Saúde e Bem-Estar

Mariana Ceccon, especial para Gazeta do Povo

Frio, estresse e alguns alimentos: saiba o que piora a cólica menstrual

Mariana Ceccon, especial para Gazeta do Povo
10/06/2019 08:00
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A causa da TDPM está associada a uma má resposta das células nervosas em relação a serotonina, neurotransmissor responsável pelo humor e regulação do sono. Foto: Bigstock

Não é apenas impressão sua. Em dias mais frios, quando os pés parecem estar congelando, a dor da cólica menstrual também é sentida com maior intensidade.
Esse é apenas um dos fatores que podem estar fazendo aqueles dias parecerem mais doloridos do que deveriam ser. Entra nessa conta também a alimentação, o estresse diário e até o histórico das outras mulheres da família.
E quando as pontadas atingem um nível alarmante é difícil resistir a alguns analgésicos e anti-inflamatórios para aliviar o mal-estar. “Se são pacientes que se queixam rotineiramente de dor o tratamento preferencial é o uso de anti-inflamatórios específicos, associados com anticoncepcional, já que o sangramento produzido nesses casos é menor e tem menos liberação de prostaglandina”, explica a ginecologista Jaqueline Neves Lubianca, membro da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia.

A prostaglandina é o nome do composto “vilão”, responsável por causar as dores agudas. É essa substância que provoca as contrações do útero, movimento necessário para que o sangue possa ser expelido.

“Outro motivo para as cólicas são os coágulos de sangue. Quando o endométrio descama, a contração para expelir coágulos maiores é mais forte”, ressalta o ginecologista Eduardo Zlotnik, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Para tentar aliviar essas dores incômodas o Viver Bem listou algumas causas que  podem estar impactando diretamente no seu nível de dor.

FRIO

Existe um fundo de verdade na sabedoria popular. Não que deixar o cabelo molhado ou pisar no chão impactará diretamente nas cólicas, mas sentir-se aquecido ajuda a relaxar os músculos e vasos sanguíneos.
“A diminuição da temperatura faz com que os vasos sanguíneos contraiam, prejudicando o fluxo sanguíneo. Assim, há menos oxigenação e as dores se acentuam”, explica o professor de medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Luiz Felipe Dziedricki.
A causa da TDPM está associada a uma má resposta das células nervosas em relação a serotonina, neurotransmissor responsável pelo humor e regulação do sono. Foto: Bigstock<br>
A causa da TDPM está associada a uma má resposta das células nervosas em relação a serotonina, neurotransmissor responsável pelo humor e regulação do sono. Foto: Bigstock<br>

“Por outro lado, manter corpo aquecido favorece a circulação, facilita a eliminação da prostaglandina e relaxa o útero, melhorando a sensação da dor. Por isso algumas pessoas utilizam bolsa de água quente”, acrescenta.

SEDENTARISMO E ESTRESSE

Ao contrário do que muitos podem pensar, exercícios físicos durante e após o período menstrual são mais benéficos do que doloridos. “As mulheres que têm uma rotina de exercícios produzem mais endorfina, um antídoto natural para as cólicas”, comenta Zlotnik. “De modo geral, a endorfina também impacta no humor e na tensão pré-menstrual. Se você está mais irritada ou estressada, sua sensibilidade à dor, que é algo muito pessoal, aumenta”, pontua.

DIETA

Ingerir em excesso gorduras e até carne vermelha aumenta a produção da prostaglandina, a substância responsável por provocar contrações. “Bebidas com cafeína, em excesso nesse período, também aumentam a irritabilidade e a oscilação de humor”, alerta o docente Dziedricki. “Algumas mulheres relatam uma compulsão por doce nesses dias, pela queda dos níveis de magnésio, cálcio, ferro e serotonina. Porém, açúcar e gordura em excesso podem acabar piorando os sintomas”, acrescenta o professor. Como dica ele sugere comer pequenas quantidades de chocolate que tenham uma concentração maior de cacau.

IDADE

As dores também estão muito associadas à ovulação. Por isso a idade é um fator impactante nisso.  “Nos dois primeiros anos após a menarca, quando ainda não está bem estabelecida a ovulação, as meninas sentem menos dor e vivem o período de lua de mel. A mesma coisa com aquelas que estão mais próximas da menopausa”, diz Lubianca.

Outro fator é o início da vida sexual e chegada dos filhos. Para adolescentes, quando o útero e orifício de saída são menores, expelir o sangue é mais difícil e por isso a concentração de prostaglandina torna as contrações mais fortes.

ANTICONCEPCIONAL

Os hormônios presentes nas pílulas também ajudam a explicar porque as mulheres que não fazem uso desse contraceptivo sentem mais dor. “A progesterona é um estabilizador da musculatura lisa. Em síntese, deixa o útero mais quieto”, resume Zlotnik. “O escape menstrual é menor também, então a saída do sangue é mais fácil”, finaliza.
Para o professor Dziedricki a diminuição da prostaglandina com o uso de pílula deve ser uma decisão a ser tomada com o médico. “A recomendação é que seja feita uma avaliação prévia dos riscos e benefícios do uso das pílulas diretamente com o ginecologista”.

DOENÇAS RELACIONADAS

Identificar quando a dor está muito acentuada e frequente é questão fundamental para a saúde da mulher. “Quando a dor é muito relevante e acompanhada também de dor nas relações sexuais é um sinal de alerta”, diz Lubianca. “Pode ser sinal de doenças como endometriose, mioma, pólipos e até tumores intrauterinos”, ressalta.

“Muitas mulheres, por serem mais acostumadas com a dor, acreditam que é natural sentir cólicas muito fortes todo mês e ninguém merece conviver com dor. Não se acostume e é importante que cada mulher encontre o que lhe faz bem e traz alívio”, finaliza, Zlotnik.

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