Com o avanço do sarampo pelo Brasil em 2018, o Ministério da Saúde promoveu uma campanha de vacinação nacional em meados de junho do ano passado.
Embora a maioria dos casos da doença se concentrasse na Região Norte na época, Camila Maristela Krenk, técnica de enfermagem de 25 anos, também foi vacinada no sul por causa do trabalho — profissionais da saúde devem manter a carteirinha de vacinação sempre atualizada.
Na semana seguinte, durante uma consulta médica de rotina, Camila por acaso acabou fazendo o exame que verifica a possibilidade de gravidez, o Beta HCG.
“Eu vi que no meio da guia [do plano de saúde] estava a solicitação do BetaHCG, mas não pensei muito e acabei fazendo o exame também. Quando fui pegar o resultado, quase caí dura. Foi uma surpresa boa e na hora eu nem lembrei da vacina”, conta a técnica em enfermagem.
Risco para gestantes
A vacina tríplice viral, que protege contra o sarampo, a rubéola e a caxumba, é feita a partir do vírus vivo atenuado, e não morto.
Por essa razão, ela é contraindicada a pessoas que por algum motivo tenham um comprometimento do sistema imunológico.
Entram nessa faixa de risco os idosos, crianças abaixo dos seis meses, pessoas em tratamento oncológico ou imunodeprimidas e as gestantes.
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Durante o período de gestação, a mulher entra em um estado imunológico especial. Como o bebê carrega o material genético da mãe e também do pai (que é estranho ao corpo da mãe), o sistema imunológico da mulher precisa, propositalmente, “baixar a guarda”.
Assim, os antígenos do pai são tolerados e a criança se desenvolve sem problemas.
Por outro lado, os agentes de defesa da mulher grávida não estão totalmente capacitados e, no surgimento de uma doença, os riscos de complicações aumentam. No caso da vacina com vírus atenuado, aumenta-se também o risco de desenvolvimento da doença.
Esse risco, como lembra o médico ginecologista Francisco Furtado Filho, é apenas teórico, visto que nenhum estudo científico demonstrou essa ameaça.
“Nenhuma malformação da rubéola congênita foi observada em mulheres vacinadas logo antes da gravidez ou inadvertidamente vacinadas na gestação. Similarmente, não há efeito adverso atribuído à vacina contra o sarampo após a vacinação na gestação”, explica o médico, que também é especialista em reprodução humana e diretor da clínica Fertway.
Ainda assim, a recomendação é de evitar a vacina durante e previamente à gravidez apenas por precaução.
“Recomenda-se evitar a gravidez durante um a três meses após a vacinação e durante a gestação, apenas por precaução, para evitar um possível fator de confusão entre a vacinação e possíveis complicações, incluindo aborto espontâneo e malformação congênita do recém-nascido”, reforça o médico.
“O risco da rubéola congênita acontecer é raro. O risco mesmo é desenvolver o sarampo. Por ser um vírus atenuado, o risco é grande. Todas as vacinas de vírus vivo e atenuado são proibidas para gestantes”, explica Marta Fragoso, médica infectologista do hospital VITA, em Curitiba.
Há, no entanto, vacinas que são indicadas mesmo para gestantes, como a da gripe (confira a lista completa aqui).
Já as crianças devem receber a vacina chamada de “dose zero” da vacina contra o sarampo com seis meses, conforme nova orientação do Ministério da Saúde. Essa dose não exclui a primeira dose aos 12 meses e nem a segunda dose, aos 15 meses, que devem ser aplicadas normalmente.
Risco de aborto espontâneo
Quando se lembrou da vacina, Camila diz ter se desesperado e marcou o pré-natal para a mesma semana. “Eu poderia ter um aborto ou uma ameaça de aborto, ou o bebê nascer com alguma deficiência auditiva”, lembra a técnica.
Duas semanas após receber a notícia da gravidez veio a primeira ameaça de aborto. “Eu levantei para ir trabalhar e tive um sangramento. Fui para a maternidade e viram que havia um pouco de descolamento da placenta. Pediram repouso. Fiquei uns dias em casa, tomando remédio e, com nove semanas, a segunda ameaça de aborto. Depois passei por hipertensão e diabete gestacional. Com isso, ela nasceu antes, de 35 semanas”, diz Camila.
Gabriela nasceu bem, com um pouco de antecedência, mas sem problema aparente. Embora o teste da orelhinha tenha dado alterado, Camila conta que pediram para que ela voltasse aos seis meses e depois com 12 meses para refazer o exame no consultório do otorrinolaringologista.
“Ela faz consultas mensais com o pediatra e até agora não apareceu nada. Não posso dizer que curti 100% da gravidez, porque sempre ficou aquela pulga de preocupação, de não saber como iria ser. Nos exames de ultrassom ela ficava com a mão no rosto, a danada! Mas depois que ela nasceu, ficou tudo bem”, conta a mãe.
Gabriela tem hoje quase sete meses e já foi vacinada com a tríplice viral.
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