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Fibromialgia: dores não são os únicos sintomas e nem os mais incapacitantes (Foto: Bigstock)
Fibromialgia: dores não são os únicos sintomas e nem os mais incapacitantes (Foto: Bigstock)| Foto:

Quando se fala em fibromialgia, o primeiro sintoma que ligamos à condição é a dor generalizada pelo corpo. Seja nas articulações ou na musculatura, a dor surge sem causa aparente e está bastante associada ao estado emocional do paciente.

Mas a fibromialgia, que na verdade é considerada uma síndrome, tem sintomas ainda mais complexos e nem sempre conhecidos.

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Um deles é o “nevoeiro mental” ou “nevoeiro cerebral“, hoje chamado pelos especialistas de “fibro fog“. Esse sintoma se manifesta através de uma dificuldade cognitiva para concentração e atenção, bem como problemas na memória.

Para Lynna Dutra, de 34 anos com diagnóstico de fibromialgia, foi o “nevoeiro” que fez com que ela percebesse os desafios da condição.

“A primeira experiência que tive com o ‘nevoeiro cerebral’ foi muito marcante pela confusão que causa. Parecia que meu cérebro estava oco, cheio de neblina, que atrapalhava o meu pensar, o meu falar”, conta a palestrante que vive em São Luís, no Maranhão.

Lynna teve o primeiro nevoeiro depois de dois anos e meio desde as primeiras dores da fibromialgia. E só foi depois desse tempo que ela recebeu, também, o diagnóstico da condição — uma das exigências para fechar o quadro clínico, conforme explica José Eduardo Martinez, médico reumatologista, membro da Comissão de Fibromialgia e da Dor da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).

“Para definir a fibromialgia é preciso ter os sintomas generalizados. Não existe diagnóstico sem o sintoma base, que é a dor, mas a síndrome é mais complexa e outros sintomas importantes e centrais são: cansaço fácil, fadiga, sono não restaurador e o que chamamos de distúrbios cognitivos, como esquecimento, falta de atenção e concentração”, explica o especialista, que também é professor titular da PUCSP.


De acordo com informações da própria SBR, esses sintomas não estão relacionados a alguma lesão cerebral decorrente da fibromialgia, mas pode estar associado diretamente à dor:

“Para o corpo, a dor é sempre um sintoma importante e o cérebro dedica energia lidando com esta dor. Outras tarefas, como memória e atenção, ficam prejudicadas”.

Há ainda, conforme alerta a SBR em site, sintomas de alteração intestinal e sensibilidade exagerada ao toque e à compressão feita por uma terceira pessoa.

“A síndrome do intestino irritável, por exemplo, acontece em quase 60% dos pacientes com FM e caracteriza-se por dor abdominal e alteração do ritmo intestinal para mais ou para menos. Além disso, pacientes apresentam a bexiga mais sensível, sensações de amortecimentos em mãos e pés, dores de cabeça frequentes e maior sensibilidade a estímulos ambientais, como cheiros e barulhos fortes”, alertam os especialistas.

A prevalência atual da condição é de 0,2% a 6,6% da população mundial, usualmente entre mulheres e nas áreas urbanas, conforme explica Amelia Pasqual Marques, professora do curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), e pesquisadora da fibromialgia.

Dos sintomas mais impactantes da fibromialgia, Lynna Dutra (diagnosticada há 4 anos) acredita que o nevoeiro mental seja pior que as dores (Foto: Arquivo pessoal)
Dos sintomas mais impactantes da fibromialgia, Lynna Dutra (diagnosticada há 4 anos) acredita que o nevoeiro mental seja pior que as dores (Foto: Arquivo pessoal)

Impacto maior que a dor

Entre a dor e o “nevoeiro”, Lynna, diagnosticada há quatro anos, acredita que a confusão mental seja o sintoma mais impactante na sua qualidade de vida do que o desconforto que a condição causa.

