feito a partir da 18ª semana de gestação, requer a retirada de uma amostra de sangue do bebê, por meio do cordão umbilical, para investigar anomalias cromossômicas e doenças como toxoplasmose, rubéola, anemia ou citomegalovírus.
Biópsia do vilo corial
Por meio de uma punção com agulha, entre a 10ª e 13ª semanas, o especialista retira uma amostra de tecido da placenta, cujo material genético é idêntico ao do bebê, e o analisa em laboratório para rastrear alterações como a síndrome de Turner, a fibrose cística e a anemia falciforme.
Para os três exames, se não houver outra indicação específica de investigação, habitualmente serão rastreadas alterações cromossômicas por meio do cariótipo fetal.

Casos especiais

Alterações em algum dos exames comuns do pré-natal, idade materna avançada, gestantes com doenças prévias, hipertensão ou diabete, história familiar de doenças hereditárias e gestação de múltiplos, por exemplo, exigem um pré-natal mais cuidadoso, a critério de cada médico. Esse pré-natal “especial” pode envolver um maior número de consultas e exames específicos e mais intensivos, como a ecografia obstétrica com medida da translucência nucal.
Realizada durante o exame de ultrassom de primeiro trimestre (entre 11 e 13 semanas) em todas as gestantes e tem como objetivo medir uma prega na nuca do feto, já que determinadas síndromes cromossômicas promovem acúmulo de líquido nessa região, alterando sua medida. Durante esse exame, também se verifica a presença do osso nasal, cuja ausência é mais um indicador de anormalidade, e o fluxo no ducto venoso que, quando alterado, pode ser indicativo de alterações no coração.
O resultado da translucência nucal, em casos suspeitos, pode ser combinado com o de um exame feito a partir de uma amostra de sangue da mãe, em que são dosadas duas substâncias, o BHCG livre e o PAPPA, ajudando a identificar possíveis alterações cromossômicas no bebê. No entanto, o teste indica apenas uma probabilidade, pois é passível de resultado falso-positivo e falso-negativo. A associação dos dois testes é uma estratégia que aumenta muito a confiabilidade do resultado. Para se ter uma ideia, a medida isolada da translucência nucal (associada à idade materna) garante uma taxa de detecção em torno de 60%. Ao incluir a avaliação bioquímica, esse índice passa a ser superior a 90%.

Diagnóstico de síndromes

Uma importante evolução na medicina diagnóstica pré-natal é o Teste Pré-Natal Não-Invasivo (NIPT), que possibilita identificar ou descartar problemas genéticos no bebê a partir de uma amostra de sangue da mãe.
O índice de acerto é de 99% para as síndromes de Down, de Patau, de Edwards, de Klinefelter e de Turner. Disponível apenas na rede particular, ele é feito a partir da 9ª semana de gestação.
O exame não substitui os métodos invasivos, uma vez que não permite uma análise completa dos cromossomos, mas uma avaliação específica para as síndromes investigadas. Todo exame alterado deve ser confirmado, idealmente, por uma avaliação direta do material fetal. É questionável, também, o uso desse exame em caso de malformação confirmada no feto, considerando que as análises por meio de amniocentese ou cordocentese são mais completas. O NIPT é geralmente indicado para gestantes de menor risco para anomalias cromossômicas ou com idade materna avançada e sem histórico familiar de alterações.
Fontes consultadas: Beatriz dos Santos, ginecologista do Hospital Marcelino Champagnat e autora do blog Mulher Descomplicada (www.mulherdescomplicada.com.br); Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Dafne Horovitz, coordenadora clínica do Centro de Genética Médica do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).
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