Saúde e Bem-Estar

Courtney Rubin, New York Times

Os hábitos de alimentação que reduzem as espinhas sem precisar de medicamento

Courtney Rubin, New York Times
11/09/2018 17:00
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O cuidado com a pele, a categoria de beleza mais afetada pelas tendências de bem-estar, agora está concentrada no intestino. Foto: Bigstock

Três anos atrás, Danielle Fleming, uma corretora de imóveis de 43 anos de Hoboken, Nova Jersey, começou a ter um problema persistente de acne na área do queixo. “Eram umas espinhas esquisitas, medonhas”, descreve. Depois de mudar o sabonete, o spray para cabelo e tudo o que podia imaginar, foi ao dermatologista para pedir uma receita de creme tipo Accutane ou, quem sabe, um tratamento a laser – mas saiu do consultório com uma dieta.
Fleming levou dois anos para seguir o regime sugerido pela Dra. Whitney Bowe, especialista de Nova York – que, aliás, também está no livro lançado pela médica, The Beauty of Dirty Skin” (A Beleza da Pele Suja, em tradução livre, ainda não lançado no Brasil), basicamente combinando alimentos de baixo índice glicêmico com outros, fermentados e ricos em bactérias. O objetivo é alterar a população de trilhões de micro-organismos gastrointestinais, acabando com as inflamações, inclusive as que afetam a pele.
Só que Fleming, viciada confessa em açúcar, relutava em desistir do iogurte adoçado artificialmente e do hábito de comer todo tipo de doce e bala, torcendo para que as partes da dieta que seguia, por períodos intermitentes, fossem suficientes. Até que finalmente ela se adequou.
Foto: Bigstock.
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“Desde então não tive mais nenhuma espinha. E toda hora me perguntam o que ando fazendo para a pele”, comemora.
Cuidar do microbioma está ligado a uma série de benefícios à saúde: de acordo com alguns estudos, pode ajudar a diminuir a incidência de câncer, AVCs e obesidade. Além disso, o cuidado com a pele, a categoria de beleza mais afetada pelas tendências de bem-estar, agora está concentrada no intestino, que se tornou o segredo para a compleição perfeita.
E aí vem uma onda de comprimidos e pós probióticos especiais – com embalagem estilosa, como nomes do tipo Glow e Inner Beauty – que sugerem poder fazer a maior parte do trabalho pesado do reparo interno por você.
Imagine que a The Beauty Chef, uma empresa australiana fundada por uma ex-editora de beleza, oferece sete produtos com probióticos que de vez em quando se esgotam em sites especializados. Este ano, a guru da maquiagem Bobbi Brown lançou “varinhas de condão” probióticas sabor limão em sua linha de bem-estar, a Evolution 18.
A esteticista Sonya Dakar vende um probiótico chamado simplesmente Acidophilus Flora. Rose-Marie Swift, maquiadora conhecida por deixar a pele das famosas radiante, inclusive Kate Bosworth, Gisele Bündchen e Miranda Kerr, recentemente lançou suplementos probióticos para sua marca de produtos de beleza, a RMS, inspirada em parte por seu fracasso relativo em fazer com que as modelos comam alimentos com culturas vivas.
“Tem tanta modelo linda por aí, mas todas com a pele péssima. Digo para elas que devem comer alimentos fermentados, mas não querem nem saber”, diz Swift que, por causa de uma doença que teve há tempos, vem promovendo os probióticos e os cosméticos mais seguros muito antes que fosse “tendência”.

Posso só engolir o suplemento?

Ômega 3, multivitamínicos, vitamina C e minerais são os suplementos alimentares mais buscados pelos brasileiros (Foto: Bigstock)
Ômega 3, multivitamínicos, vitamina C e minerais são os suplementos alimentares mais buscados pelos brasileiros (Foto: Bigstock)
Há alguns estudos menores que associam certas cepas de bactérias à redução da acne, hidratação da pele e sua elasticidade: por exemplo, o chamado lactobacillus casei subespécie casei 327 (ou L. K-1) parece fortalecer a barreira epidérmica e reduzir a escamosidade, de acordo com uma análise feita no Japão, em 2017. Já o lactobacillus rhamnosus SP1 está ligado à redução da acne adulta, como concluiu uma pesquisa de 2016.

Então por que você não pode simplesmente engolir essas variações em forma de comprimido e observá-las fazer efeito automaticamente?

Primeiro que ainda não está nem 100% definido que um aparelho digestivo forte em termos bacterianos seja o segredo da pele limpa. “Não conhecemos com precisão os mecanismos da relação entre o microbioma e a pele”, admite Justin Sonnenburg, professor associado de Microbiologia e Imunologia da Faculdade de Medicina de Stanford.
Segundo ele, porém, é verdade que o que ocorre no estômago/intestinos não se limita a esses órgãos, uma vez que são parte integral do sistema que é seu organismo. Seus micro-organismos gastrointestinais afetam o metabolismo, o sistema imunológico, o estresse. Basta mudar uma coisinha no microbioma – e a dieta é um dos fatores mais poderosos nesse caso – que os efeitos se multiplicarão de dentro para fora, literalmente, até chegar à pele.
Um problema com os probióticos atuais é que cada pessoa tem um microbioma diferente. Como se isso não bastasse, há também as variações individuais do sistema imunológico e o microbioma epidérmico (a comunidade de microcriaturas que vivem na pele), o que significa que um determinado probiótico vingar e fazer efeito é meio que uma loteria.
Um estudo menor de 2016, publicado no Cell Host & Microbe, descobriu que quando a substância é administrada oralmente, ela só funciona em aproximadamente 30% dos participantes. (a análise não monitorou os efeitos disso na saúde.)

O triunfo da dieta pouco glamourosa

Mesmo que a ciência acabe encontrando uma forte relação causal entre o microbioma e a pele perfeita, é pouco provável que os probióticos sejam uma solução rápida e unificada.
“Sozinha, a suplementação não vai se bastar. Se você tomar o probiótico e ele não tiver um lugar certo para se fixar e sobreviver, vai simplesmente passar pelo corpo”, explica Bowe, que recomenda o produto, mas só se for combinado com uma alimentação adequada.
Já Sonnenburg acha mais provável que as soluções para a pele acabem seguindo a rota da precisão. Assim, haveria uma classificação de dez, doze tipos, digamos, e a cada um seria receitado um probiótico diferente, com dosagens e misturas individuais, combinado com uma dieta específica para reforçar a composição da comunidade de bactérias residentes.
“Eu apostaria em uma combinação de probiótico e dieta, ou mesmo só dieta, para gerar um impacto mais forte na pele, mas já errei antes”, admite.

Até agora, a melhor maneira de melhorar a pele de dentro para fora parece ser através da boa e velha mudança de dieta, adotando os hábitos já relacionados com outros benefícios para a saúde, ou seja, alimentos integrais, pouca gordura saturada, pouco açúcar refinado. E é aqui que as atuais versões dos suplementos probióticos podem ser mais eficientes, funcionando como um tipo de “portal” para uma mudança nos hábitos alimentares.

“O pessoal vem me contar que começou a usar o meu produto e aí resolveu fazer mudanças na dieta porque percebem que a saúde melhorou”, conta Carla Oates, também conhecida como Beauty Chef, cuja empresa se inspirou em suas mudanças culinárias para curar suas próprias alergias e a eczema da filha.
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