Saúde e Bem-Estar

Quando eles querem “voar”

Érika Busani
31/12/2006 03:32
erikab@gazetadopovo.com.br
Ricardo passava o dia na casa da avó materna quando disse que ia dar “uma saidinha” e já voltava. Foi ao shopping a pé e sozinho e voltou horas depois, quando mãe e avó já estavam bastante preocupadas. Tempos depois, deu uma escapada e foi sozinho ao barbeiro, do qual voltou com um corte moicano nos cabelos. Tudo aconteceu no ano passado, quando o menino tinha 11 anos e tentava dar seus primeiros gritos de independência.
“Ele tá se achando”, brinca a mãe, a empresária Elaigne Ferreira Atem, 46 anos. A família, inclusive, acabou de mudar-se de Colombo, onde morava em uma chácara, para Curitiba, porque o menino não queria mais “ficar no mato”. Apesar de fazer alguns de seus gostos, Elaigne segura muitas das vontades de Ricardo. “Nessa idade, eles ainda não têm maturidade. E controlo também porque hoje não é igual a antigamente, é tudo mais perigoso.”
A opinião da mãe é compartilhada pela psicóloga e mestre em Educação Janaina Cardoso Caobianco. “Existe uma questão superimportante que é a da segurança. O problema do adolescente sair não está só no que ele pode fazer, mas no que podem fazer com ele”, lembra.
Além disso, os pré-adolescentes não têm mesmo maturidade suficiente para tomar certas decisões por conta própria. “Eles começam a achar que podem decidir e resolver tudo sozinhos, e é exatamente aí que os pais devem estabelecer os limites. A tarefa dos pais nesse início da adolescência é bastante delicada, pois devem preparar os filhos para essa caminhada com muita coerência, muito equilíbrio. É ‘dar pernas’ a eles e ensiná-los a usá-las, para que comecem a desenvolver a autonomia. Ao mesmo tempo têm de ficar atentos observando que caminhos eles estão tomando”, orienta a psicóloga Cláudia Santos.
E o desejo de independência fica ainda mais forte na época das férias, quando parece que todas as regras podem ser quebradas. “Na praia existe todo um ambiente propício para as saídas dos pré-adolescentes, as pessoas dormem mais tarde, há vários adolescentes nas ruas, eles se encontram, formam as suas tribos. Isto não significa que os pais devem relaxar. É preciso monitorar com quem está o filho, onde está”, diz Janaina.
Elaigne vem tentando cumprir seu papel com Ricardo. O moicano, por imposição da mãe, virou uma cabeça raspada. Recuperados os cabelos – que agora deixa crescer – o menino continua tentando dar suas escapadas. E a mãe, liberando o que acha adequado e proibindo o que não acha. Cada um no seu papel.
Serviço: Cláudia Santos, psicóloga clínica infantil, adolescentes e adultos, especialista em Psicologia do Corpo, fones 3233-3192 e 8813-9476 / Janaina Cardoso Caobianco, psicóloga e mestre em Educação, fone (41) 9951-5131.