Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Filhos únicos têm maior risco de obesidade que famílias com irmãos, diz estudo

Amanda Milléo
22/11/2019 08:00
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Estudo norte-americano indica que crianças que são filhos únicos têm maior risco de obesidade que em famílias maiores Foto: Bigstock.

Quando os filhos são únicos, há uma maior tendência de que tenham sobrepeso ou obesidade, em comparação a crianças com irmãos.
O achado foi verificado em um estudo de pesquisadores norte-americanos, publicado na edição de novembro/dezembro da revista científica Journal of Nutrition Education and Behavior.
Para analisar o hábito alimentar das crianças, os pesquisadores dividiram um grupo de 68 mães entre aquelas com mais de um filho (41) e as com filhos únicos (27). Durante três dias, dois durante a semana e um ao fim de semana, as mães mantiveram um diário alimentar, que também foi preenchido pelos professores das crianças.

Desta forma, foi possível ter um controle maior sobre quais eram as refeições dos participantes mirins tanto em casa quanto na escola. As mães também preencheram um questionário que avaliava os comportamentos alimentares típicos da família, como quais eram os alimentos mais comuns em casa e as bebidas de escolha dos membros.

O impacto das escolhas alimentares dos pais não foi medido nesse estudo, que avaliou apenas a relação da mãe com o filho e as refeições.

Filhos únicos obesos

Nos resultados, os pesquisadores perceberam que as famílias com múltiplos filhos tomavam decisões mais saudáveis com relação à alimentação, em comparação àquelas com apenas uma criança.
Para a nutricionista especialista em alimentação materno-infantil Claudia Choma Bettega Almeida, a realidade que o estudo reflete é a norte-americana, e não há como usar os mesmos resultados para o Brasil sem uma pesquisa aqui.
Ainda assim, alguns fatores podem ser destacados que tentam explicar essas diferenças entre famílias grandes e as menores, como a questão econômica.

“Dependendo da classe socioeconômica da família, se a renda familiar é menor, eles precisarão dividir em mais pessoas os alimentos da casa. Em famílias financeiramente mais favorecidas, a divisão não ocorre da mesma forma. Quando eu tenho um filho único, tenho condições de sair, ir a um restaurante ou fast food. Quando há mais filhos, é preciso pensar em todos e nem sempre o dinheiro dá para todo mundo”, aponta a também professora do curso de Nutrição e da pós-graduação em Alimentação e Nutrição da Universidade Federal do Paraná (UFPR). 

Por outro lado, conforme lembra a nutricionista, a discussão sobre uma alimentação saudável é recente e as mães estão cada vez mais conscientes da importância de alimentos mais in natura e menos industrializados.
“Hoje percebemos em festas infantis as opções saudáveis. Existe uma preocupação maior dos pais hoje, que é bem diferente de alguns anos atrás, quando as festas das crianças só tinham as comidas tradicionais, com muita fritura e doces”, explica Almeida.

Influência (nem sempre positiva) dos irmãos

Ter irmãos, especialmente os mais velhos e que são adeptos de frutas e verduras, pode ser uma influência muito positiva na alimentação dos filhos mais novos. Mas essa nem sempre é a realidade.

“A criança, em casa, está sob o controle dos pais, e pode manter uma alimentação saudável. Mas quando ela sai, entra em contato com outra realidade, com outras crianças que não comem igual a ela. Aí esse filho é apresentado a outros alimentos. Quando essa criança é um irmão mais velho, você perde o controle do mais novo, porque a criança sofre influência não só dos pais, mas dos irmãos também”, explica Claudia Almeida.

Tal mãe, tal filho

Outro destaque percebido pelo estudo foi que as mães de crianças obesas também eram mais propensas à obesidade. Ainda, o Índice de Massa Corporal (IMC) das mães tinham uma relação direta com o IMC dos filhos.
Conforme lembra a nutricionista Claudia Almeida, a conexão faz sentido, visto que a mãe é, geralmente, a pessoa responsável pela escolha alimentar do filho desde a gestação, passando pela alimentação e na introdução dos alimentos complementares, a partir dos seis meses.

“Nas famílias cuja mãe é a responsável pelo cuidado alimentar da criança, ela seguirá o modelo e o padrão alimentar dela. Muitas vezes, ela escolhe os alimentos de preferência dela, e não oferece à criança os alimentos que ela, a mãe, não gosta, mesmo sabendo da importância deles. Isso vai moldando os hábitos das crianças”, explica. 

Se a criança tem um início de introdução alimentar com restrições, a diversidade e variedade alimentar são comprometidas no futuro.
“Por isso temos um perfil de crianças que se tornam adolescentes e adultos que só comem alguns alimentos, que não gostam de frutas, nem salada, porque não aprenderam a comê-los desde o início. Depois é muito mais difícil mudar o hábito”, reforça a nutricionista.
A especialista exemplifica com uma criança de cinco anos, com sintomas de obesidade, que chegou ao seu consultório. “Ela passou cinco anos tomando refrigerante, não comendo fruta, nenhuma verdura. Para ela é muito mais difícil entender que precisa comer esses outros alimentos, do que se tentarmos introduzir esses alimentos em uma criança menor, que esteja aprendendo a falar, a engatinhar e a comer. Essa é a janela de oportunidade.”
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