Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Terceira idade não é sinônimo de farmácia, defendem geriatras

Amanda Milléo
15/08/2018 17:30
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(Foto: Bigstock)

Idosos tendem a tomar mais remédios que um adulto comum. São os comprimidos para a pressão arterial, o controle do colesterol e os polivitamínicos que, comprovadamente ou não, visam melhorar a qualidade de vida. Quando se dão conta, os idosos se tornam as principais vítimas da polifarmácia, consumindo cinco ou mais remédios todos os dias – e os geriatras não aturam mais esse cenário.
“Nos idosos mais frágeis, qualquer medicamento administrado sem o real benefício pode interferir de maneira negativa com os demais. É preciso ter bastante certeza de que o medicamento que vamos prescrever tem o potencial de trazer benefícios. Do contrário, é apenas mais um custo que impacta na saúde e nas finanças daquela família”, explica Rodolfo Pedrão, médico geriatra do hospital VITA e do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC/UFPR).
No início de 2018, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) em parceria com o movimento Choosing Wisely Brasil, que procura uma revisão nas práticas médicas de forma a racionalizar as prescrições e empoderar o paciente, desenvolveu uma lista com 10 novas recomendações aos médicos geriatras. Das 10, pelo menos seis sugerem novos olhares nas prescrições de medicamentos.
Confira o que propõe as principais recomendações e como isso pode ajudar na manutenção da saúde do paciente idoso:

Não prescrever um novo medicamento sem antes realizar revisão dos medicamentos em uso

Embora a prática seja velha conhecida dos médicos geriatras, o alerta é sempre válido. Revisar todos os medicamentos que o paciente faz uso é de fundamental importância para evitar possíveis interferências entre eles.
“Um pode interferir na absorção do outro no trato intestinal, ou às vezes no nível de metabolização, pode interferir com as enzimas do fígado. Isso leva um medicamento a ser metabolizado mais rápido ou mais lentamente do que o esperado, demorando mais tempo para agir”, explica Rodolfo Pedrão, médico geriatra.

Não prescrever polivitamínicos, reposição vitamínica ou hormonal em idosos assintomáticos

Se o idoso não tiver qualquer deficiência de vitamina ou hormonal, o consumo desse tipo de comprimido, cápsula ou pílula não é recomendada pelos médicos. Além das interferências na absorção e metabolização de outros remédios, alguns hormônios têm efeito no controle glicêmico, na sensação de sono e até no apetite.
“Sabemos que muitos pacientes têm dificuldades em seguir as recomendações, não tomam os remédios nos horários adequados ou escapam um dia. Se conseguirmos um tratamento mais simplificado, aumentará a aderência ao tratamento. Além da segurança e real eficácia do tratamento, assegurar uma aceitação e aderência são os principais motivos para racionalizar as prescrições. A premissa da moda é que menos é mais, mesmo na geriatria” – Rodolfo Pedrão, médico geriatra. 

Não prescrever bloqueadores da bomba de prótons de forma contínua para idosos

Os bloqueadores da bomba de prótons são aqueles medicamentos conhecidos entre quem sofre com os sintomas de azia, como a clássica sensação de queimação, ou mesmo quem faz uso de muitos medicamentos. São os chamados pantoprazol e omeprazol.
Por formarem uma camada de proteção no estômago, esses medicamentos atrapalham a absorção de vitaminas advindas da alimentação e interferem na metabolização do cálcio. O uso deve ser visto caso a caso.

Não utilizar benzodiazepínicos ou anti-histamínicos para tratar insônia em idosos

Idosos podem ter até mais dificuldade para pegar no sono e isso é próprio com o avanço da idade. Instigar o sono com medicamentos benzodiazepínicos ou anti-histamínicos, no entanto, não é uma medida recomendada.
Além de não proporcionarem um sono de qualidade, esses medicamentos aumentam o risco de perda de memória e queda, que pode levar à morte. O risco de queda aumenta na manhã seguinte, por ter o efeito residual do remédio.

Não prescrever inibidores da acetilcolinesterase para tratar demência

Os inibidores são medicamentos indicados a doença de Alzheimer em fase inicial e moderada, mas os seus efeitos têm sido questionados pelos médicos. “Se não trouxer benefícios, por que indica-los?, questionam os médicos geriatras. Podem ser usados com uma avaliação rigorosa de cada caso.

Câncer sob a mira

Uma das recomendações da SBGG com o movimento Choosing Wisely chama atenção. Médicos geriatras não recomendam o rastreio para o câncer de próstata, mama ou colorretal em pessoas com uma expectativa de vida menor que 10 anos.
Isso se deve ao fato de que essas neoplasias têm um tempo de evolução longo entre os idosos, e as chances que a causa da morte venham de outras morbidades é maior. Em idosos com a saúde mais frágil, o tratamento podem não ter o mesmo efeito nem tolerado. “Não tem sentido procurar por essas doenças se não vamos mexer nelas e nem, se eventualmente mexermos, não trouxer o benefício para o paciente”, reforça o médico geriatra.

Exercícios físicos 

Embora medicamentos e tratamentos façam parte da rotina médica dos geriatras, há uma recomendação que deveria ser incluída na lista da entidade: a prescrição de exercícios físicos do tipo resistido, como a musculação. “Outros exercícios, mais leves, podem não trazer os mesmos benefícios que os resistidos. É um tipo de exercício que tem a capacidade de reduzir o risco de quedas e até ajuda no tratamento da depressão. Maioria dos pacientes podem fazer, sem cardíacos ou cadeirantes”, recomenda Rodolfo Pedrão, médico geriatra.
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