Saúde e Bem-Estar

Julliana Bauer, especial para Gazeta do Povo

Falta de sono afeta a saúde do coração e também a longevidade

Julliana Bauer, especial para Gazeta do Povo
06/10/2019 12:00
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A soneca está liberada, mas o tempo do descanso deve ser curto, para não comprometer o sono da noite. Foto: Bigstock.

Após uma semana de noites mal dormidas ou acordando mais cedo do que gostaria, você tem o hábito de “recuperar” o sono perdido dormindo até mais tarde?
Se sua resposta foi afirmativa, saiba que não está sozinho – 52% dos brasileiros têm esse hábito, de acordo com uma pesquisa global realizada pela Philips.
Além disso, 36% dos participantes relataram ter problemas de insônia, e 35% afirmaram que distrações como televisão e celular afetam o seu sono.

O perigo dos maus hábitos de sono não consiste apenas em passar o dia seguinte com sono e mau humor. A falta de sono afeta também a longevidade. Um estudo publicado no Journal of American College of Cardiology (JACC) revelou que pessoas que dormem menos de seis horas por noite, apresentam risco 27% maior de desenvolver aterosclerose.

Já aqueles que relataram uma má qualidade de sono, mesmo dormindo as horas consideradas necessárias, também são afetados, com um risco 34% maior de adquirir a doença.
O médico cardiologista Sanderson Cauduro, responsável pelo serviço de cardio-oncologia do Hospital Erasto Gaertner, explica que a aterosclerose é o processo natural de deposição de placa de gordura nas artérias.
“Todo mundo vai ter, mas esse processo pode ser postergado com bons hábitos de saúde – e uma boa noite de sono tem papel importante nisso”, aconselha. Ele explica também que a aterosclerose pode desencadear uma série de problemas cardíacos. “Se entupir as artérias, o indivíduo tem mais infarto, derrame e pressão alta”, exemplifica.
Mas qual é exatamente o papel do sono para a saúde do nosso coração? O cardiologista explica:

“Enquanto dormimos, acontece a regeneração celular. Além disso, o único órgão que nunca para é o coração, mas à noite há uma queda de 20% nesse batimento. Quando a pessoa não dorme bem, esse processo de descanso não acontece”, diz ele.

Cauduro reforça que o tempo médio de sono recomendado por especialistas é entre 6 e 8 horas por noite. “Está estatisticamente provado: dormir muito menos ou muito mais que isso é prejudicial”, acrescenta.
O estudo revelou ainda que pessoas que dormem menos horas do que o necessário por noite apresentam uma tendência maior em abusar de bebidas com cafeína ou álcool.
Se a insônia persistir, isso pode gerar um ciclo de estresse, que libera várias substâncias no organismo. Se associado ao excesso de cafeína, é ainda pior, pois vira um círculo vicioso. Foto: Bigstock.
Se a insônia persistir, isso pode gerar um ciclo de estresse, que libera várias substâncias no organismo. Se associado ao excesso de cafeína, é ainda pior, pois vira um círculo vicioso. Foto: Bigstock.
A médica geriatra do Hospital Vita Geraldine Guimarães explica que aquele mau humor que sentimos no dia após uma noite curta ou mal dormida também tem seu papel na hora de afetar a saúde cardíaca e a longevidade.
“É uma situação que, se repetitiva, pode gerar um ciclo de estresse, que libera várias substâncias no organismo. Se associado ao excesso de cafeína, é ainda pior, pois vira um círculo vicioso”, afirma.

Ah, e se você está entre os 52% dos brasileiros que têm o hábito de aproveitar o fim de semana para dormir até mais tarde, ela dá o recado: “criar uma rotina de dormir e acordar nos mesmos horários, ajuda a criar uma rotina saudável de sono e traz também uma qualidade maior a ele – e isso inclui os fins de semana, quando muitas pessoas têm o hábito de dormir até o meio dia, mas isso não é saudável”, adverte.

Idosos precisam dormir mais?

E aquela soneca no meio do dia, normalmente após o almoço, faz bem ou mal para a saúde do coração? “É ótimo”, afirma Cauduro. De acordo com o especialista, pessoas que tiram alguns minutos para descansar no meio do dia têm menor adrenalina, cortisol e lidam melhor com o estresse.
“Vemos muito esse hábito nos países mediterrâneos. Com esse costume, não se morre menos, mas se vive com mais qualidade de vida”, esclarece.
Mas e quanto aos idosos, por que sentem uma necessidade maior de tirar sonecas ao longo do dia? A geriatra explica que isso ocorre porque os hábitos de sono dos idosos são diferentes dos adultos mais jovens.

“Em geral os idosos dormem uma hora a menos, porque não dormem tão bem, então tanto a quantidade quanto a qualidade do sono são comprometidas”, relata.

Logo, a soneca está liberada para eles — mas o tempo do descanso deve ser curto. “Se for até meia hora por dia, faz bem. Passando de meia hora, compromete o sono a noite”, adverte.
Ela ainda recomenda que, se o cochilo for feito após o almoço, que este descanso não seja na cama e, sim, em uma poltrona confortável, para evitar o refluxo.

Doutora Internet

Os resultados da pesquisa da Philips mostraram um dado curioso e alarmante: quando se trata de problemas relacionados ao sono, a maioria dos entrevistados prefere consultar a internet do que um médico.
Entre os entrevistados que relataram sofrer com apneia do sono, os dados também são preocupantes: 65% nunca fizeram ou não estão fazendo tratamentos para a doença. Além disso, 80% dos adultos consultados disseram desejar melhorar a qualidade do seu sono, mas, entre eles, 60% ainda não procurou a ajuda de um médico.
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