Saúde e Bem-Estar

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo

Exercícios melhoram qualidade de vida de pacientes com câncer; veja os mais indicados

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo
11/12/2018 19:00
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A prática física ajuda a contrabalançar os efeitos adversos do câncer . Foto: Bigstock

O exercício deve ser parte do padrão de tratamento para todos os pacientes com câncer, de acordo com um novo posicionamento da Clinical Oncology Society of Australia (COSA), a organização líder naquele país para especialistas na doença. As diretrizes pregam que oncologistas e outros profissionais de saúde que tratam doenças neoplásicas devem discutir as atividades como tratamento adjuvante, prescrevê-las como rotina e encaminhar pacientes a especialistas em exercícios físicos. Segundo o documento, a prática física ajuda a contrabalançar os efeitos adversos do câncer e do próprio tratamento, como toxicidade, astenia (perda ou diminuição da força física), estresse psicológico e depressão. As pesquisas foram realizadas principalmente em tumores de mama, colorretal e de próstata.

As diretrizes indicam ainda que a realização de exercícios regularmente antes, durante e/ou após o tratamento para o câncer, diminui a gravidade de outros efeitos colaterais adversos e está associada a um menor risco de desenvolvimento de outros tumores. Além disso, pesquisas epidemiológicas sugerem que a atividade física protege contra a recidiva (reincidência) do câncer, a mortalidade específica da doença e a por qualquer causa para alguns tipos de neoplasias.

Segundo o médico William Massami Itikawa, diretor técnico do Hospital Erasto Gaertner, o exercício físico regular ajuda principalmente no combate à fadiga, sintoma que chega a atingir até 70% da população em tratamento com quimioterapia. “Além disso, proporciona uma manutenção do peso do paciente, combatendo assim os quilinhos a mais resultantes de um tratamento oncológico”, diz ele. “Em pacientes ativos existe uma maior tolerância náuseas e controle importante da fadiga quando comparados a pacientes sedentários”, fala Elise Nara Sanfelice, oncologista clínica do Centro Integrado de Oncologia de Curitiba (CIONC).

Mais do que uma melhora significativa na qualidade de vida, os exercícios físicos influenciam os índices de cura da doença, diz Itikawa.

“Ao analisar 26 estudos com pacientes com câncer de mama, próstata e intestino, concluiu-se que a prática de exercícios chega a diminuir em até 37% o risco de morte associada ao câncer”, diz. A prática não apenas melhora os resultados do tratamento, como também previne inúmeros tipos da doença, com destaque para esôfago, fígado, pulmão, cólon e mama.

Os mais indicados

Exercícios aeróbicos de leve a moderada intensidade são os mais recomendados. A American Cancer Society recomenda 150 minutos de atividade física desse tipo por semana. Itikawa comenta que caminhadas, por exemplo, são uma ótima opção. “Mas vale sempre ressaltar a necessidade de autorização do oncologista para que o exercício seja iniciado”, alerta. De acordo com Elise, o exercício recomendado irá depender do tipo e localização do câncer, bem como dos hábitos do paciente quanto à prática de exercícios prévios ao diagnóstico.
(Foto: Bigstock)
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“Se o paciente era sedentário, por exemplo, deve iniciar com exercícios leves. Pacientes que já praticavam exercícios intensos podem seguir suas práticas prévias conforme a disposição do dia”, orienta.

Exercícios ao ar livre são mais recomendados do que em ambientes fechados e aglomerados, em função da queda de imunidade que os pacientes apresentam durante o tratamento, o que os torna mais suscetíveis a infecções oportunistas. Ainda segundo a médica, deve haver uma atenção especial para a localização do tumor. Pacientes com metástases nos ossos, por exemplo, devem evitar exercícios de impacto e ter a liberação do médico para a prática mesmo sem choque, pois há risco maior de fraturas nesses casos.

Recomendações

As diretrizes australianas estabelecem as seguintes sugestões a pacientes com câncer:
>>  Ao menos 150 minutos de exercício aeróbico de intensidade moderada ou 75 minutos de alta intensidade por semana. Caminhada, corrida, ciclismo e natação são bons exemplos.
>> De duas a três sessões semanais de exercício de resistência – como musculação –, envolvendo exercícios de intensidade moderada a alta, e focando nos maiores grupos musculares.
>> O exercício deve ser individualizado para as habilidades de cada paciente, assim como para efeitos adversos do tratamento, trajetória antecipada da doença e estado de saúde. Sempre busque liberação médica.

Efeitos

O educador físico Rodrigo Ferraz, colunista do Instituto Oncoguia e fundador e coordenador técnico do treinamento Oncofitness, um projeto que engloba o treinamento físico em pacientes oncológicos e pesquisas científicas na área, explica, em três níveis, os efeitos dos exercícios no organismo do paciente com câncer:
Foto: Bigstock
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Efeitos gerais – Melhora das capacidades físicas (força, cardiorrespiratória, flexibilidade, equilíbrio, entre outras).
Sob esta perspectiva, a ciência mostra que não há restrições ao paciente oncológico na realização de modalidades como futebol, natação, pilates, crossfit e musculação – desde que liberadas pelo médico e adaptadas às condições físicas do paciente. Durante ou depois do tratamento, a prática constante e estruturada de exercícios é segura, exequível e eficaz.
Efeitos específicos – Pesquisas apontam que as adaptações fisiológicas provocadas pela melhora das capacidades físicas no paciente durante e após o tratamento são capazes de reduzir ou, até mesmo, extinguir alguns efeitos colaterais do câncer e seu tratamento. Os mais notáveis são fadiga crônica, depressão, ansiedade, dor, cardiopatias associadas, neuropatias sensório-motoras
e distúrbios do sono. Devem ser considerados ainda os benefícios das interações sociais promovidas pela prática do exercício, que atuam na melhora de algumas dessas sequelas.
Efeitos modificadores do curso da doença – A combinação de diversas adaptações fisiológicas induzidas pelo exercício, como o aumento de hormônios e da hemoglobina circulante, hipertrofia do miocárdio, diminuições de lesões vasculares, redução de citocinas pró-inflamatórias e aumento das anti-inflamatórias, melhoram a perfusão tumoral e o sistema imunológico. Dessa forma, aumenta-se a infiltração de células natural killers (a defesa natural anticâncer do organismo) e de compostos antineoplásicos (de terapias sistêmicas) no ambiente intratumoral, favorecendo a apoptose (morte celular) e reduzindo o crescimento do tumor.
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