Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Grilos e outros insetos têm poder antioxidante maior que suco de laranja

Amanda Milléo
24/07/2019 08:00
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Insetos comestíveis são muito mais que fontes de proteínas para a alimentação humana, segundo novo estudo divulgado (Foto: Bigstock)

Em algum momento você deve ter ouvido alguém se referir aos insetos como alimentos fonte de proteínas. E se eles forem mais do que isso?
Pesquisadores italianos avaliaram o poder antioxidante de grilos, escorpiões, aranhas, baratas d’água, bichos da seda, entre outras dezenas de insetos e aracnídeos, e perceberam o potencial escondido por trás das antenas e das seis (ou oito) pernas.
“O conteúdo nutricional [dos animais], consequente de uma alimentação baseada em plantas, associado com as propriedades ecológicas indiscutíveis, fazem com que os insetos tenham um papel enquanto alimentos funcionais e sustentáveis”, avaliam os pesquisadores no estudo divulgado pela revista científica Frontiers in Nutrition, publicado no início de julho.

Grilos, bichos da seda e gafanhotos tiveram os mais significativos valores de capacidade antioxidante — valor cinco vezes maior que um suco de laranja, de acordo com dados divulgados pelos pesquisadores. 

Lagartas africanas, larvas da farinha, mini grilos e formigas pretas, embora também apresentassem um potencial antioxidante, possuem uma quantidade pouco superior ao suco de laranja, enquanto que a tarântula zebra da Tailândia, escorpiões pretos, baratas d’água gigantes e as cigarras gigantes tiveram valores mais baixos para o mesmo parâmetro. Na dúvida, evite os escorpiões e as tarântulas, se o objetivo for comer alimentos ricos em antioxidantes.

Potencial antioxidante: o que significa?

Para chegar a esses dados, os pesquisadores da Faculdade de Biociências e Tecnologias para a Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente, da Universidade de Teramo (Itália) separaram os animais entre os herbívoros e os carnívoros, e entre os lipossolúveis e os hidrossolúveis.
Entre aqueles solúveis em gordura, os insetos foram comparados ao potencial antioxidante do azeite de oliva. Destaque foi dado ao bicho da seda e à cigarra, que apresentaram os melhores valores antioxidantes em comparação ao azeite — duas vezes maior. Com relação aos hidrossolúveis, os insetos foram comparados ao suco de laranja.

A capacidade antioxidante de um alimento se refere ao potencial de inibir ou mesmo atrasar a oxidação celular. Ou seja, quando nos alimentamos de fontes antioxidantes, favorecemos a proteção das células do corpo contra a ação dos radicais livres, que levam ao envelhecimento precoce, bem como ao surgimento de doenças cardiovasculares e diabete. 

Enquanto avaliavam, os pesquisadores perceberam um padrão. Nos insetos e invertebrados com uma dieta vegetariana, a capacidade antioxidante é maior. E, nos animais com uma dieta carnívora, como as tarântulas e os escorpiões, a mesma capacidade não foi vista.

Além das proteínas

O valor da pesquisa apresentada pelos italianos está na novidade, segundo Juracy Caldeira Lins Junior, engenheiro agrônomo e pesquisador da área. “Todas as pesquisas voltadas à avaliação nutricional dos insetos são relacionadas a quantidade de proteínas, sais minerais e ácidos graxos essenciais, os ômegas. O que ninguém tinha feito é sobre o potencial de substâncias antioxidantes presentes nesses insetos, e essa foi a grande contribuição para a área de pesquisa”, diz.
A avaliação de Lins é também compartilhada pela nutricionista Alessandra Stefani, responsável pelo setor de Nutrição do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, de Curitiba. “O forte [dos estudos] é a proteína: na cigarra, 100g representam 71g de proteína. Na carne bovina, 100g equivalem a 30,4g de proteína. É o dobro! No geral, 100g de formiga equivalem a 356 calorias, o que é uma quantidade calórica. Mas é preciso lembrar que 100g de formiga é uma quantidade significativa, e uma pessoa não consegue comer tudo isso.”

Futuro da dieta é cheio de insetos

Para quem tem nojo de comer inseto, é melhor parar agora. No futuro, esses animais estarão presentes, seja em forma in natura como hoje são consumidos em alguns países da Ásia, ou misturados a farinhas e em outros preparos.

“O caminho é para isso [inclui-los na alimentação], porque os insetos fazem parte da dieta de dois bilhões de pessoas. E a ONU tem incentivado cada vez mais que os países introduzam os insetos nas dietas, porque a carne como comemos hoje vai ser cada vez mais escassa. No futuro não comeremos carne [vermelha] em grandes quantidades, e quem mais vai sofrer serão as populações mais pobres”, explica Juracy Caldeira Lins Junior, engenheiro agrônomo pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. 

Se a justificativa de abastecimento global não convencer, lembre-se que o sabor dos insetos varia conforme a receita e muitos são como os “chuchus” do mundo animal: sem sabor significativo.
“Gafanhoto ou tenébrio não tem sabor marcante algum, e pode ser misturado. Depende também do que você dá de alimento para o inseto. Eu crio um inseto que se alimenta de farelo de trigo. E quando eu o abato, ele tem um pouco de trigo ainda no intestino, o que dá um sabor leve de pão. Todo mundo que comeu disse que tinha gosto de pão”, relata Lins Junior, que atua com controle biológico, manejo integrado de pragas e produção de insetos comestíveis.

O pesquisador já diz ter experimentado baratas, gafanhotos, grilos, lagartas e besouros. “Comi uns cinco. Não gostei da barata. Ela tem um gosto, que não é bom. A barata produzida para comer não é a mesma de casa, que não pode ser comida. Mas todas têm um cheiro desagradável. Mosca, por outro lado, é mais interessante, e não é muito crocante”, relata.

Não é o inseto do quintal

Aos interessados, vale o alerta: não comam os insetos que encontram no quintal, eles não são comestíveis. “Viu um grilo na árvore e vai preparar? Não é assim. Esses são estudos que pensam em animais que sejam criados em cativeiro. Aqui no Brasil não há nada aprovado do tipo pela Anvisa ou pela Vigilância Sanitária”, explica Alessandra Stefani, nutricionista responsável pelo setor de Nutrição do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie.
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