Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Gisele Bündchen conta como superou crises de pânico em livro autobiográfico

Amanda Milléo
28/09/2018 11:31
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A modelo brasileira Gisele Bündchen lançará, em outubro, um livro onde relata como superou crises de pânico sem medicação (Foto: Ueslei Marcelino / Reuters/ Arquivo Gazeta do Povo) | REUTERS

Nem a fama e o dinheiro podem afastar as pessoas dos males do século, como ansiedade e depressão. Em livro que será lançado no dia 15 de outubro no Brasil, a modelo brasileira Gisele Bündchen relata como sofreu com ataques de pânico, que a fizeram considerar inclusive o suicídio, e levaram a uma mudança nos hábitos de vida.
Em entrevista à revista norte-americana People, antes do lançamento do livro “Aprendizados: Minha caminhada para uma vida com mais significado“, a modelo revela que o estilo de vida não era o ideal — ela fumava um maço de cigarros todos os dias, tomava uma garrafa de vinho toda noite e trabalhava sete dias na semana, com medo de dizer “não” a qualquer trabalho.
O estresse levou aos ataques de pânico frequentes, gerando a síndrome do pânico. “Eu abri mão de tudo em um dia. Foi algo como ‘é isto’. Eu queria viver. Eu escolhi a vida. Eu escolhi sorrir de novo, ser livre de novo”, diz a modelo na entrevista.
Bünchen optou por não incluir medicamentos no tratamento dos ataques e preferiu uma mudança radical nos hábitos de vida.
Começou a praticar yoga e meditação no combate ao estresse, abandonou o açúcar completamente — “Nas primeiras duas semanas, eu tive as piores dores de cabeça que eu já tinha tido em toda minha vida. Foi um choque enorme para o meu corpo, mas foi uma limpeza de três meses” — e substituiu o cigarro pela corrida.

Ataques de pânico: o que fazer?

Decorrente principalmente do estresse, além de fatores ambientais e predisposição, os ataques de pânico podem assustar os pacientes, especialmente nas primeiras vezes. Mas, conforme explica o médico psiquiatra Osmar Ratzke, não são condições tão problemáticas em termos médicos — embora indiquem que o paciente precisa realmente de uma mudança na vida.
“O estresse é um grande desencadeador do pânico, assim como o consumo exagerado de cafeína. Se você vive em um mundo muito competitivo, cheio de metas a serem cumpridas, isso tudo gera um estresse. Há, portanto, fatores biológicos e psicológicos para desencadear o pânico e embora pareça que está aumentando [cada vez mais casos], o que pode ser é que há maior diagnóstico hoje”, explica Ratzke, que também é professor aposentado da UFPR e presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria.
Os ataques de pânico, isolados, tendem a ser limitados e duram pouco tempo, em torno de 30 minutos no máximo. Quando há uma sequência desses ataques, gera o chamado transtorno ou síndrome do pânico, que demanda um pouco mais de atenção.
“A síndrome muitas vezes desenvolve uma série de transtornos paralelos, como a agorafobia, ou o medo de sair de casa, que alteram a normalidade das atividades diárias do paciente. Ela chega em um congestionamento de trânsito e entra em pânico porque não tem como avançar com o carro, sente-se presa, evita ir a lugares com muita gente, como shoppings e baladas”, exemplifica o especialista.

Sinais de um ataque de pânico

Confira abaixo os sinais clássicos de um ataque de pânico, e veja o que pode ser feito pela pessoa ou por quem estiver próximo a ela no momento, de acordo com informações de Osmar Ratzke, médico psiquiatra:

Taquicardia ou aceleração dos batimentos cardíacos;

Falta de ar e respiração rápida ou ofegante;

Medo de morrer ou de ficar louco;

Sensação de desespero;

Tremor;

Sudorese nas mãos;

Dores na barriga e sintomas gastrintestinais, como diarreia.

“A pessoa pode tentar relaxar, tentar uma meditação, caso não tenha acesso a nenhum médico ou medicação no momento. Mas é fácil falar em ‘relaxe’, difícil é fazer, porque a sensação de pânico não sai da cabeça. É bem complicado para a pessoa tentar se concentrar em outra coisa, mas pode tentar”, explica o especialista.
Quem estiver próximo da pessoa, pode acalma-la lembrando que o ataque dura pouco tempo e logo acaba. “Se não for a primeira crise do paciente, é importante reforçar a ele que já conhece aquela sensação, que sabe que dura pouco, que vai passar rápido e, depois, encaminhar para um psiquiatra, que é quem melhor atende o pânico nesta fase inicial”, reforça.
Se puder encaminhar ao serviço de Pronto Atendimento de algum hospital, melhor, embora a condição ainda seja vista com preconceito em boa parte dos casos.

“A frase mais errada que eu já ouvi é ‘você não tem nada’. A pessoa tem sim alguma coisa. Ela pode não ter um problema cardíaco, mas tem um problema psiquiátrico e pode ser ajudada.”

Tratamentos sem medicação?

A curto prazo, o tratamento mais comum, de acordo com o médico psiquiatra Osmar Ratzke, é o uso de algum medicamento tranquilizante, que previna a ocorrência das crises. Neste casos, são usados medicamentos benzodiazepínicos, que tem o uso descontinuado depois de um período determinado pelo médico.
Depois, como tratamento a longo prazo, médicos psiquiatras escolhem antidepressivos associados a psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, que apresenta resultados importantes para a síndrome do pânico.
Há ainda, porém, uma terceira via, que foi a escolhida pela modelo Gisele Bündchen: nenhuma medicação e mudança importante nos hábitos de vida:
“O pânico pode ser tratado sem medicação, mas tem o risco do paciente repetir as crises. Dentro da psiquiatria, os ataques de pânico não são considerados muito graves, principalmente em comparação a outras condições, como uma psicose, por exemplo, ou um transtorno bipolar e esquizofrenia. Esses, realmente, precisam ser tratados efetivamente com uma medicação”, diz.

Como saber que é um ataque de pânico?

No momento de um ataque de pânico, a pessoa pode até pensar que está ficando louca, e confundir os sinais com outras condições, mais impactantes. Alguns sinais, porém, ajudam a diferenciar as doenças:
Transtornos bipolares, esquizofrenia são quadros muito mais graves que uma crise de pânico e envolvem sintomas psicóticos, onde a pessoa perde realmente o controle de si mesmo. Há também alucinações e delírios — sinais que não acometem quem está passando por uma crise de pânico.
“Nas psicoses, há um comprometimento na capacidade de julgamento da pessoa. Ela perde a autocrítica. São doenças completamente diferentes”, explica Ratzke.

“A pessoa não só pode ter ansiedade e crises de pânico, como em geral é o que vemos. É comum pessoas que tenham uma ansiedade crônica, às vezes desde a infância, e que desenvolvem a síndrome do pânico. E quando passam as crises, sobra a ansiedade”, reforça o especialista. 

Livro da Gisele Bündchen

O lançamento brasileiro do livro “Aprendizados: Minha caminhada para uma vida com mais significado” será dia 15 de outubro, mas a pré-venda nas livrarias já começou. Publicado no país pela editora Record, a renda será revertida ao projeto Água Limpa, ONG brasileira que visa a proteção das fontes de água naturais e a sustentabilidade.
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