“Quando estou em crise, o impacto é aparente. A fala fica confusa e embora eu consiga projetar a ideia, no momento da verbalização eu esqueço as palavras ou não consigo pronunciá-las e tampouco escrevê-las. Por vezes são tão simples. Somado a isso, esqueço nomes de pessoas próximas. Preciso de um tempinho para lembrar. E tenho desorientação especial. Posso não reconhecer o lugar onde estou ou confundir as direções”, relata.

Para recobrar a normalidade, a palestrante tem algumas técnicas:

“[o nevoeiro mental] afeta minha produtividade, há um déficit de concentração e assimilação. É o momento em que eu me recolho, dou um tempo das atividades, da exposição coletiva, porque é muito estranho para as pessoas a minha volta. Sempre tive um vocabulário muito rico, mas nesse momento a falha é total e isso é muito frustrante”, diz Lynna, cuja solução encontrada costuma ser se afastar de todos durante o momento de crise até que a lucidez retorne. “Comemoro quando observo melhora.”

Intensidades diferentes

Ainda de acordo com Lynna, a intensidade do sintoma varia bastante e não há uma causa/efeito muito clara. “Muda gradativamente de intensidade. Sobre o surgimento desses episódios, é muito imprevisível. Posso estar bem hoje e acordar amanhã confusa”, explica a palestrante.

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De acordo com a pesquisadora Amelia Marques, a intensidade da “fibro fog” está bastante associada ao nível de estresse, ansiedade e depressão que a pessoa estiver naquele momento. “[o sintoma também está associado a uma] má qualidade do sono e à dor espalhada pelo corpo”, diz. A intensidade e percepção do nevoeiro também mudam conforme o paciente, segundo o médico reumatologista José Eduardo Martinez.

“Varia muito de paciente para paciente. Hoje, se você entrevistar um número grande de pessoas que sofrem com a fibromialgia, verá que não são todos iguais. Há um subgrupo desses pacientes, que têm também mais casos de depressão e ansiedade, entre eles há mais esse tipo de sintoma”, sugere o especialista.

Soluções?

Dos tratamentos disponíveis hoje para os sintomas da fibromialgia, além dos medicamentosos e da área de psicologia (como a terapia cognitivo comportamental), os exercícios físicos são cada vez mais exaltados.

“Exercício físico é fundamental, e não só para a dor, mas também para esses sintomas [nevoeiro cerebral]”, diz José Eduardo Martinez, médico reumatologista.

A prevalência da fibromialgia é maior entre as mulheres, em uma proporção de cerca de quatro mulheres para cada homem com o diagnóstico. Da faixa de idade que exige maior atenção, estão o grupo dos 20 aos 50 anos. “Mas a fibromialgia pode acontecer em qualquer idade, mesmo na infância ou no idoso”, completa o especialista.

“Não temos todo o conhecimento sobre o que acontece com a fibromialgia, mas o que parece estar por trás da condição é uma situação de estresse psicológico crônico. São pacientes com predisposição ao estresse ou com muitos fatores que geram estresse, que acionam esse mecanismo de defesa do organismo além da capacidade”, reforça Martinez.

Amelia Marques, pesquisadora da síndrome, completa a lista de tratamentos ressaltando a importância da educação da vítima. “O paciente deve ser informado sobre o que é a fibromialgia e como deve se cuidar para minimizar os sintomas. Com a orientação de um fisioterapeuta, realizar exercícios de fortalecimento, alongamento, aeróbios. Caso não tenha resultados totalmente eficientes, procurar ajuda de um psicólogo para dar suporte e um reumatologista para introduzir medicação”, explica.

Fique atento

Se tiver os seguintes sintomas, procure por um médico especialista:

  • Dor generalizada pelo corpo.

  • Alterações intestinais.

  • Memória de curto prazo prejudicada.

  • Dificuldade de concentração e atenção.

  • Falta de entusiasmo.

  • Maior sensibilidade ao toque.

  • Dificuldade de sono, ou sono não reparador.

  • Fadiga, cansaço. 

  • Depressão e ansiedade.

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