Saúde e Bem-Estar

Talentos brilhantes, pais atentos

Larissa Jedyn, e-mail larissa@gazetadopovo.com.br
03/06/2007 20:14
Ter um pequeno prodígio dentro de casa pode ser um bilhete de loteria premiado, um grande orgulho ou uma sinal de dor de cabeça. Tudo vai depender da forma que você – pai ou mãe – lida com o seu filho, que por alguma obra do destino ganhou cedo uma profissão. Essas “promessas-mirins” surgem normalmente nos meios artístico e esportivo, o que exige deles uma disciplina fora de época, quando a cabeça deveria estar voltada para brincadeiras e estudos.
Mas, uma vez constatada a tendência do seu filho para alguma atividade profissional, é necessária, segundo a psicóloga clínica e comportamental Ana Paola Lopes Lubi, uma avaliação séria sobre se o desejo de virar uma bailarina ou um jogador de futebol é da criança ou dos pais, que muitas vezes transferem para o filho o desejo de realizar algo que não tiveram oportunidade. “É preciso verificar se a criança tem realmente talento – e aí os pais podem dar condições para que isso se desenvolva – ou se são os pais que estão projetando o desejo ou a responsabilidade do sustento nele. Isso pode levar a criança ou o adolescente a um estresse elevado”, diz.
Segundo a também psicóloga Janaina Fernandes Cardoso Caobianco, esse estresse pode se manifestar na falta de vontade pelas coisas da vida, dificuldades de concentração na atividade profissional e até agressividade. “Muitas vezes os pais estão tão envolvidos com a situação que acabam não percebendo esses sinais. Ocorre, diversas vezes, de uma criança assumir com o seu trabalho a responsabilidade financeira da família, o que não é sua função, mesmo no caso de núcleos carentes”, comenta.
Tanto cuidado não significa, de acordo com Janaina, que o engajamento de crianças e adolescentes em uma atividade profissionalizante seja sempre ruim. “Muitas vezes, participar de um grupo e ensaiar horas a fio pode ser positivo. Se isso for lúdico, der prazer, cumpre o seu papel. Se não, a criança ou o adolescente vai naturalmente se afastando do grupo”, comenta.
O importante é lembrar que o “famoso” em questão é uma pessoa em formação e não tem idade e maturidade suficientes para enfrentar e decidir sozinho a nova vida. E é aí que se faz decisivo o papel dos pais. “Esse filho vai precisar de companhia, de ajuda para lidar com o mundo adulto. E são os pais que precisam de equilíbrio para, além de acompanhar, trabalhar nessa criança ou adolescente o senso de realidade e formá-lo para a vida”, destaca Ana Paola.
A trajetória do ator Pedro Inoue, 15, ilustra isso. Sua ida para o teatro foi natural, acompanhando das coxias os ensaios da mãe, atriz Nena, e do pai, o também ator Hélio Barbosa, até receber um “convite” para fazer uma pontinha numa peça aos 5 anos. Daí veio outra de Felipe Hirsch, algumas dicas de interpretação com a mãe e eis formada uma carreira de 10 anos. “Meus pais são meus melhores mestres. Me ajudam no trabalho, mas também conversam comigo para sentir se esse é mesmo o meu caminho”, diz Pedro, revelando que lida muito bem com o seu dinheiro – parte dele vai para ajudar nos gastos com alimentação e transporte e o restante fica para suas compras. Segundo ele, agora os planos são aliar a arte dramática à dança.
Serviço:
Ana Paola Lopes Lubi, psicóloga clínica comportamental, mestre em psicologia infantil e da adolescência e professora da Unicenp, fone (41) 3335-8360.
Janaina Fernandes Cardoso Caobianco, psicóloga e professora da Unicenp, fone (41) 9951-5131.